Palestra, Maestro Entrevista Se alguém pensa que é no mínimo inusitada a presença de uma orquestra em um evento organizacional, engana-se. Os músicos da Orquestra Sinfonia Empresarial, regidos pelo maestro Walter Lourenção, provam que música e assuntos organizacionais, podem sim, andar em completa harmonia e têm muito a ensinar um ao outro. Confira a entrevista exclusiva do maestro, concedida ao Informativo ABRH-DF durante o 11° Encontrarh. O que uma orquestra tem a ensinar ao mundo gerencial? Segredos por trás de uma orquestra que tradicionalmente, há mais de 300 anos, tem tudo a ver com o mundo gerencial. É o talento dos solistas, talentos treinados para trabalhar em equipe, células internas que são microequipes, lideranças, papéis em redes diferentes e por aí vai. Tudo isso, tendo em vista que o músico está sempre em processo de treinamento, jamais se considera pronto. Sempre aceita novos desafios, sempre procura se auto-superar, mais do que superar o colega do lado. Ele mesmo se impõe novos patamares para verificar se ele já explorou todos os seus recursos internos. Então, nossa participação aqui lhes dá muito prazer porque a gente sente que é um momento em que todos estão procurando encarar suas capacidades adormecidas, deixadas de lado, meio desprezadas e desqualificadas. Ao ouvir a orquestra, o público vai perceber que todos nós temos essas qualidades e que agora é a hora de pô-las para trabalhar. A orquestra, então, vai fornecer vários exemplos desse exercício mental dessa estirpe e eu espero que as pessoas levem isso com elas. Que não seja mero conceito que entra por um ouvido e sai pelo outro, mas que seja uma experiência de vida e que todos os dias, ao encontrar uma dificuldade, a pessoa se lembre de que maneira uma orquestra resolveria isso. Mas, em se tratando de orquestra, música, coisas relacionadas à arte, que pressupõe um alto nível de flexibilidade e prazer, não seria mais fácil colocar em prática o que o Sr. acabou de citar, do que em um ambiente corporativo? O que vale para uma orquestra vale mesmo para este tipo de ambiente? Claro que não é exatamente a mesma coisa, mas o que é prazeroso para os músicos é a motivação inicial que os levou a fazerem música. É a concentração naquilo que faz que dá prazer, e isso pode acontecer em qualquer atividade organizacional. O conceito de prazer se torna muito mais amplo e é semelhante ao mesmo prazer do cientista com um microscópio, de um piloto lá na cabine de um avião, de você no computador entrando na internet à procura de uma informação, ou ao mesmo prazer daquela pessoa que propõe uma nova idéia para substituir e tornar eficiente uma tarefa cansativa... Isso porque o segredo está na motivação e não na natureza do trabalho... Exatamente, e a motivação é sua, ninguém motiva você. A motivação vem de dentro. Agora, claro que a pessoa deve procurar fazer aquilo que ama, porque se ela não gostar, dificilmente conseguirá se motivar. Esse é o segredo. E o papel do maestro, ele é um líder, não? Hoje, o maestro é um líder no sentido de que ele coordena a ação de pessoas competentes. Ele não controla, não determina, não é um ditador. Ele deve ser um servidor, deve ser um maestro “corporate”, que sirva, que tenha utilidade, que resolva problemas e não que utilize sua condição de maestro para se nutrir de um poder patológico e paranóico. Relacionando a figura do maestro ao líder nas organizações, vale a mesma orientação. De que forma uma orquestra pode gerar sinergia entre arte, criatividade e talento musical de um lado e, de outro, trabalho de equipe, liderança, desenvolvimento, etc. Baseando-se no fato de que todos esses elementos que você citou lidam com pessoas. Pessoas são o fator comum a todas eles. E são elas que estão realizando os trabalhos com plano de ação individual e conjunto e com criatividade. Sem isso, um plano não é suficientemente claro. Sempre tem umas brechas, não há sobra para você criar. São seres humanos exercendo tarefas, não importa quais, apenas é preciso que todos saibam muito bem aonde estão indo e com que recursos contam. Informativo da ABRH-DF Brasília-DF, novembro/dezembro de 2001. |