O  AMERICANO  TRANQÜILO

 

Drama de amor, jornalismo e política, inspirado no romance homônimo do renomado escritor britânico Graham Greene, ambientado em Saigon, no outono de 1952, “ O americano tranqüilo” ( The quiet American – EUA/Alemanha, 2002 – de Phillip  Noyce - cor – 118 min. –scope- dolby), com Michael Caine (indicado ao Oscar 2003 de Melhor Ator), Brendan Fraser e a bela atriz Do Thi Hai Yen, registra os fatos que precederam a Guerra do Vietnã. Os franceses estão perdendo o conflito, vencidos pelas ações comunistas.

“Na guerra, a arma de maior poder é a sedução.”

Destaques: apresentação dos créditos iniciais; produção, direção, interpretação, fotografia; figurinos, maquiagem, penteados e adereços de Phuong; trilha sonora original - composta, com arranjos e orquestração de Craig Armstrong e a trilha sonora complementar (especialmente nos créditos finais – canção linda e triste!); o roteiro; as imagens finais, de reportagens sobre os conflitos no Vietnã; as informações rápidas sobre os principais acontecimentos posteriores, descrevendo o cenário internacional. E os temas que despertam reflexão, como – os princípios éticos do jornalismo; a atuação da CIA; os viciados em ópio, a prostituição agressiva, a corrupção; e a falsidade nos relacionamentos sociais e afetivos.

“ Até a opinião é uma forma de ação.”

Durante as lutas pela libertação de Saigon do domínio francês, na década de 50, um jornalista inglês veterano ( Caine) e  um americano que se apresenta como diplomata e médico idealista disputam o amor de uma jovem vietnamita, Phuong (nome que significa fênix). Funcionário de missão americana econômica e  humanitária, recém-chegado à área em conflito,  Alden Pyle (Fraser) testemunha o auge da guerra francesa na Indochina, logo se tornando amigo do correspondente do The London Times. Ele se apaixona  pela amante, há dois anos, do veterano jornalista britânico, Thomas Fowler. Este, vai enfrentar os seus limites, como ser humano e profissional de imprensa.

Pyle trabalha no Departamento de Assistência Médica. Seu objetivo é tratar os quem sofrem de tracoma. Seria, também, investigar o correspondente?

“ – Podemos discordar e continuar a ser amigos, não podemos, Thomas? “

Os dois homens enfrentam muitos perigos juntos, trocando confidências sobre seus sentimentos em relação a Phuong, que ambos desejam. Por que um deles foi salvo pelo outro? ( “ – Se eu morresse, você poderia ficar com Phuong.”)

O jornalista chega a aconselhar Pyle, num determinado momento, a deixar o Vietnã, levando Phuong, o mais rápido possível. Pyle fala sem rodeios: solteiro, ele pode se casar com a jovem vietnamita. E, assim, protegê-la. O americano compara a situação de Phuong com a do Vietnã. Daí ele querer salvá-la. De acordo com o que combinou com Fowler, o americano declara seu amor a Phuong, na frente do correspondente. Dizer ao jornalista que se apaixonou à primeira vista pela amante dele...foi sinceridade, lealdade, um jogo aberto que indicaria nobreza de coração, ou ele pretenderia desencadear uma situação de angústia e desespero...que poderia até levar a um ato extremo?

Marcos Rossi, do Correio Braziliense, escreveu:

“ A combinação entre o diretor australiano Phillip Noyce e um roteiro adaptado de livro com trama envolvendo a CIA (serviço secreto norte-americano) e atentados terroristas já rendeu dois filmes de ação que faturaram alto nas bilheterias, “ Jogos Patrióticos “ e  “ Perigo Real e Imediato “ – baseados em best-sellers de Tom Clancy e protagonizados por Harrison Ford, no papel do herói Jack Ryan, um agente do governo dos Estados Unidos.

Os mesmos elementos agora resultam em uma obra completamente diferente e de qualidade muito superior, como “ O Americano Tranqüilo” (...) Brilhante também é a atuação de Michael Caine como o repórter Thomas Fowler, que tem em Saigon um refúgio, escapando de um casamento infeliz e encontrando conforto nos braços da bela e delicada Phuong ( a vietnamita Do Thi Hai Yen). Esporadicamente escrevendo para o jornal “The London Times” e trabalhando burocraticamente em seu escritório, à margem do sangrento conflito entre vietnamitas e franceses, ele vê sua rotina transformar-se completamente quando é chamado de volta a Londres e tenta mostrar serviço para justificar sua permanência, ao mesmo tempo em que outra ameaça à sua felicidade surge na figura do americano Alden Pyle ( Brendan Fraser), que se apaixona por Phuong e oferece a ela uma estabilidade que Fowler não tem como proporcionar.

