LÍNGUA   PORTUGUESA: QUESTÃO  DE   ÉTICA

* Theresa  Catharina de  G.  Campos

O  artigo  17  é o mais sucinto de nosso Código de Ética: "O jornalista deve preservar a língua e a cultura nacionais", mas nem por isso estaríamos justificados em subestimá-lo. A independência política e sócio-econômica têm fundamentos na independência cultural, cuja falta impede que as outras se concretizem ou perdurem.

Na realização de suas atividades, o uso correto, eficiente do idioma, instrumento básico, dotado de elementos de precisão e capaz de criatividade ilimitada, enriquece matérias de periódicos, produções radiofônicas, de vídeo e cinematográficas, textos os mais diversos. No cumprimento de sua responsabilidade de informar, os profissionais da comunicação buscam a clareza, a precisão, a objetividade.

Erros gramaticais prejudicam essas metas essenciais, sejam de ortografia, semântica ou concordância. Até a fonética deve ser aplicada eficazmente, para evitar a cacofonia, a ambigüidade, e à procura da beleza na escrita e nos sons.

Se houver  desleixo na escolha de substantivos, adjetivos,  verbos e advérbios,  o exercício do jornalismo poderá  atingir a honra de pessoas e organizações, prejudicando-as de várias maneiras, às vezes permanentemente. Os modos e tempos verbais influem na transmissão da informação. Os pronomes pessoais que escolhemos também!

A decisão sobre o vocabulário a se utilizar em chamadas, títulos e subtítulos, ainda que nas conhecidas circunstâncias de pressão que os jornalistas enfrentam em sua rotina de trabalho, requer um tempo de reflexão crítica. Visualizar  seus efeitos  demonstra conhecimentos do idioma e do público.

O perfil daqueles com quem pretendemos nos comunicar constitui um elemento primordial a se estudar, mesmo que nos recusemos a  nos moldar por eles, e nossa opção seja, de fato, elevar o seu nível, transformá-los, conscientizá-los.

A  língua portuguesa, considerada no contexto de outros idiomas, sobretudo diante da autêntica "invasão" de palavras e expressões inglesas, precisa ser defendida sempre que isso for possível.

 Lutar contra a realidade universal de termos técnico-científicos não é o que estamos aconselhando, pois não seria pragmático, nem inteligente. Defendemos nosso idioma como expressão de cidadania e nacionalidade, e não, como instrumento de xenofobia.

Visando à preservação da língua e da cultura nacionais, como o nosso Código de Ética ensina, precisamos nos empenhar para conhecê-las em todas as suas dimensões e possibilidades, aplicando-as, tornando-as presentes.

A sociedade espera isso de nós! Não devemos desapontar o nosso público.

*Membro da Comissão de Ética e Sindicância (Diretoria do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal).
Brasília, 24 de julho de 1995.