O jornalismo e o bem comum

Brasília, domingo,

11 de novembro de 2001

Imprensa

Aurélio Galvão

De todas as lições que aprendi durante o curso de jornalismo na Faculdade de Comunicação da UnB, uma das mais importantes fala da ética jornalística e dos direitos humanos, o que agradeço, em especial, ao professor e jornalista Carlos Chagas.

Falar de ética jornalística no contexto brasileiro é, em primeiro lugar, relembrar que o código atualmente vigente foi elaborado pelo Congresso Nacional de Jornalistas, reunidos no Rio de Janeiro em 1985, e posteriormente modificado por outro congresso no ano seguinte.   Mas por que falar de ética? No meu entender, falar de ética é importante porque a principal matéria-prima do jornalismo, a notícia, lida diretamente com os interesses de grupos organizados da sociedade. Toda e qualquer notícia vai promover o interesse de um grupo da sociedade em detrimento do interesse de outro, por mais que ela seja isenta e se paute pela objetividade e pela busca da verdade, que são fundamentais. A questão é que grupo promover.

Mas essa questão está resolvida, ao menos teoricamente. O congresso dos jornalistas abraçou a causa da ética e afirmou, por meio do código, que o grupo a ser beneficiado quando da produção de notícias e reportagens tem de ser sempre o conjunto da sociedade.

E como se faz isso na prática? Em primeiro lugar, defendendo arduamente o direito da sociedade à informação. Defender esse direito é combater todas as formas de censura.

Aqui no Distrito Federal, por exemplo, aconteceu recentemente de uma jornalista do principal diário impresso da cidade ser impedida por assessores diretos do governador de fazer a cobertura do lançamento da nova campanha do Procon local. Ora, mais do que impedir à jornalista o acesso a essa informação, essa atitude estaria impedindo o acesso dessa
informação a milhares de leitores do referido diário.

Você já se viu em uma situação tal, desesperada, de ter um problema e não saber a quem recorrer ou que atitude tomar, por absoluta falta de informação? Pois é, na sociedade atual, um dos principais instrumentos para acabar com essa ignorância é a mídia, junto com as escolas e as igrejas.

Os meios de comunicação têm esse papel de prestação de serviços, esse papel de prover o bem que é a informação. Mas o código de ética dos jornalistas tem isso apenas como o começo. Tão importante quanto lutar pela integridade da informação é defender os direitos humanos.

Depõem muito favoravelmente, então, a favor da profissão de jornalista, as reportagens e séries de reportagens cuja temática fala, por exemplo, da promoção dos direitos da criança (apoiados pela Andi), da proteção aos refugiados (tão bem retratados por Sebastião Salgado), expatriados e asilados políticos, ou ainda de medidas contrárias ao trabalho escravo.

É dever de todo jornalista conhecer bem a Declaração Universal dos Direitos do Homem. Assim como é seu dever, assumido no ato da diplomação, de promover a cultura brasileira e a língua portuguesa em solo brasileiro. Valorizar a cultura local é plantar uma semente pela valorização dos homens que a produzem.

Assim como o é a defesa da língua portuguesa. Nós, jornalistas, temos o chamado a dominar a língua, que é instrumento essencial de trabalho. E nós desenvolvemos a habilidade de pensar com mais clareza lendo os clássicos da literatura, os manuais de redação, as gramáticas, os dicionários e, melhor, a combinação de todos eles.

Para concluir, deixo o meu recado, que tiro de grandes homens como Jesus Cristo: a partir de agora, só faça aos outros o bem que você gosta que façam a você. Então apóie todas as iniciativas de combater a censura e a autocensura. Ou melhor, seja você também um catalisador dessas transformações. Quem tem a ganhar somos todos nós e as próximas gerações.

Aurélio Galvão, jornalista que usa seu site (www.aureliogalvao.hpg.com.br), para discutir relações entre sociedade e mídia.

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