PRAZER E FELICIDADE

Jornal Comunidade

Brasília, 6 de janeiro de 2002

Prazer e felicidade (Alencar Moreira)

Existe diferença entre um e outro? Ou são sinônimos?

Você sabe a diferença entre prazer e felicidade? Algumas pessoas usam ambas as palavras como se fossem sinônimos e, na realidade, elas têm significados bastante diferentes.  Prazer tem a ver com o curto prazo, com imediatismo. E felicidade tem a ver com o longo prazo, com algo mais duradouro.

Nossa cultura atual costuma dar muita ênfase ao prazer.  O seu culto é, inclusive, usado, muitas vezes, na área da propaganda: “ Carlton, um raro prazer!”.  Em dias de fim de ano, dá-se vazão ao prazer de comprar e os anúncios comerciais disso se aproveitam.

Mas, como se pode intuir,  o prazer pode não levar à felicidade.  Se não, vejamos: fumar, se para alguns possa ser um “raro prazer”, com certeza não leva à felicidade.  Pelo contrário, produz, como conseqüência, enfizema pulmonar, câncer e morte.  O compra-compra desnecessário e compulsivo (mas, no entanto, prazeroso) normalmente não nos leva à felicidade mas, sim, a um bolso vazio e, às vezes, a endividamento.

Beber além do razoável dá prazer? Dá. Gera felicidade? Não. Usar drogas dá prazer? Dá. Leva à felicidade? Evidentemente que não.  Economizar é prazeroso? Não. Proporciona felicidade? Na maioria das vezes, sim.  Estudar com muito empenho dá prazer?  Não.  Conduz à felicidade? Sim.  Transar fora de uma relação estável dá prazer? Dá. Leva à felicidade? Normalmente não.

Fica, assim, bastante  claro que, para conseguirmos lá  na frente a tão almejada felicidade, teremos que, muitas vezes, nos privarmos hoje de fazermos algo prazeroso.  Parece e é simples, mas contraria totalmente a atual filosofia de vida de busca do prazer de curto prazo.  E tudo isso é, inclusive, comprovado através de pesquisas.  E aqui narro uma, de origem americana, extremamente interessante; nos meios científicos ficou conhecida como a “Pesquisa do marshmellow”.

Separaram aleatoriamente crianças de ambos os sexos, com idade de quatro anos.  A cada uma delas era presenteada uma pelota de marshmellow e lhes era dito o seguinte:  “Esse marshmellow é seu.  Você pode comê-lo assim que quiser.  No entanto, se você esperar um certo tempo (não era dito à criança que seriam cinco minutos), receberá uma segunda pelota de marshmellow”.

As crianças eram colocadas individualmente em uma sala equipada com um espelho de observação “one-way”.  A criança ficava sentada em uma cadeira e, diante dela, em cima de uma mesa, desafiando seus desejos, a pelota de marshmellow.  Algumas crianças não resistiam, desistiam da possibilidade do segundo marshmellow, pegavam a pelota que estava em frente e comiam.  Outras, não.  Olhavam para o marshmellow, desviavam o olhar para o teto; visivelmente buscavam uma estratégia para superar o desafio.  Passados cinco minutos, interrompia-se o processo e a criança ganhava, além do primeiro, também o segundo marshmellow.

Em continuidade à pesquisa, os estudiosos acompanharam essas crianças ao longo de 20 anos.  E constataram algo extremamente interessante: aquelas pessoas que aos quatro anos de idade haviam tido a paciência (e sabedoria) de esperar pelo segundo marshmellow sentiam-se muito mais felizes e bem sucedidas em suas vidas do que aquelas que haviam atendido ao impulso de comer o primeiro marshmellow.  Fica muito clara a lição: vale a pena fazer algum sacrifício em busca de algo melhor.  Parece evidente ter sido essa a postura de vida daquelas pessoas que não comeram logo o primeiro marshmellow. Um marshmellow é o prazer. Dois marshmellows, a felicidade.

ALENCAR MOREIRA é psicólogo, psicoterapeuta e terapeuta sexual. É  delegado, em Brasília, da Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana.  Atua em consultório particular antendendo a jovens, adultos, casais e famílias.  Trabalha também com disfunções sexuais.  Telefones: 3039-7069 e 9987-7069.