ESCREVER    PARA   REVISTAS   ACADÊMICAS
REVISTAS  ACADÊMICAS :  UMA  OPORTUNIDADE  PARA  INTERCÂMBIO

O convite para se colaborar com revistas acadêmicas não deveria ser recusado; na verdade, eu aconselharia que os profissionais tivessem um interesse permanente em oferecer a sua contribuição de idéias e experiências, fazendo um registro em periódicos e, com essa atitude, demonstrando aproveitar uma oportunidade para intercâmbio. Acredito que, na maioria das vezes, os artigos não se concretizam porque a falta de tempo seria uma desculpa aceitável, contudo, é preciso vencer tal obstáculo quase onipresente para conceder prioridade ao ato de escrever um artigo para a comunidade universitária e a sociedade em geral ( nesta se incluindo especialidades e  leigos no âmbito do país e de outras nações).

Outra razão para não se registrar nossas reflexões e descobertas - e até nossas dúvidas - seria a ausência de um sentimento de segurança quanto à redação de matérias destinadas a periódicos. Apresentarei aqui algumas sugestões, procurando partilhar o que venho aprendendo em minha prática profissional de mais de três décadas como jornalista, professora universitária na área de comunicação e tradutora- intérprete, atividades que demandam a elaboração de textos os mais diversos, muitos escritos sob as pressões de tempo, exigências de vontade alheia e circunstâncias em si mesmas estressantes. Todavia, o contexto não-propício à criação literária é um obstáculo a ser superado com determinação e competência.

O compromisso de escrever

O primeiro passo: tomar a decisão de colocar os seus pensamentos à disposição dos outros; em seguida, definir o seu público, para que suas palavras atinjam o alvo escolhido. Depois, escolher o formato de sua mensagem (artigo, crônica, relatório de pesquisa, entrevista, reportagem...) e fazer uma previsão do espaço necessário ( a extensão do que vai registrar), pois isso auxiliará na organização de seu texto.

O conteúdo  a ser divulgado deverá constituir a atração principal de seu artigo, a inspiração  que levou à opção favorável para redigir e publicar, portanto, o assunto fundamental precisa estar presente, visível à mente do leitor porque tem objetividade e clareza. Mas o leitor também precisa estar presente...e uma forma de atraí-lo é um título que chame sua atenção, muitas vezes indicando o tema primordial da matéria; contudo, se o autor preferir, a redação do título poderá refletir pontos secundários; afirmações ou questionamentos também fazem bons títulos, assim como refutações, discussões e réplicas contundentes.

Como  nascem os títulos atraentes?

As origens variam: conforme a mente do autor; os interesses manifestados pelo público e/ou os editores; dependendo do texto. A decisão ocasionalmente demora, entretanto, vale a pena considerar o título como a porta de entrada que, além de não poder estar fechada, também seria um convite atraente, irrecusável, ao intercâmbio por meio da leitura.

Quanto ao momento especial do nascimento de um título de qualidade, também apresenta variações, todas aceitáveis; antes do artigo ser escrito, durante o seu desenvolvimento, na conclusão...ou por decisão do editor.  O importante é compreender que não se mede o seu valor pelo espaço reduzido que ocupa. Sua importância está na mensagem que transmite (seja de impacto, humor, segurança, tranqüilidade, revelação, denúncia ou questionamento).

O desafio do primeiro parágrafo

Passemos, agora, ao primeiro parágrafo - tão decisivo quanto o último! Iniciar o intercâmbio com o leitor significa levá-lo a nos ouvir com muita atenção, num posicionamento de interesse capaz de conduzi-lo durante os próximos parágrafos... que preparam uma conclusão especial, uma mensagem para ser lembrada, a resumir o resultado das reflexões do articulista. Tanto é válido partir das idéias do título como iniciar de forma remota, a escrever sobre antecedentes ou descrever o contexto, situando o leitor, oferecendo-lhe condições para melhor acompanhar/compreender os pensamentos apresentados.

Nunca é demais lembrar, porém, que nem sempre as primeiras linhas de um texto são redigidas no início de um trabalho - assim, o primeiro parágrafo poderá surgir apenas no final, quando a conclusão já estiver pronta...ou à medida em que o autor for escrevendo. A ordem da elaboração não importa, desde que o primeiro parágrafo venha  cumprir o seu papel fundamental. Deve ser interessante, para que o leitor não decida interromper ali mesmo, precocemente, a leitura; contudo, também seria eficiente como início de caminhada intelectual, abrindo caminho na floresta vocabular, guiando a leitura, num estilo lento, profundo, ou com rapidez de ação ou ritmo de suspense.

Desenvolvimento seguro, coerente

Entre o início e o fim de uma contribuição para revista acadêmica, torna-se essencial demonstrar que o conteúdo está relacionado ao título e ao primeiro parágrafo, considerando-se a necessidade de apresentar o que foi prometido de início. A não ser que a proposta do autor seja um exercício literário intencionalmente ambíguo, surrealista ou uma brincadeira intelectual com jogo de palavras. Assim, em termos técnico-científicos, é necessário demonstrar segurança, eficiência, objetividade e clareza, por meio de idéias que possam vir a ser analisadas, debatidas, proporcionando  um fértil intercâmbio.

Uma técnica de redação que pode ajudar no desenvolvimento do texto, propiciando destaques  especiais: subtítulos - longos ou não (até uma palavra ou expressão já ajuda...).

O conteúdo, não apenas do artigo como um todo, como também  de suas partes, não deverá simplesmente se estender, sem incluir informações ou pensamentos criativos; o que for repetitivo terá de mostrar por que ali foi incluído. Seria ideal reunir conhecimentos a transmitir da melhor forma possível, procurando trazer elementos para discussões  profícuas. Caberá ao  autor decidir se a mensagem trata de um campo restrito, delimitado ou está num contexto abrangente, compreensivo.

Conclusão: encerra  ou  inicia  o  debate?

A elaboração de textos demanda um fecho, uma conclusão para organizar o que foi dito, mas isso não significa, necessariamente, que o assunto ficou encerrado em definitivo. Afinal, o que se faz é finalizar temporariamente uma determinada contribuição intelectual, considerando-se o terreno acadêmico uma área dinâmica e seminal, continuamente acolhedora e produtora de informações, em alerta permanente para melhor entender o passado, viver  as demandas  do presente e os desafios do futuro.

O  artigo poderá ter, com muita razão, um questionamento final que ainda persiste, mesmo após inúmeras análises e conclusões temporárias, como a exigir  estudos e textos posteriores.

Regras  ou  sugestões?

Este meu esforço para auxiliar aqueles articulistas em potencial, um tanto desencorajados por supostas dificuldades na redação de textos para revistas acadêmicas ou técnico-científicas, talvez porque sentem o peso da responsabilidade, deve ser compreendido como um conjunto de sugestões amigas, jamais como regras ou formatos rígidos. Aos autores das matérias deve caber a liberdade de escolher como expressar suas experiências e idéias, caminhando por um estilo próprio, pessoal, e assim contribuindo de acordo com a riqueza de sua individualidade.

Theresa Catharina de Góes Campos
                Profa. do Dept. de Estudos de Formação
                  e  Jornalista Responsável  - Revista da AEUDF
(Assoc. de Ensino Unificado do Distrito Federal)
                 - dez./95