Porto Alegre renovada Correio Braziliense, quarta-feira, 20 de fevereiro de 2002
Já foi o tempo em que a capital do Rio Grande do Sul era o templo do turismo de negócios. Revitalizada por hotéis e novos roteiros, a cidade atrai visitantes de todo o Mercosul Eugenio Bortolon Especial para o Correio Porto Alegre está de alma nova nos últimos tempos. As coisas foram acontecendo e acabaram mudando o astral dos gaúchos. Grandes redes de hotéis internacionais fincaram o pé na capital dos pampas brasileiros, criando raízes para estimular o turismo. Mas não foi só isso. De repente, o centro da cidade, tão abandonado e jogado às feras (camelôs, assaltantes e por aí vai), ganhou um projeto de revitalização radical (ainda há problemas, mas aos poucos eles vão sendo superados) e novas atrações para atrair visitantes, como o Memorial do Rio Grande do Sul, o Santander Cultural e a renovação total do acervo do Museu de Artes do RS (Margs). Não bastasse essas iniciativas interessantes, surgiram roteiros permanentes de agentes oficiais do turismo aliados com a iniciativa privada para valorizar a história e as belezas sempre escondidas e sufocadas de Porto Alegre. Nestes tempos em que Porto Alegre retoma seu ''ego'' de trilegal - ou legal três vezes, como diz uma antiga música de Kleiton & Kledir - tudo isso não importa e nem deixa qualquer suspiro de indignação nos visitantes. São coisas que fazem parte da alma e da história da cidade. Porto Alegre está mesmo vivendo tempos de alta na sua auto-estima e no seu amor próprio. A capital gaúcha tem 1,5 milhão de habitantes, descendentes de mais de 25 etnias. A qualidade de vida é ótima: são mais de um milhão de árvores nas vias públicas, além de 700 praças, sete parques urbanos, duas reservas biológicas, a cidade tem atrações e programas por todos os lados. Vale a pena curtir o pôr-do-sol do Guaíba de algum de seus morros, caminhar e fazer compras na Rua da Praia ou nos seus shoppings. Uma boa pedida é andar pelos seus calçadões nas zonas Sul e Central e desvendar os tipos e caminhos dos parques Moinhos de Vento e Redenção, agora totalmente remodelados e cheios de atrativos. Em fins de semana, lotam de gentes de todas as partes. Em Porto Alegre, não há também como deixar de lado o chimarrão, o churrasco, as suas festas típicas, os seus shows folclóricos e sentir que, apesar da sua face cosmopolita, ainda há fortes raízes provincianas. Nos seus bairros e até mesmo nas proximidades da área central, os moradores ainda sentam-se nas calçadas para ''prosear'' e até para pedir emprestado alguns produtos caseiros aos vizinhos. Feiras tradicionais Porto Alegre é também história. No centro, o Mercado Público é uma das principais atrações. Com mais de 120 anos e totalmente renovado, ali existem cerca de 100 bancas com especiarias de todos os aromas e sabores, ervas-mate dos mais diversos tipos, artigos do folclore gaúcho, produtos alimentícios, bares, restaurantes e sorveterias. O programa pode continuar pelos novos atrativos na área cultural e também pelo Espaço Cultural Usina do Gasômetro, Theatro São Pedro, Museu Júlio de Castilhos, Solar dos Câmaras e Biblioteca Pública, todos locais muito freqüentados e sempre com atrações diferentes, novas e convidativas. Imperdível, porém, é a Casa de Cultura Mário Quintana, homenagem ao grande poeta que engrandeceu Porto Alegre com seu amor pela cidade. Ele sempre dizia que Porto Alegre é como um belo corpo de mulher, que deve ser descoberto aos poucos, com paciência e muito carinho. Sábias palavras. Por isso mesmo, vale a pena também entrar no clima descontraído das feiras de Porto Alegre. Elas são, talvez, as melhores provas da cultura e dos hábitos locais. A Praça da Alfândega, por exemplo, é o domicílio de uma feira de artigos de couro, tecidos, madeira, pedras e metal. E vai abrigar agora no final de outubro e até meados de novembro a Feira do Livro, uma das mais interessantes e tradicionais do Brasil, rivalizando com a Bienal do Livro de São Paulo. Já a Feira da Cidade Antiga, realizada aos sábados, na Praça Brigadeiro Sampaio, oferece todas as quinquilharias possíveis e imagináveis aos interessados, além de uma espetacular praça de alimentação com culinária típica de países e regiões do Brasil. A mais famosa das feiras, porém, é a do Parque Farroupilha - conhecida como Brique da Redenção. É o evento de todas as tribos e todas as gentes. Ali tem índio caingangue vendendo seu artesanato, político tentando empurrar seu peixe goela abaixo do transeunte, artistas de teatro e músicos em busca de reconhecimento e de público, além, é claro, de uma parafernália de bugigangas e antigüidades para serem curtidas e compradas. Realizado todos os domingos, o Brique é mais do que um brechó inspirado no de San Telmo de Buenos Aires ou no Mercado das Ladras de Lisboa. A feira é um mostruário da alma e da cultura gaúcha. São 300 expositores que fazem da feira um programa obrigatório para quem visita a cidade. © Copyright CorreioWeb Fale com a gente Publicidade |