É Natal: nasceu Jesus!

Correio Braziliense

 

Brasília, terça-feira,

25 de dezembro de 2001

É Natal: nasceu Jesus!

Este Natal de 2001 poderá ser diferente para todos nós se cada um souber assumir - à luz de Jesus - o sentido último da vida humana, o compromisso de anunciar a solidariedade, o amor, a paz

Dom Raymundo Damasceno Assis

''Eu vos anuncio uma grande alegria, que será também a de todo o povo: hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós o Salvador, que é o Cristo Senhor! E isso vos servirá de sinal: encontrareis um recém-nascido, envolto em faixas e deitado numa manjedoura''. De repente, juntou-se ao anjo uma multidão do exército celeste cantando a Deus: ''Glória a Deus no mais alto dos céus, e na Terra paz aos que são de seu agrado'' (Lc 2, 10-14).

Essa é a grande notícia que todos os jornais de todos os continentes deveriam estampar na primeira página da edição de hoje. Não que os jornais devam ater-se a fatos passados e narrar, por exemplo, o que ocorreu há mais de dois mil anos, mas sim porque o Natal é muito mais que um evento histórico: é acontecimento único na história, é a entrada de Deus feito carne na vida dos homens.

São as pessoas puras de coração e as de olhar simples aquelas que são capazes de compreender e acolher esta verdade: o Verbo se fez carne, filho verdadeiro de mulher, a Virgem Maria. Em tudo, ele é homem como nós, exceto no pecado (Hb 4,15).

Com a entrada de Jesus em nossa realidade inaugurou-se o Reino de Deus, cujos sinais da presença em nosso meio são a doutrina que ''ensinava como quem tem autoridade'' (Mt 7, 29) e seus milagres, pois, pela ação de Jesus, ''cegos recuperam a vista, paralíticos andam, leprosos são curados, surdos ouvem, mortos ressuscitam e aos pobres se anuncia a Boa Nova'' (Mt 11, 5). A realização do Reino está em expansão à medida que a Igreja e cada um anunciam os valores evangélicos e humanos de solidariedade, fraternidade,
justiça, perdão, amor, e deles dão testemunho, procurando fazer deste mundo sinal e antecipação do ''novo Céu e da nova Terra'', da ''terra sem males'' conforme o mito dos guaranis apapocuvas.

Jesus veio ao mundo para restaurar, completamente, a obra do Pai na criação, obra que foi estragada pela infidelidade de nossos primeiros pais. Ele veio restabelecer o plano primitivo do Criador, relativamente ao homem e à natureza. À luz do Verbo, o Filho de Deus que se fez carne e habitou entre nós, o mistério do homem encontra sua verdadeira compreensão e, nele, Deus encarnado, todos nós, homens e mulheres, recebemos a vocação de nos tornar filhos de Deus e irmãos uns dos outros.

Transcorridos dois mil anos do nascimento de Jesus, contemplando a realidade que nos cerca, marcada por todo tipo de violência, sobretudo a urbana, e, entre tantas hostilidades, a guerra na Ásia Central e o conflito árabe-israelense, que ocorre na ''Terra Santa, lugar bendito e sagrado do encontro de Deus com os homens, lugar da vida, morte e ressurreição de Jesus, o Príncipe da Paz'' (João Paulo II, Mensagem para o Dia Mundial da Paz, 2002, nº 1), podemos ser levados ao pessimismo ou à passividade. Poderíamos talvez chegar a esse estado de espírito negativo, concluindo erroneamente que o nascimento de Jesus não trouxe progresso algum à humanidade e que a alegre notícia do mensageiro celeste, na noite de Natal, foi apenas um sonho. No entanto, para quem crê sinceramente, as cicatrizes do nosso tempo constituem desafios que precisam ser superados por aqueles que são verdadeiramente homens do agrado de Deus, os de boa vontade, os construtores da paz, aqueles a quem Jesus se refere quando proclama: ''Felizes os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus.'' (Mt 5, 9).

Certamente, temos ainda uma longa jornada a percorrer até que toda a humanidade encontre o Caminho que conduz à paz, cujas colunas, segundo as palavras de João Paulo II, ''são a justiça e o perdão, forma particular de amor''. Embora o caminho seja longo e penoso, não podemos permitir que morra a esperança, virtude cristã plantada por Deus no coração humano, a qual nos faz corajosos construtores do bem, malgrado todas as agruras presentes no mundo.

Hoje é Natal, festa do amor, da esperança, da presença de Deus no meio de nós. A convicção cristã na vitória final do bem sobre o mal faz-nos refletir: este Natal de 2001 poderá ser diferente para todos nós, se cada um souber, se soubermos todos assumir - à luz de Jesus - o sentido último da vida humana, o compromisso de anunciar a solidariedade, o amor, a paz. Feliz Natal! Feliz Ano Novo!

Dom Raymundo Damasceno Assis, bispo auxiliar de Brasília, é secretário-geral da CNBB

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