Quando os inimigos estão dentro de casa

Correio Braziliense

Brasília, domingo,

10 de fevereiro de 2002

Receitas de um pediatra

Cartas para o dr. Márcio Lisbôa devem ser enviadas para Correio Braziliense - Redação - SIG Quadra 2, Lote 340, Brasília, DF. CEP: 70.610-901 Com apenas um assunto. É preciso mandar nome, endereço e telefone para contato.

Dr. Márcio Lisbôa

dr.lisboa@bol.com.br

(...)

Os maustratos, os abusos físicos, os estupros, abusos sexuais e a negligência fazem parte de um triste capítulo denominado violência doméstica, que é definida como todo ato ou omissão praticado por pais, parentes ou responsáveis, contra crianças e/ou adolescentes capaz de causar dano físico, mental ou emocional. É considerada a ''mãe'' de toda as violências, por ser a maior formadora de indivíduos com comportamentos anti-sociais. É perpetrada no lar contra seres pequenos e indefesos por aqueles que tinham como obrigação protegê-los.

Embora seja a mais freqüente, a mais grave e a mais importante, pois é a principal perpetradora e perpetuadora da violência - pai violento, filho violento -, não costuma ser noticiada nos jornais e na televisão. ''Ela não dá ibope''. Crianças são surradas, estupradas, humilhadas, maltratadas, feridas, mortas pelos pais ou responsáveis, escudados pelas paredes do lar e protegidos pela omissão das testemunhas, entre as quais se encontram, não raramente, as próprias mães.

Todos se assustam, num misto de horror e curiosidade, ao tomarem conhecimento, diariamente, da incidência de crimes bárbaros, de assaltos, de estupros, de roubos, de agressões, de seqüestros, que não respeitam sequer a luz do dia. Mas, ninguém sabe, ninguém vê e, por isso mesmo, muitos poucos sentem ou se preocupam com esse tipo de violência, sórdido, silencioso, sub-reptício e desapercebido, perpetrado no que deveria ser o sagrado recôndito do lar e que fere, no âmago, a dignidade, a liberdade e a integridade física e espiritual das crianças.

As crianças vitimizadas ficarão marcadas para sempre, e uma boa parte delas irá perpetuar o ciclo da violência. A violência doméstica e a privação materna são as causas que mais contribuem para a formação de comportamentos delinqüentes e, conseqüentemente, para o aumento e a perpetuação da violência. Todo programa de combate à violência será incompleto e ineficaz se continuar priorizando medidas restritivas e punitivas, descurando das medidas preventivas, as mais importantes.

© Copyright CorreioWeb Fale com a gente Publicidade