O risco da desinformação Correio Braziliense Brasília, terça-feira, 22 de janeiro de 2002 SAÚDE O risco da desinformação Remédios são a maior causa de intoxicações no Brasil e no Distrito Federal. Farmacêuticos lançam guia com dicas de como utilizá-los com responsabilidade Da Redação Antonio Siqueira Hipertenso, Alciomar Gomes faz tratamento para controlar a pressão, mas sofre com a alergia provocada pelos remédios De cada dez pessoas que chegam aos hospitais com intoxicação, quatro são vítimas de medicamentos usados de forma errada. A automedicação e uso indiscriminado ou combinado de substâncias podem muitas vezes matar. A proporção foi feita pela Organização Mundial de Saúde (OMS), em relatórios sobre os Estados Unidos e a América do Sul. Aqui no Brasil, pesquisas da Fiocruz revelam que a maior causa de intoxicações é o uso inadequado de remédios. Cerca de 28% das internações acontecem por conta dessa questão. Isso sem contar os casos que não necessitam de internação, como alergias, quedas de pressão e a falta de efeito da medicação receitada. O porteiro Alciomar Gomes, 39 anos, não chegou ao extremo de parar no hospital, mas não reage bem aos medicamentos que toma. Hipertenso, Gomes recebeu do médico receita de três remédios: Captopril, para hipertensão, hidroclorotiazida, diurético, e AAS, para evitar coágulos no sangue. Desde quando começou o tratamento, as alergias o perseguem. O corpo inteiro incha e coça. Incomodado com os caroços em todo seu corpo, procurou um alergista do Hospital Universitário de Brasília. ''Eu ainda estou fazendo os exames, mas o médico disse que, quando eles ficarem prontos, vou ter que mudar de drogas'', diz. Enquanto isso, continua com o tratamento e as alergias. A combinação de substâncias e a automedicação foi o problema da professora Ana Maria Pereira, 42 anos. Com dores na perna, procurou um ortopedista que lhe receitou uma injeção de antiinflamatório e um analgésico. À noite, em casa, sentiu dores de cabeça e febre e tomou Dipirona (antitérmico) e Tylenol, (outro analgésico). No dia seguinte, supondo que a indicação do médico valia para qualquer dia, tomou outra injeção e mais uma droga contra dor. As febres e dores no corpo continuavam. Começaram a surgir manchas e bolhas em seu rosto, que ficou desfigurado. Outro médico lhe disse que talvez fosse um vírus. Quase uma semana depois, quando todas as outras possibilidades já estavam descartadas, ela consultou um dermatologista. O diagnóstico: intoxicação por remédios. Pensando no alto índice de intoxicação por mau uso de medicamentos no Brasil e em pessoas como Alciomar e Ana Maria, o Conselho Regional de Farmácia do Distrito Federal (CRF-DF), a Associação Nacional de Farmacêuticos Magistrais (Anframag) e o Instituto Brasileiro de Defesa dos Usuários de Medicamento (Idum) lançaram ontem o manual O Uso Racional de Medicamentos. Nele, estão informações sobre o uso adequado de remédios, com dicas sobre efeitos colaterais, prescrição e conseqüências do uso indiscriminado dos medicamentos. Trinta mil exemplares da cartilha serão distribuídos. ISENTOS DE CULPA O presidente do CRF-DF, Antônio Barbosa da Silva, não joga nas pessoas toda a culpa pelo alto índice de casos de intoxicação por remédios. Para ele, a automedicação e o uso indiscriminado de medicamentos estão também ligados ao mercado de consumo. ''A pessoa fica doente e procura a farmácia. O balconista vira médico, mas não se preocupa com o histórico do doente'', critica. Dados do Conselho Federal de Farmácia mostram que cerca de 80% das pessoas procuram o balcão da farmácia, em vez de irem a um médico. SERVIÇO Onde encontrar Conselho Regional de Farmácia Setor Comercial Sul Quadra 6 Bloco A - Edifício José Severo, sala 609 Tel: 223-1361 EFEITOS MAIS COMUNS Antiinflamatórios Problemas no aparelho digestivo, principalmente no estômago Antigripais Sonolência Antibióticos Maior dificuldade de combater a doença, pois as bactérias podem ficar resistentes ao medicamento Produtos para emagrecer Problemas cardíacos, transtornos psiquiátricos (mentais) e dependência Anticoncepcionais Complicações na circulação do sangue e coração NUNCA ESQUEÇA DE DIZER AO MÉDICO Se você está tomando algum medicamento, mesmo que sejam laxantes, vitaminas, anticoncepcionais ou anestésicos Se já passou mal por causa de algum remédio Se você ingeriu álcool antes da consulta. A mistura de remédio entre si, ou com bebidas alcoólicas, pode abalar em muito sua saúde e o tratamento da doença TRATAMENTO SEGURO Quando se está tomando remédio, é preciso ter alguns cuidados para não atrapalhar o tratamento. Aqui vão algumas dicas: Se você não tomar o medicamento na hora certa, ou na quantidade pedida, informe ao médico. Pode ser que o tratamento tenha sido menos eficaz por causa disso. E ele, sem saber, poderá aumentar a dose do remédio sem necessidade, pondo em risco a sua saúde Nunca misture antibióticos com antiácidos (inclusive alimentos, como o leite). O antiácido corta ou diminui muito o efeito do antibiótico Nunca tome sedativos e anestésicos misturados com álcool. O álcool potencializa o efeito do sedativo Não tome medicamentos que sobraram em casa sem antes falar com um médico Deixe os remédios sempre nas caixas para conferir a data de validade. Algumas substâncias podem ser perigosas se tomadas depois de vencidas Não tome remédio sem receita médica. Nem tudo que faz bem ao seu vizinho fará bem a você Nunca peça ao farmacêutico para lhe receitar remédios. Ele é o profissional capacitado para lhe informar sobre as drogas, não para prescrevê-las Nunca tome remédios no escuro e, se usa óculos, coloque-os antes de ingerir a substância. Assim, você evita a troca de medicamentos © Copyright CorreioWeb Fale com a gente Publicidade |