"Se você fosse presidente, o que faria para resolver o problema da segurança no país?"

Correio Braziliense

Brasília, domingo,

27 de janeiro de 2002

Receitas de um pediatra

''Se você fosse presidente, o que faria para resolver o problema da segurança no país?''

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Dr. Márcio Lisbôa

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A revista Época de 5 de setembro de 2001 fez essa pergunta, recebendo as seguintes respostas: Ana Fernandes (RJ): ''Unificaria as polícias Militar e Civil. O que os policiais precisam é ser mais bem preparados para a profissão''. Jose de Alencar (MA): ''Construiria muitas penitenciárias''. Ana Cláudia de Vasconcelos (MG): ''Daria condições de trabalho ao povo. Se ele tiver comida, não vai roubar nem matar. A maioria é levada ao crime pela revolta de viver na pobreza''. João Carlos de Andrade (PA): ''A polícia deve ser valorizada com salários justos e equipamentos eficientes''. Gutenberg B. de Castro (EUA): ''Faria uma faxina generalizada, retirando dos cargos públicos os corruptos. Vivo em Nova York e tenho medo de voltar para casa. O país vive sem segurança nenhuma''. Todas as respostas denotam preocupação com o combate à violência, e nenhum deles falam da prevenção. O famoso jornalista Boris Casoy certamente responderia que acabaria com o narcotráfico. O Datena, do Cidade Alerta, faria referência à impunidade. Os militares desarmariam a população e combateriam o contrabando de armas. Os economistas tenderiam a trabalhar pelo fim das desigualdades sociais e da miséria. Os médicos erradicariam a desnutrição. Os professores lutariam pelo fim do analfabetismo e priorizariam a educação. Os psicólogos trabalhariam pela saúde mental. Os pediatras tratariam da saúde e do bem-estar das crianças. Os assistentes sociais lutariam pelo fim dos maus-tratos e pelo aumento da renda familiar. Os maltusianos fariam o controle da natalidade. E assim por diante... Sem dúvida, todos esses fatores são importantes no combate à violência e não podem ser negligenciados. Poucos responderiam que sua principal preocupação seria a criança, a formação do futuro cidadão.

Boa parte da população acredita piamente que a pobreza e a miséria, a falta de oportunidades ou de emprego são as maiores causas da criminalidade. Em entrevista à revista VEJA de 17 de novembro de 1999, o americano James Wygand, especialista em segurança, radicado no Brasil há 34 anos, diz: ''Pode ser que existam criminosos por necessidade, mas esses são ladrões de pequenos crimes, que roubam para sobreviver. A maioria dos bandidos escolhe essa vida porque é um bom negócio em que se ganha mais do que sendo honesto''. Isso tanto é verdade que os criminosos estão se organizando em verdadeiras empresas, algumas até se especializando em assaltos a residências, carros, navios, aviões, carros blindados, caixas eletrônicos, postos de gasolina, seqüestros, seqüestros-relâmpagos, venda de armas, contrabando, tráfico de drogas (os mais competentes e organizados), corrupção de todos os tipos, tráfico de mulheres e de crianças. Como vêem, achar que essas pessoas roubam e matam por estarem com fome, passando privações, para sobreviver, é uma piada. Os pequenos roubos, como os de alimentos, além de merecerem o nosso perdão, devem nos despertar a vergonha de ainda existirem em nosso país. Não confundir esse tipo de roubo para a sobrevivência com aqueles realizados por corruptos e ladrões, que se enriquecem à custa de verbas, alimentos, cestas básicas, destinadas às crianças ou à população carente.

Diz de uma forma mais dura Hélio Teixeira: ''Mas o que causa espécie é o fato de tentarem resolver o problema atacando os efeitos, quando o mais acertado seria erradicar as causas''. E continua: ''Tudo que se fizer em não visando restabelecer os verdadeiros valores, cujo berço encontra-se nas famílias bem-estruturadas e no reencontro urgente com Deus, será mero jogo promocional e politicagem da pior espécie''.   Embora minha proposta não seja de fácil execução, é exeqüível a longo prazo, e, sem dúvida, mais eficiente do que tudo que vem sendo feito no sentido de diminuir a violência, principalmente se se contar com a participação da comunidade pois, como diz o provérbio chinês, ''Muitas pequenas coisas feitas em muitos pequenos lugares por muitas pessoas miúdas podem mudar a face do mundo''. E por que não da violência?

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