Águas dos Andes

Correio Braziliense

Brasília, quarta-feira,

13 de fevereiro de 2002

Lugares

Aventura

Águas dos Andes

O clima de aventura e a cultura inca atraem milhares de turistas ao Titicaca, lago navegável mais alto do mundo, a 3.808 metros de altitude. Pratos à base de truta são o destaque da culinária local

Alfredo Durães (texto e fotos)

Do Estado de Minas

Abastecido pela neve que escorre da Cordilheira dos Andes, o Titicaca é procurado principalmente por mochileiros, que não perdem também a pesca da truta e as visitas a ilhas, como a Isla Del Sol

As lendas e tradições do império Inca fazem parte da cultura do povo que habita a região.

Na fronteira da Bolívia com o Peru, o Lago Titicaca é muito mais que um mundão de água gelada. Permanentemente abastecido pela neve que escorre das montanhas da Cordilheira dos Andes, ele é o lago navegável mais alto do mundo, encravado a 3.808 metros de altitude. E é muita água mesmo: o Titicaca tem 195 quilômetros de comprimento e 65 de largura. Suas marcas registradas são os barcos de junco feitos por indígenas descendentes dos incas e a truta, um delicioso peixe, que curiosamente não é nativo da região. A truta foi introduzida no lago por colonos alemães que chegaram na Bolívia no começo do século passado, e se adaptou muito bem em suas águas frias.

Durante todo o ano, o Titicaca é alvo de milhares de turistas, principalmente mochileiros, que buscam a aventura de navegar por suas águas e conhecer suas misteriosas ilhas, habitadas por um povo simples, mas cheio de tradições e lendas que remontam aos tempos do império inca.

A cidade de Copacabana é um burburinho só. Basta descer do velho microônibus que vem da capital boliviana La Paz para que dezenas de garotos, como moscas, avancem na direção dos visitantes. Com folhetos nas mãos, eles disputam a primazia de indicar um hotel, pousada ou restaurante. Mesmo com a insistência dos meninos, quem desce do surrado microônibus sente alívio, como se tivesse alcançado um porto seguro, depois de horas no mar agitado. A viagem de La Paz a Copacabana é uma aventura que dura sete horas de pura contemplação das bonitas paisagens andinas, mesclada com incessantes calafrios na espinha.

A estrada é quase toda de terra e serpenteia por vales, montanhas e precipícios e em alguns trechos só dá passagem para um veículo. Some-se a isso, porcos, galinhas e patos, que são embarcados e desembarcados com naturalidades por camponeses. Para completar o quadro, os motoristas colocam o som no último volume - com músicas típicas e até algumas ''brasilenãs'' - e dirigem com a velocidade de quem está numa estrada asfaltada de pista dupla. A viagem vira o prenúncio das aventuras que o turista vai viver no Titicaca.

Caminho de Cuzco

Copacabana, além de balneário, é uma cidade da fé cristã. Seu nome é uma homenagem à Virgem de Copacabana e o lugar ostenta uma bela basílica, ponto obrigatório de romeiros de toda a região. Porém, essa atmosfera santificada é comprometida pelo rebuliço causado pelo colorido das centenas de turistas que - com mochila nas costas e algumas idéias na cabeça - todos os dias chegam e deixam a cidade, que fica a apenas 5 quilômetros da fronteira com o Peru. Copacabana é caminho certo de descolados que vão para Cuzco, ponto de partida para uma das jóias da arqueologia mundial, Machu Picchu, ambas no país vizinho. Assim que se atravessa a fronteira, está Puno, cidade onde o turista pega o trem que atravessa o solo peruano e termina na estação de Cuzco.

Mas todos que passam por Copacabana têm a obrigação de ficar por uns dias para curtir tudo que o lago Titicaca oferece. São passeios por pequenas ilhas, a pesca da truta e até pernoitar numa de sua ilhas mais bonitas e intrigantes, a Isla del Sol, onde, séculos atrás, o incas promoviam rituais de oferendas aos deuses. Geralmente animais eram abatidos e o sangue oferecidos às divindades. Mas, contam, que quando a fúria divina era grande, o sangue humano tinha que correr sobre a mesa talhada na pedra. E como os deuses nunca foram bobos, de preferência o sangue de uma bela virgem.

Uma boa forma de curtir o Titicaca é sair de barco bem cedo de Copacabana e conhecer a Isla de la Luna e a Isla del Sol. A ilha da Lua é desabitada, mas vale o passeio porque tem boas trilhas e uma vegetação muito bonita, formada por cactus e plantas rasteiras. Para a ilha do Sol, a dica é passar uma noite (ou mais). Mesmo com hospedarias simples - mas honestas - e a falta de energia elétrica vale vivenciar o clima de lugar afastado do mundo.

Isla del Sol possui dois povoados que ficam nas suas extremidades. Na parte norte, depois de sair do barco, uma caminhada de cerca de uma hora atravessa a pequena cidade e te conduz ao altar de sacrifício dos incas, uma mesa de pedra esculpida em cima de uma grande rocha, que termina num paredão rente às águas frias do Titicaca. A impressão é de estar de frente para o mar. A água tem um belo tom azul e, em dias de claridade, o Sol provoca reflexos incríveis. Tem também boas praias, mas a temperatura da água desanima qualquer um.

Já a parte sul da Isla del Sol tem um vila maior, onde ficam as poucas pousadas. A vila fica numa parte alta da ilha e de lá se avista, ao longe no horizonte, os picos nevados da Cordilheira dos Andes. No porto da parte sul, uma imensa escadaria de pedras que leva ao vilarejo é outra atração. Obra dos Incas, ela tem bem cuidados jardins com flores nas bordas. Em pleno Lago Titicaca, a ilha do Sol tem muito verde e árvores centenárias, que parecem pinheiros gigantes. Um passeio de barco, saindo de Copacabana e que te leva nas duas partes da ilha e também na ilha da Lua, custa cerca de US$ 10,00 por pessoa, com direito a lanche. Isso para voltar no mesmo dia. Mas a recomendação para viver uma aventura única é passar a noite no lugar e sentir a atmosfera de mistério que ronda a ilha.

Outro local muito visitado no Titicaca é a Ilha Suriki, onde ficam os artesãos que fazem os barcos de junco. Ela fica do outro lado do grande lago e o ponto de partida é um porto que fica a duas horas de carro de La Paz. Mas em qualquer lugar do Titicaca não deixe de comer uma truta a la plancha, um prato especial, com um sabor incrível, que sai por cerca de US$ 5,00.

SERVIÇO

Como chegar

De avião até Lima ou La Paz. De Lima pode-se pegar um trem até Pua que fica a uns 5 km de Copacabana. De La Paz, alugar um carro no aeroporto ou fazer excursão de ônibus

Passagens

A Varig é a única companhia aérea brasileira que faz os trechos de Brasília a La Paz ou Lima. Para La Paz, a passagem custa R$ 2.457,33. O trecho para Lima sai por R$ 1.950,00.

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