A terapia das plantas

Correio Braziliense

Brasília, segunda-feira,

21 de janeiro de 2002

A terapia das plantas

Mulheres trocam hormônios sintéticos pelos naturais, para acabar com as ondas de calor e irritação comuns depois dos 45 anos. Mas os médicos ainda vêem com reserva o uso desses produtos

Maria Vitória

Da equipe do Correio

Todo dia à tarde, Núbia Grippe Vianna toma um comprimido de isoflavona. Com o tratamento, deu adeus a uma crise de depressão Em busca de melhor qualidade de vida, mulheres que se encontram na menopausa optam pela terapia hormonal para repor as taxas do hormônio feminino estrogênio e fugir dos incômodos sintomas dessa fase da vida - como ondas de calor, suores noturnos e insônia - e prevenir doenças mais graves - como osteoporose e problemas cardíacos. Mas os hormônios produzidos em laboratórios provocam efeitos ruins, tais como mama dolorida, pele ressecada e até sangramento intenso. E necessitam de supervisão médica constante, pois pesquisas como as da Universidade de Harvard (Estados Unidos) indicam que o uso prolongado dificulta o diagnóstico precoce do câncer de mama, pois as mamas ficam mais densas e podem causar tumores no útero.

Por temer essas conseqüências, mais e mais mulheres estão adotando os fitohormônios - ou fitoterápicos - como uma forma natural de fazer reposição hormonal. O tratamento é feito com hormônios extraídos de vegetais, como a soja, o dong quai, o wild yam e o black cohosh (leia quadro).

O mais conhecido é a isoflavona, substância derivada da soja que conta com o aval de uma pesquisa desenvolvida pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Segundo o estudo, entre as 40 mulheres tratadas com isoflavona, 80% apresentaram melhoras nos chamados ''calores da menopausa''. Outro resultado também surpreende: das 35 mulheres que apresentavam taxas elevadas de colesterol no início da pesquisa, 32 (91,4%) diminuíram os níveis após o tratamento e ainda emagreceram.

Apesar de experiências como essas, no Brasil os fitohormônios ainda têm um ar de novidade, porque somente agora os ginecologistas começaram a perder o preconceito em relação ao produto. Para romper essa barreira, os ginecologistas Décio Luís Alves e Célia Regina da Silva, também pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), lançaram o livro Fitohormônios - Abordagem Natural da Terapia Hormonal, pela Editora Athene, para suprir a falta de publicações especializadas sobre o assunto. ''O que temos atualmente são trabalhos científicos dispersos e muita literatura veiculada por empresas que tentam vender seus produtos'', afirma Alves.

Segundo ele, o livro fornece todas as informações necessárias para que os ginecologistas não especializados em terapias naturais tenham conhecimentos para receitar os hormônios fitoterápicos. Além disso, apresenta a experiência clínica de três anos com 600 pacientes que usam os hormônios naturais. ''Apenas 10% não responderam bem ao tratamento'', conta Alves.

Para o ginecologista Décio Alves, a principal vantagem dos fitohormônios é que eles podem ser usados por mulheres impedidas de fazer a reposição hormonal clássica. Isso inclui as que têm câncer, trombose (coágulos que bloqueiam veias ou artérias) e doenças do fígado. Segundo ele, ao contrário dos sintéticos, os naturais não se acumulam no organismo. Esse acúmulo, que o fígado tem dificuldade em absorver, seria o responsável pelos efeitos desagradáveis que, muitas vezes, levam algumas mulheres a abandonarem a terapia logo no início.

A professora aposentada Núbia Grippe Vianna, 64 anos, mãe de cinco filhos, não abandonou a terapia logo no início. Fez a reposição com hormônios sintéticos por seis anos, sempre sob supervisão médica. Em abril do ano passado, sofreu uma trombose na perna direita e foi obrigada a interromper o tratamento. ''Segundo o meu angiologista, a terapia de hormônios provocou o problema e eu fui obrigada a interromper o uso, por correr risco de morte'', conta Núbia. Ela seguiu o conselho médico, mas voltou a sentir todos os incômodos da menopausa: calores, insônia e depressão. Depois de ouvir os conselhos de uma amiga médica, iniciou em setembro o tratamento com os fitohormônios e está muito satisfeita, pois sente poucas ondas de calores, dorme bem e deu adeus à depressão. Tão satisfeita que está, já convenceu as duas irmãs e quatro amigas a seguirem o mesmo tipo de tratamento.

Apesar de relatos como o de Núbia, alguns especialistas rejeitam o uso dos hormônios naturais. Outros, como a ginecologista Ana Márcia Marques Suzuki, encaram o tratamento natural com certa cautela.''Ainda não há estudos científicos e epidemiológicos, realizados com milhares de mulheres e durante longos anos, comprovando que os hormônios naturais realmente funcionam'', diz a médica. Ela não rejeita totalmente o uso de hormônios fitoterápicos e indica a sua utilização para pacientes que não podem fazer ou rejeitam a reposição com medicamentos sintético: ''A minha experiência em consultório não é animadora. Depois de quatro a cinco meses de tratamento, elas voltam a sentir os sintomas da menopausa''.

Os tipos

Para cada sintoma da menopausa existe um tipo de fitohormônio adequado. Uns estimulam a produção de progesterona, outros de estrogênio. Às vezes, dois ou mais tipos podem ser combinados. Vale lembrar que nem todos os especialistas recomendam e aceitam a terapia com hormônios naturais (não há estudo científico de peso que garanta a eficácia das substâncias).

SOJA

Rica em genisteína, que ajuda na prevenção de câncer, problemas de fígado e vesícula, estimula a formação dos ossos, abaixa o colesterol e protege a parede dos vasos. É indicada para mulheres na menopausa que tenham osteoporose e hipertensão. É também o hormônio de escolha para mulheres com história de câncer na família ou que já se submeteram à mastectomia (retirada de mama), pois a genisteína impede a proliferação de tumores.

VITEX AGNUS CASTUS

Tem papel importante contra a depressão, é indicado para mulheres no período que antecede à menopausa, diminui a dor nos mamilos e melhora a libido.

BLACK COHOSH (Cimicífuga racemosa)

É o fitohormônio mais estudado e foi aprovado pelo Ministério da Saúde da Alemanha para tratar sintomas de deficiência de estrogênio. Alivia os calores, a atrofia e o ressecamento vaginal, a palpitação e a ansiedade. Atua de modo semelhante ao estradiol, um derivado do estrogênio responsável pela lubrificação da vagina.

SEMENTE DE LINHAÇA

Rica em lignana - composto convertido em estrogênio pelas bactérias no intestino.

LICORICE ROOT

O extrato dessa planta se chama ácido glicirrético e estimula a conversão natural de testosterona para estrogênio na glândula supra-renal. É uma fonte natural de estrogênio. Previne a formação de coágulos, comuns na menopausa. É usado na Europa e nos Estados Unidos também como antiinflamatório. Não deve ser usado por quem tem hipertensão.

WILD YAM (inhame selvagem mexicano)

Possui um composto igual à progesterona produzida no corpo. Indicado principalmente para osteoporose, pois a progesterona é o hormônio que aumenta a densidade óssea. Também diminui a retenção de líquidos. O wild yam não deve ser ingerido como comprimido, pois só se transforma em progesterona quando é absorvido pela pele ou debaixo da língua.

DONG QUAI

É a planta mais usada na medicina tradicional chinesa. Promove uma síntese de progesterona natural. É boa para aliviar a TPM, porque relaxa a musculatura do útero, combatendo as cólicas.

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