Ir A ou PARA, sentar A ou EM, contribuir PARA ou COM?

Eduardo Martins, jornalista de O Estado de S. Paulo e autor do Manual de redação e Estilo do OESP

O uso adequado dos verbos é um dos segredos da boa escrita. Por isso, nada melhor do que saber quando um deles deve ou não ser empregado com preposição (e qual).  Veja a seguir alguns desses casos:

Ir a, ir para:  Afinal, quem se muda de uma cidade vai a outra ou vai para outra? Ir a indica um deslocamento rápido, uma viagem com volta em curto período de tempo.  Dessa forma:  Foi a Paris nas férias de fim de ano.  /Pretendo ir aos Estados Unidos na Semana Santa.  /Vou ao sítio no domingo para pagar o salário do caseiro.  Como se viu, são todos casos em que a pessoa vai e volta logo.  Seria diferente dizer, por exemplo: Vou para Paris a fim de fazer meu doutorado na Sorbonne. /Vou para os Estados Unidos com um contrato de trabalho de dois anos.  Em todos esses casos, o deslocamento é mais longo.  Portanto, respondendo à pergunta inicial, quem se muda de uma cidade vai para outra.

Implicar:  Este verbo aparece muitas vezes acompanhado de um indesejável “em” quando utilizado no sentido de trazer como conseqüência, pressupor, acarretar.  Por isso, repare na forma recomendável: O trabalho implica (e não “implica em”) competência e dedicação. /Redução de impostos nem sempre implica queda na arrecadação. /A relação entre pais e filhos implica compreensão. O verbo admite preposição apenas quando significa envolver ou provocar, ter antipatia por, em frases como: A polícia implicou o garçom, no crime. /Vivia implicando com os amigos.

Contribuir para, contribuir com:  A confusão entre essas duas formas constitui um erro muito comum atualmente.  Contribuir para, equivale a colaborar, ajudar, cooperar.  Assim: A atividade do CIEE contribui para o desenvolvimento do País. /O empresário contribuiu para as obras da Igreja. Da mesma forma, alguém contribui para uma campanha, para um objetivo, para um propósito.  Contribuir com, que aparece inadequadamente com muita freqüência no lugar de contribuir para,  expressa o valor ou o tipo de ajuda que alguém proporciona para alguma coisa.  Repare nos exemplos: Ele contribui com mil reais para as obras da igreja. /Ele contribuiu com muitas sugestões para o curso. /Ele contribuiu com dois artigos para o primeiro  número da revista (mas nunca a empresa contribuiu “com” o crescimento do País).

Recorrer a, recorrer de:  Mais um verbo cujo sentido tem sido desvirtuado ultimamente é recorrer.  Existem dois casos em que ele se constrói com preposição.  O primeiro é o de pedir ajuda, valer-se:  Quando precisam de recursos, muitas empresas recorrem a um banco. /Recorria ao pai nos momentos de dificuldades.  /Recorreu às suas economias para comprar o apartamento.  No outro caso, o de apelar para a Justiça, apresentar recurso, recorrer exige a preposição de: A empresa recorreu da decisão (atenção: tem sido usada com muita freqüência a forma “a empresa recorreu à decisão”, injustificável porque não se pode pedir ajuda a uma decisão).

Revista AGITAÇÃO, ano XIII - nº 42 – nov/dez de 2001 – publicação do CIEE Nacional.