OS MITOS DA INFIDELIDADE

ALENCAR MOREIRA

Jornal Comunidade

Brasília, 20 de janeiro de 2002.

NOVIDADES SOBRE A TRAIÇÃO: AS MULHERES ESTÃO MAIS INFIÉIS E OS HOMENS COMEÇAM A SE SENTIR CULPADOS.

         A reportagem de capa da Veja desta semana está excelente. Recomendo sua leitura a todos os casais.  Dentro da matéria existe um quadro com o título: “Os mitos da infidelidade”.  Nele são comentadas algumas crenças com relação ao ato de “pular a cerca”.  Vale a pena desenvolvermos o assunto.

Ter um caso pode reacender o casamento.

“Não é verdade. Se o casamento já anda mal, pode ser o empurrão que falta para acabar de vez. A traição pode até  reacender o ânimo de um dos parceiros (o traidor, óbvio), mas pode destruir o do outro”.

Na realidade, a ocorrência da infidelidade mina ou mesmo destrói a confiança do parceiro que foi traído naquele que traiu.  Faz diminuir, também, a autoconfiança e a auto-estima de quem sofreu a traição. E isso, evidentemente, não é bom para a relação.

Trair é normal.

“Não é. Muitas pessoas acreditam que, pelo fato de estar vivendo mais, é melhor casar várias vezes.  Contudo, o mais importante é ter uma relação que garanta felicidade, conforto e proteção. E um caso extra-conjugal proporciona exatamente o contrário”.

Mais ainda: felicidade, conforto e proteção são sentimentos que não acontecem por acidente em nossas vidas.  Devem ser buscados, devem ser trabalhados.  A procura do prazer imediato pode não levar à felicidade.  Sobre isso conversamos há dois domingos.

Trair é da natureza humana.

“Há muitos estudos que tentam provar a tese de que mamíferos, ovíparos e até os insetos são infiéis por natureza.  Mas não existe comprovação científica”.

O homem, por ser o único animal racional, é também o único capaz de controlar um impulso – que até  pode ter algo de natural – em prol da felicidade, um sentimento inexistente entre os animais irracionais.

Homens traem mais do que as mulheres.

“É uma das únicas verdades absolutas no que diz respeito à infidelidade.  Nos últimos tempos, no entanto, chama atenção o percentual de mulheres infiéis”.

Com a saída da mulher para trabalhar fora de casa, ela vem tendendo a se nivelar aos homens em suas qualidades mas, igualmente em seus defeitos. Nivelam-se por cima mas, também, infelizmente nivelam-se por baixo.  Em comparação com a mulher de gerações anteriores, a atual fuma mais, trai mais e banaliza sua sexualidade.

Só casamentos em crise estão sujeitos ao adultério.

“Não. Acontece também em relações muito bem sucedidas.  Como é  impossível manter um relacionamento perfeito o tempo todo, os casos costumam ocorrer no que chamam de “entre safra”.

A curiosidade de saber como é que é  e a busca do prazer imediato e inconseqüente levam homens e mulheres em bons relacionamentos a arriscarem a felicidade já construída.

Eu tenho culpa por ter sido traído(a).

“Claro que não. O parceiro tem outros caminhos para resolver problemas no casamento. Mas é importante prestar atenção em seu próprio comportamento e no da pessoa amada.  Em que momento vocês permitiram que o casamento desandasse?

Uma peça de Nelson Rodrigues imortalizou essa crença: “Perdoa-me por me traíres”. Será que é isso mesmo?  E o diálogo para que serve? Uma relação conjugal não nasce pronta. Pelo contrário, é um árduo processo evolutivo de crescimento, de lapidação.

ALENCAR MOREIRA é psicólogo, psicoterapeuta e terapeuta sexual. É delegado, em Brasília, da Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana.  Atua em consultório particular atendendo a jovens, adultos, casais e famílias. Trabalha também com disfunções sexuais.  Telefones: 3039-7069 e 9987-7069.