A partir daí, Fowler inadvertidamente começa a desvendar a ação orquestrada pela CIA para derrubar os comunistas e preparar terreno para os Estados Unidos atacarem o Vietnã. No processo, ele conhece os horrores da guerra e presencia a gradativa transformação de Saigon em um inferno onde carros-bombas explodem nas ruas sem distinguir homens, mulheres e crianças. (...)

O crescente desespero de Fowler, para quem perder a amada representa a morte em vida, dá a Caine a possibilidade de ser ora contido e introspectivo, ora colérico e angustiado, num exuberante desempenho  (...).

Uma das grandes qualidades do filme “ O Americano Tranqüilo” está em suas perguntas explícitas e às vezes sem respostas, nas circunstâncias que propiciam dupla interpretação, nos questionamentos silenciosos, nos enigmas aparentemente (ou verdadeiramente ) sem solução. As armadilhas das palavras. Os riscos da amizade. Os perigos da lealdade.

Não saber até que ponto o outro poderá ir... Quais são os limites – nossos e dos outros?

“ Os três formam um tempestuoso triângulo amoroso, que traz como conseqüência uma série de revelações assustadoras. Esta adaptação do livro de Graham Greene profetiza o catastrófico envolvimento americano na guerra do sudeste asiático.”

O repórter é casado e, bastante preocupado, revela  à amante que foi chamado a retornar a trabalhar em Londres, onde vive a sua esposa católica, determinada a não lhe conceder o divórcio:

“– Se eu pudesse, casaria com você.”

 (...) “O medo de perder Phuong  era maior do que o medo de um tiro.” (reconhece Fowler)

(...) “ Os mortos não estão envolvidos. Os mortos não têm paixão.” (idem)

Respondendo a uma pergunta direta de seu rival, sobre se ele teria tido muitas mulheres em sua vida, o jornalista confessa:

“ – Você começa sendo promíscuo. Depois, termina como seu avô, fiel a uma única mulher. Sei que eu não sou essencial a Phuong. Mas, se eu perdesse Phuong, seria o início de minha morte.”

Ação, violência, suspense do início ao fim. Inclusive, suspense emocional. Os ataques terroristas, as mortes brutais de civis, em pleno centro da cidade. O desespero dos inocentes: homens, mulheres e crianças assassinados sem chance de defesa. As terríveis mutilações.As tragédias irreparáveis, causadas por esses atos de agressão.

“ Brilhante interpretação de Michael Caine em ótima história sobre os antecedentes da Guerra do Vietnã.” (Marcos Rossi – Correio Braziliense)

Phuong  não esquece a amiga a quem o namorado prometera levá-la para a França. Ela chegou a ir ao aeroporto, mas ele desapareceu, deixando a moça sozinha, marcada pelos preconceitos da sociedade local e, por isso, sem poder aspirar a casamento com um homem vietnamita.

 (Pyle) “ – As pessoas mudam, Fowler.

- Ou as pessoas nunca são o que nós pensávamos que fossem. (retruca o veterano jornalista)

-  E quem é, Thomas, quem é? “

Lúcia Nagib, articulista da Folha de S.Paulo, gostou de “O Americano Tranqüilo“, afirmando que se trata de “fina percepção da arrogância americana “. A cineasta Suzana Amaral também apreciou o filme, destacando que é “politicamente atual”.

“Pyle falava vietnamita como se fosse a sua língua nativa.” (...)

Eu gostava dele. Era um amigo.Um americano tranqüilo.”

Tantas afirmações... Verdadeiras?  Ou falsas?

 Theresa Catharina de Góes Campos

Brasília, 9 de julho de 2003


Theresa Catharina: muitíssimo obrigada por ter me enviado esse material.Tomei a liberdade de repassá-lo para toda a lista de mala direta eletrônica do Cine Dois Candangos.

Um abraço!

Telma

(Telma Aguilar é empresária brasiliense e gerente do Cine Dois Candangos, da Universidade de Brasília.)