Novo livro de Reynaldo Domingos Ferreira: As Raparigas da Rua de Baixo (Memórias de Infância)

 

AS RAPARIGAS DA RUA DE BAIXO (Memórias de Infância)

 É este o título do meu novo livro a ser lançado pela iEditora, em maio próximo, na Bienal do Livro se São Paulo, em que narro, numa linguagem que procura ser ingênua, como a de uma criança, minha fase de infância transcorrida em duas cidades do Triângulo Mineiro -  Campo Florido e Uberaba -  ambas  fortemente marcadas pela cultura, religiosidade e tradições portuguesas. Talvez a citação de uma frase do escritor norte-americano, John Steinbeck (“À Leste do Eden”), feita no intróito, possa antecipar ao leitor a essência da narrativa: “Crescer é um processo difícil e doloroso”. O livro tem início com a chegada da minha família, a Campo Florido, após a instalação do município, ocorrida a 1o de janeiro de 1939, para meu pai, natural do lugar, assumir simples função burocrática na Coletoria Estadual, depois haver sido aprovado em concurso, realizado em Belo Horizonte. Passada a euforia da chegada, a criança, que eu era, começa a tomar contato com a vida primitiva do lugar, onde o índice de mortalidade infantil, se houvesse sido apurado, seria elevadíssimo, dada a falta de acesso a vacinas contra diversas doenças como a paralisia infantil, o crupe, o tifo,  o sarampo, a varicela, a catapora, a tuberculose, etc. O menino toma ciência então de outras tristes manifestações do Brasil rural em que vive sob o regime do Estado Novo, de Getúlio Vargas e assombrado pelas notícias da II Guerra Mundial, que tem por palco a Europa.

Toma conhecimento, por outro lado, de que a tumultuada história da família paterna, marcada por fatos polêmicos, envolvendo principalmente a figura de sua bisavó, nascida na senzala, se confunde com a própria história da fundação da cidade pelo Barão de Campo Formoso no decorrer do ano de 1875.  Compreende também que sua vida tem continuidade em outra cidade – Uberaba – onde ele nasceu e residem os familiares de sua mãe,  com  padrão de vida mais elevado, tendo acesso à energia elétrica, à geladeira, ao rádio, ao telefone, ao cinema, etc.

O contraste da vida entre as duas cidades então se impõe ao discernimento da criança, impedida, entretanto, de se esclarecer com adultos sobre determinados assuntos, como, por exemplo, em Campo Florido, o da movimentação das raparigas – chegadas e saídas das pensionistas dos dois prostíbulos da cidade - tema principal das conversas de sua mãe com amigas, temerosas de que alguma delas pudesse vir desestabilizar a mesmice de suas vidas domésticas. Motivados pela curiosidade e pelo precoce impulso natural do sexo, ele e um amigo decidem fazer incursão pelas águas do riacho, que corta a cidade, até chegar aos fundos de um dos bordéis a fim de presenciar, escondidos no meio da vegetação de uma das margens, o banho das prostitutas numa ensolarada manhã de verão. Em Uberaba, o menino descobre, pelo cinema, o gosto pela música erudita – a de Tchaikovsky -  mas sofre sérias reprimendas dos parentes de sua mãe, temerosos de que venha, no futuro, se tornar músico, como o avô, compositor e maestro da Banda União Uberabense, fundada em 1852, que ao morrer deixou a viúva, de vinte anos de idade,  na miséria, com quatro filhos para criar.  A narrativa avança na retratação da fase do pós-guerra e da transição democrática, depois da queda de Getúlio Vargas, mostrando os críticos reflexos desses acontecimentos sobre a vida familiar. Enfim, com esse livro, espero estar cumprindo minha obrigação para com a história, que é - bem ou mal -  o de registrá-la. REYNALDO DOMINGOS FERREIRA

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