FAHRENHEIT

"Fahrenheit" lota cinemas, mas tem impacto duvidoso

Paulo Cabral

WASHINGTON - O filme Fahrenheit 11 de Setembro está enchendo salas de cinema nos Estados Unidos, e o diretor Michael Moore - em evidência mais do que nunca - é alvo de elogios e ataques diários na mídia americana.

Mas, apesar de toda a divulgação em torno do filme (que chega ao Brasil em julho), ainda é incerto o impacto que ele vai ter nas eleições deste ano.

Analistas dizem que Fahrenheit 11 de Setembro é o tipo de filme que agrada a quem já não gosta de Bush, mas é visto como recheado de mentiras pelos partidários do presidente. E, entre os eleitores indecisos, a virulência dos ataques pode acabar tendo efeito contrário ao planejado.

"O filme é tão agressivamente ‘antiBush’ que pode atrair alguma solidariedade de eleitores menos politizados que assistam ao filme", disse o professor da escola de governo da Universidade Georgetown, em Washington, Stephen Wayne.

"Quando Bill Clinton era presidente, a popularidade dele subiu quando as críticas contra ele (por conta do caso Mônica Lewinsky) começaram a ficar muito agressivas e pessoais", compara o cientista político.

A reportagem da BBC Brasil conversou com americanos que estavam à porta de um cinema, em Washington, esperando para assistir ao filme Fahrenheit 11 de Setembro. Todos já estavam de acordo com a posição do diretor Michael Moore antes de entrarem no cinema.

"Nunca me passou pela cabeça votar em George Bush. Para ser honesto, acho que o filme vai reforçar uma opinião política que já tenho", disse o engenheiro Andy Mill.

Michael Moore já disse várias vezes que um dos seus objetivos com o filme, que ganhou a palma de Ouro no Festival de Cannes, é tirar George W. Bush do poder, mas o cineasta não dá apoio explícito ao único candidato com chances reais de bater o presidente. "Não estou apoiando o senador John Kerry. Eu sou um independente e não um membro do Partido Democrata", disse pouco antes da estréia americana do filme, em 25 de junho.

A analista do serviço nacional de Meteorologia, Jeniffer Lewis, diz que "adorou" o filme.

"Achei o filme muito verdadeiro. Muita gente estava procurando fatos, e este filme tem o que as pessoas precisam saber para verem este presidente de maneira diferente."

Lewis, que se classifica como uma "liberal bem de esquerda", espera que a exibição de Fahrenheit 11 de Setembro ajude a convencer alguns eleitores indecisos a não votarem no presidente Bush.

"O filme é muito bom e consegue conquistar as pessoas colocando com sensibilidade coisas bem-humoradas para tratar de assuntos sérios", elogia.

Mas os conservadores que viram o filme dizem que ele é recheado de mentiras e situações colocadas fora de contexto.

"Eu não gostei muito do filme porque muitas coisas que ele apresenta não são fatos. Os liberais vão assistir ao filme e vão achar que é tudo verdade", disse o estudante da Universidade Georgetown Christian De Luigi, que se classifica como conservador.

O estudante cita a afirmação feita pelo cineasta de que a guerra no Iraque não teve apoio internacional.

"Moore fala que fomos apoiados só por algumas ilhas do Pacífico (como Palau e Samoa), mas na verdade nações como a Grã-Bretanha, a Espanha, a Itália, o Japão e a Polônia apoiaram a ação no Iraque."

De Luigi diz, no entanto, que gostou de algumas das idéias do filme - como a crítica feita por Moore ao fato de a esmagadora maioria dos soldados no Iraque vir de famílias pobres -, mas considera desonesto classificar Fahrenheit 11 de Setembro de documentário.

"O filme mostra alguns problemas verdadeiros que têm de ser resolvidos, mas como um todo, Fahrenheit 11 de Setembro é uma peça de propaganda e não um documentário". (BBC/Paulo Cabral)

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