A CASA DO RELÓGIO DE SOL - prefácio para Cândida
Severiana
Pelas mãos de fada da autora, os leitores têm o privilégio de viajar –
no tempo e no espaço – literalmente, com emoção e sensibilidade.
Encontram seus personagens multidimensionais, autênticos e de grande
personalidade – tanto a narradora como eles não se perdem na multidão ou
agem como carneirinhos liderados cegamente (destacam-se, deixam a sua
marca individual, independente, na esfera em que atuam) – e com eles
experimentam os lugares e a sua cultura própria, vistos de uma
perspectiva mais profunda: uma visão espiritual, enriquecida pelos laços
afetivos, duradouros.
Nestas páginas escritas com sinceridade em uma linguagem de prosa que
soa como poesia, a realidade não se mostra limitada, mas de acordo com a
sua riqueza de tempo e de espaço; e vemos que não se pode chamar de
irreal, absurdo e fantasioso aquilo que, na verdade, é simplesmente mais
profundo, complexo e se desenrola no meio ambiente do espírito, que não
conhece barreiras materiais ou fronteiras, sejam estas de países ou
épocas. Se não somos os senhores da vida e da morte, apenas instrumentos
ou marionetes nos termos do plano especial de nosso Criador, por que
estabelecer limites rígidos até mesmo à nossa imaginação?
Que estas páginas sejam folheadas com carinho e lidas com gratidão –
pois muitos sentem e se acovardam, desistindo de registrar publicamente
a riqueza de sua sensibilidade e expressão. Esta narrativa atrai pela
sua originalidade nas descrições e pela ausência de uma estrutura formal
de enredo; os adjetivos não foram escolhidos por acaso e sim, com a
preocupação semântica do artista no sentido de que realmente expressem
plástica e graficamente a percepção intelectual da autora, ao contar
suas experiências como ser humano que, eventualmente, assume o papel de
turista e hóspede.
Além de contribuir para o nosso enriquecimento espiritual, através de
exercício intelectual que nos convida à reflexão, Cândida Severiana
também se une aos que, conscientes e responsáveis, não aceitam a guerra
ou quaisquer conflitos armados.
A Casa do Relógio de Sol se deixa visitar pelos leitores e se revela
pela simpatia de seus habitantes tanto quanto pelo que oferece com
habitação; e Cândida Severiana deixou registrado que se trata de moradia
que respira, vibra e adormece, com uma existência tão VIVA como a de
seus moradores.
Comecemos a leitura. Podem entrar. A casa é sua...
THERESA CATHARINA DE GÓES CAMPOS
Brasília, 31 de julho de 1987.
(Prefácio do livro “A Casa do Relógio de Sol”, de Cândida Severiana)
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