Correio Braziliense
Brasília, domingo,
04 de novembro de 2001  
 
Receitas de um pediatra

Dr. Márcio Lisbôa
dr.lisboa@bol.com.br

Cartas para o Dr. Márcio Lisbôa devem ser enviadas para Correio Braziliense - Redação - SIG Quadra 2, Lote 340, Brasília, DF.

CEP: 70.610-901.

Com apenas um assunto. É preciso mandar nome, endereço e telefone para contato.

A sociabilização da criança em casa

Socialização é o processo pelo qual as crianças aprendem os padrões, valores e comportamentos esperados para sua cultura ou sociedade.É uma das razões mais invocadas para colocar as crianças em creches ou escolinhas. ''Vou colocar meu filho na creche. Ele tem um aninho e é muito sozinho; precisa brincar com outras crianças.'' Entretanto, o processo de sociabilização começa em casa, servindo como modelo o comportamento dos pais.

Os bebês são seres sociáveis. Desde pequeninos gostam de atenção e carinho. Eles usam o choro por vários motivos, um deles para chamar a atenção quando se sentem sozinhos. Sendo atendidos, passam imediatamente do choro ao sorriso. Quando a mãe coloca o bebê na cama ou sai do quarto, o choro pode retornar. Sente a falta da ''mãe'', biológica ou substituta. O choro manifestando insatisfação, e o sorriso, alegria são
duas das mais precoces aquisições na sociabilização. O bebê reclama quando está sozinho, segue com o olhar as pessoas, reconhece a mãe, estranha os desconhecidos, chora no consultório médico, abre os braços para os pais, perde o medo dos estranhos, chama a atenção dos adultos puxando-lhes a roupa, tem ciúmes, busca segurança junto aos pais e familiares, joga beijos, diz adeus, brinca de esconde-esconde, corresponde aos abraços e beijos, começa a compreender e a obedecer ordens negativas e positivas. E ainda existem pessoas que acham que a sociabilização começa fora de casa!

Atenção, segurança, amor, carinho, disciplina, limites, responsabilidades, auto-estima, são fatores que têm uma grande influência no processo de sociabilização. Por isso, é importante que as crianças desfrutem no lar, do contato com os pais e com os familiares, antes de se pensar em institucionalizá-las. Essa convivência nos primeiros anos de vida, além de estreitar as ligações afetivas, vai contribuir para a formação dos alicerces da personalidade, responsável pela conduta futura das pessoas. A observação do comportamento dos pais leva à imitação, que constitui um dos meios mais importantes de sociabilização. O processo de sociabilização é intensificado quando a criança começa a engatinhar, a andar e a falar; engatinhando e depois andando, começa a explorar o ambiente. Os pais devem aproveitar essa oportunidade para participar das atividades da criança, estimulá-la a andar, passear, conversar, brincar. A criança demonstra grande alegria ao perceber que pode se deslocar de um local para outro sozinha, interagir e se comunicar com as pessoas. Boa parte da sociabilização da criança gira em torno da linguagem. Ela vai permitir uma maior interação com os pais, familiares, outras crianças e pessoas, principalmente por meio dos brinquedos. A linguagem contribui bastante para o
desenvolvimento emocional e moral. Permite que os pais transmitam-lhe as noções do que é certo ou errado, crenças, valores, como amizade, bondade, honestidade, verdade, persistência; aprovação e alegria, nas vitórias; apoio, nos momentos difíceis. Observando-os, ouvindo-os e entendendo-os, as crianças tendem a imitá-los, a considerá-los como modelos, como guias, como donos do saber e da verdade. A linguagem, de início egocêntrica, passa a ser comunicativa ou socializada. O mesmo ocorre com o pensamento, que permitirá que ela compreenda o ponto de vista dos outros. Do brincar solitário e independente, buscará companhias.

A sociabilização começa em casa, e não existem mestres melhores do que os pais e os familiares; ninguém melhor que a mãe para ensinar o que é amor, amizade, bondade, consideração, desprendimento; ninguém melhor que ambos para sociabilizá-los com aceitação, carinho, compreensão, autoridade; ensinando-lhes a ter disciplina, a respeitar seus limites; punindo-os ou recompensando-os; sempre contribuindo para o aumento da sua auto-estima.

© Copyright CorreioWeb Fale com a gente Publicidade