Francisco de Assis - Um belo musical

 

A THERESA CATHARINA

Ei, e-Companheiros,

FRANCISCO DE ASSIS – UM BELO MUSICAL

São Francisco é personagem de muito carisma cênico. Mas, ao contrário de Santa Joana D’Arc – reverenciada por grandes dramaturgos e cineastas – não tem tido o destaque que merece nas artes cênicas, a não ser, ao que me lembre, o belo filme de Franco Zeffirelli, “Irmão Sol, Irmã Lua

Contestador e pregador da nudez completa e, por isso, precursor dos  que se despem hoje facilmente, em sinal de protesto contra as injustiças do mundo globalizado, nos estádios esportivos e logradouros públicos da  Europa  e da Austrália, São Francisco é também, pelo seu caráter virtuoso e defensor da gente humilde, um dos santos mais amados pelo povo brasileiro, ao lado de São João e Santo Antônio.

Daí, o acerto de Ciro Barcelos – ex-coreógrafo da TV Globo – de criar um musical, de textura brasileira, porém calcada em “Hair”, que Milos Forman levou ao cinema, sobre a vida de São Francisco, que há sete anos percorre as principais cidades do país, já tendo sido visto por mais de oitocentas mil pessoas, que o aplaudem por diversas vezes em cena aberta, coisa que se vem tornando, infelizmente, rara entre nós.

Observe-se, contudo, que o elenco não é constituído por badalados atores globais, mas por gente jovem talentosa, que, além de sustentar a contento e boa dicção os diálogos, canta e dança de forma bastante apropriada, usando indumentárias, que, dada a criatividade do (a) figurinista, se constituem em um dos pontos altos do espetáculo.

Como espetáculo musical, “Francisco de Assis” se ressente, entretanto, da qualidade da música, que, embora fluente e de colorido brasileiro – até mesmo nordestino – poderia ser mais rica e de melhores atributos cênicos. Mas, como se há de convir, além de Chico Buarque de Holanda e Edu Lobo, ainda é difícil encontrar compositores de qualidade cênica no pais. Neste sentido, observe-se que uma das seqüências mais emocionantes do espetáculo é justamente a que tem, como comentário musical, trecho do  Stabat Mater, de Rossini.

Quanto ao texto, Ciro Barcelos, que também é seu criador - além de diretor, ator e coreógrafo - não teve como evitar o excesso de didatismo, que compromete principalmente o segundo ato. Também “Francisco de Assis” resvala para a pieguice, quando o narrador, em lágrimas, se dirige ao santo, ao final, reclamando-lhe compreensão, caso não tenha conseguido reproduzir, no espetáculo, com exatidão, a sua rica personalidade. Não precisava isso. Da mesma forma, não se compreende que a bela oração de São Francisco não seja, em nenhum momento, dita ou cantada por ele – representado por um excelente ator e cantor – mas, apenas pelo papa ao final do espetáculo. De qualquer forma, esses aspectos técnicos são irrelevantes diante das inegáveis qualidades do musical, que merece continuar sendo calorosamente aplaudido, por muito tempo, espero, pelo grande público brasileiro. Vale a pena vê-lo. E como vale!

REYNALDO DOMINGOS FERREIRA

e-mail: reydferreira@hotmail.com e rey@tecnolink.com.br

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