É, DEUS EXISTE MESMO

Correio Braziliense

 

Brasília, terça-feira,

25 de dezembro de 2001  

É, Deus existe mesmo!

Ugo Braga

ugobraga@uol.com.br

Tenho vindo aqui, embaixo da charge, para falar de economia. Às vezes misturo um pouquinho com política. Mas hoje, não. É Natal. Não dá para oferecer a você, leitor amado, nenhuma iguaria desse cardápio. É verdade que a Argentina bem merece um comentário. Mas temos boas reportagens a respeito algumas páginas à frente. Peço licença, então, para falar-lhe de um Natal diferente.

Esse ao qual passo a me referir não está marcado no calendário, a cada 25 de dezembro. Aconteceu comigo algumas semanas atrás. Peço desculpa pela imprecisão. Tinha chegado em casa cansadíssimo. O dia fora terrível. Obtive algumas informações que me deixaram perplexo - depois elas chegaram às páginas do Correio, com a prisão de um médico pedófilo no Hospital de Base. Naquele dia, entretanto, produzi pouco e mal.

Ofereço-lhe uma informação relevante para o contexto. Minha mulher está grávida. Esperamos o neném para abril próximo. Desde que soube da notícia, cinco meses atrás, pergunto-me a cada instante que espécie de mundo é esse que entregaremos aos nossos. Senti temor semelhante no nascimento da minha primeira filha, Carolina, nove anos atrás. Foi com esse espírito que, naquele dia, chegando em casa depois de um dia estafante, assisti ao noticiário da noite repleto de cenas de guerra.

Como faço habitualmente, antes de dormir fui passear pela Internet. Liguei o computador e pus para tocar um CD de música clássica que não ouvia há anos. A primeira faixa contém os quatro primeiros movimentos da Primavera, parte da sinfonia As Quatro Estações, de Antonio Vivaldi. A melodia é bem conhecida. Fez parte da trilha sonora de um antigo comercial de sabonete.

A música de Vivaldi, lá pelos quatro minutos de execução, pára por um fragmento especial de tempo. Acho que não chega a um segundo. O ambiente é tomado de silêncio. Depois renasce, pouco mais suave que antes, mas infinitamente mais bela. Pouco mais baixa que antes, mas infinitamente mais tocante. Cheia de esperança.

Ao ouvi-la, senti a presença de Deus. Poderosa e terna. Logo eu, que não sou muito preocupado com religião. Surpreendi-me, confesso. Mas naquele instante minhas dúvidas e medos evaporaram. A simples idéia de que Deus existe me deu tranqüilidade. Para mim, ali Deus nasceu. Foi o meu Natal particular. Mas não menos festivo, não menos alegre e cheio de boas expectativas quanto ao futuro. Como convém a qualquer Natal.

Pode vir feliz, meu filho. Se Deus vive neste mundo, você também o merece.

Feliz Natal a todos. Um 2002 cheio de sucesso e paz.

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