ATHOS BULCÃO

Entrevistado por Theresa Catharina de Góes Campos

Entusiasmo e dedicação ao trabalho são as qualidades de ATHOS BULCÃO que mais se destacaram, durante a entrevista que nos concedeu, à qual compareceram o Diretor da Secretaria de Informação e Documentação, Paulo Afonso Lustosa de Oliveira, e a Chefe do Serviço de Museu do Senado Federal, Tânia Toledo Tenório.

Fomos recebidos com muita  cordialidade, apesar do artista e mestre de 83 anos estar doente, em cadeira de rodas, necessitando da ajuda de um secretário.  As dificuldades impostas por sua condição física não o impedem de continuar desenvolvendo novos e múltiplos projetos, como os painéis encomendados pelos Centros de Reabilitação Motora do Hospital Sarah Kubitschek – em Brasília, São Luís, Salvador e Fortaleza.  Quando o material utilizado é cerâmica, manda os azulejos serem feitos no Rio de Janeiro, enviando cuidadosamente as especificações, de acordo com o seu planejamento artístico.

Seu trabalho individual caracteriza-se, também, pelo fato de que está  sempre realizando mais de um projeto artístico ao mesmo tempo.

Se lhe fosse necessário encontrar um movimento estético para se enquadrar, ATHOS BULCÃO diria: “concretista/abstrato”.

Com humildade nos explicou o porquê de uma característica surpreendente, reveladora de sua atitude humilde face às obras que ele não cessa de criar:

“Não assino os painéis, nem muros escultórios, por questão puramente gráfica.  Acho que registrar o meu nome seria interferir na obra.” E assim criou sua própria marca, não assinando seus trabalhos.

Segundo enfatizou, o painel tem a função de acabamento, pois completa a obra arquitetônica, com elementos decorativos que humanizam a construção, ao complementá-la.  A motivação é a integração da arte com o espaço arquitetônico, resultando na harmonia da obra.

“Por liberdade poética”, deu títulos aos quadros.

Mas “O sol faz a festa”, de 1966, somente ganhou título em 1999.

Por iniciativa própria, fez questão de esclarecer que, embora se acredite serem de sua autoria os azulejos em forma de revestimento das paredes nos edifícios das SQS 108, 308 e 114, isso não é verdade.

Falou com simplicidade sobre a sua mais recente exposição, onde apresentou serigrafias, desenhos e máscaras.  Mostrou-nos a montagem fotográfica do seu último trabalho para um consultório de neurologista, obra em estilo surrealista, usando cristais porque o médico gosta muito dessas pedras.

As atividades de ensino, que igualmente exerce, superando os obstáculos da idade avançada e dos problemas de saúde, têm a orientação de motivar os alunos a mostrarem determinação na vontade de criar.

Autor de painéis e muros escultórios para a Câmara e o Senado, ATHOS BULCÃO nasceu em 1918, na cidade do Rio de Janeiro, então capital federal, no bairro do Catete.  Em 1939 deixou o curso de Medicina para dedicar-se à pintura.

Soube conviver e se tornar amigo de outros artistas, com Carlos Scliar, Enri Bianco e Roberto Burle Marx.  Freqüentava grupos de jornalistas, escritores e poetas, artistas, músicos, arquitetos e intelectuais cariocas, demonstrando espírito aberto, alegria, entusiasmo pela vida.  Entre suas inúmeras amizades, podemos citar o poeta Murilo Mendes.

Selecionado, em 1941, para o Salão Nacional de Belas Artes – Divisão Moderna, foi premiado com a Medalha de Prata em desenho e pintura.

No ano seguinte, apresentado por Murilo Mendes, tornou-se amigo de Maria Helena Vieira e Arpad Szènes, exilados no Brasil por causa da Segunda Guerra Mundial.

Juntamente com jovens artistas egressos que se negavam a estudar na Escola de Belas Artes, participou de Grupo Dissidente.

Realizou sua primeira exposição individual em 1944, a convite de Oscar Niemeyer, por ocasião da inauguração do Instituto de Arquitetos do Brasil.

O pintor Cândido Portinari convidou Athos Bulcão, em 1945, para trabalhar como assistente na execução do painel de São Francisco de Assis, na Igreja da Pampulha, em Belo Horizonte. Até o final daquele ano fez estágio no ateliê do mestre, no Rio de Janeiro.

A sua segunda exposição individual foi, também, realizada na sede do Instituto de Arquitetos do Brasil (1946).  As obras exibidas provocaram controvérsia de avaliação, resultando em opiniões antagônicas de Santa Rosa e Quirino Campofiorito.

Do governo da França obteve bolsa de estudos, em 1948, viajando para Paris, onde freqüentou os cursos de desenho da Academie de la Grande Chaumière e de litografia no ateliê  de Jean Pons. Em novembro do ano seguinte, voltou ao Rio de Janeiro, depois de receber Menção Honrosa em concurso de desenho na Cité Universitaire, do júri formado por: André Lothe, Dennys Chevalier, Emmanuel Auricoste e Marcel Grommaire.  O álbum organizado por Carlos Scliar – Dix Artistes de l´Amérique Latine, contou com a participação de Athos Bulcão.

ATHOS BULCÃO NO CINEMA

O crítico cinematográfico e cineasta Sérgio Moricone realizou o documentário de Curta-metragem “Athos”, sobre a vida e a obra de Athos Bulcão.

Vladimir Carvalho produziu, escreveu e dirigiu o longa-metragem “Barra 68” (Brasil,2000), onde Athos Bulcão é focalizado, em 1995, ao comparecer à  cerimônia em que o idealizador da Universidade de Brasília, Senador Darcy Ribeiro, recebeu a homenagem de seu nome ser dado ao campus da UnB, meses  antes de morrer.

Na cena, vê-se a satisfação de Athos Bulcão, demonstrando sua alegria de  cidadão e consciência de artista e mestre.

Artigo publicado na Revista “Senatus”, Secretaria de Informação e Documentação / Senado Federal. Vol. 1, n. 1, dez. 2001, Brasília-DF.