Tv-Brasil: desejo de América

Ponha seu sonho na televisão e a televisão na sala para ver o que vem de longe.  "olha já"... basta ligar o aparelho, lá já estamos, no além e no aquém...  Não precisa de visto, passaporte, nem amolação de aeroporto, se lhe é custoso voar...

Se estiver enjoado de viver o de sempre, assista a um filme cowboy à tarde; ou se estiver "a fim" de inspiração, sequioso do inspirável, de inspirativo e de inspirador, algo de "criativo" que não seja apelação nem ufanismo de sambódromo, apenas para inspissação (condensação) da mente ao vício orgânico do complexo mundo das comunicações "globais" estilizantes instantâneas, se não tiver "te vi" (TV) a cabo, deleite-se com os " nhénhénhnéns" em capítulos, com "trimtrim" nos intervalos, todo santo dia...

Após uma longa, "rentosa", "terapêutica" jornada de trabalho "anti-stress", acrescida do diário "bang-bang" do trânsito,   para "aliviar" as tensões, tormentos e violências aos seus direitos fundamentais, nada como abrir a janela do seu cativeiro "global" para uma meticulosa abordagem da zoologia "humana", via satélite, na inédita versão "imperativo categórico" do "Fantástico" ou do "Aqui e Agora"!...  Se preferir tem ainda recreio "Xuxulândia", "Faustolândia", "Gugulândia", ou "Você decide" se concorda ou não com a teoria da evolução!...

"Axi"... nada disso!...  De repende a felicidade está mesmo nessas paixões prosaicas do aparelho de televisão, seu cão fiel, ainda bem impenhorável, lazer barato e de grande benefício para controle da mente ou da natalidade...

Caso o cardápio de notícias de violências e programas de sensualidade da televisão não satisfaça sua inteligência, nem ajude como higiene mental, use-a como "incentivo fiscal" dos discursos presidenciais, ou provoque a segregação de suas glândulas salivares com os seriados de "gourmet"...

E se com tantos "enlatados" não se liberta do enfado da realidade nacional de terceiro mundo, feche os olhos e navegue via internet nas asas aladas do "sonho americano", com toda a tecnologia que fornece o menu da "felicidade" ao seu dispor, ao som da canção "soy loco por ti América"...  Não se constranja, a americanofilia é hoje um hobby (passatempo) multinacionalmente consagrado, malgrado alguns xenófobos recalcitrantes e avessos a concessões miscigenógenas às idiossincrasias multiculturais padronizadas.

Se o seu "independence day" (dia da independência) é mudar-se de uma vez para a América, não se "avexe", não tem como escapar, ao modo do ditado: "se você não vai à América, a América vem até você". Americano ou americanizado, no antigo sonho de Símon Bolívar, ideólogo da unidade americana, não havia diferença substancial.  O continente americano era e continua uma faixa contínua territorial, em que pese os germes políticos do separatismo panamericano, avençados no Tratado de Tordesilhas.

Não obstante a acerbada concorrência colonizante ao sul da linha do Equador entre ingleses, espanhóis, portugueses, franceses, holandeses, alemães, italianos, japoneses, "extraterrestres"... (no pregão quem dá mais?...), competindo para "civilizar" o Brasil de Peri, agora, já em plena era da internet se "ninguém" mais se escandaliza com os "enlatados" Rambo, madonna, "micheymaús" daquilo que a Amérioca tem de "melhor", a aversão à halloween (celebração infantil americana do "dia das bruxas") é fita,  se é que para crianças não há barreiras onde alguns acham necessário:  sociais, econômicas, culturais...

Para os saudosistas mais inconformados, se for o caso de amor à terra e ao povo, Brasil original, bem "brasileiro", coisa rara!...  Talvezs aquele do tempo de Pedro Álvares Cabral, terra de praias lisas, de Iracema, Guarani...  Mas quem quer ser índio?  Se Peri soubesse!... Tapuios, trigueiros (na gramática do reino vegetal, nada a ver com união do joio com o trigo), onde a poesia?...  Hoje, famélicos, favelados, sem rumo, pelos morros, pelas ruas, sem terra pra morar.  Mas isso é outra "novela"...  resta senão matutar a felicidade ao vivo "um dia" na "Porta da Esperança"!... ou na "Terra prometida"!...

Agnes Marta Pimentel Altmann

Bacharel em Direito/Mestrado em Relações Internacionais