FÓRUM SOCIAL

O Fórum Social Mundial se reuniu, pela primeira vez, em Porto Alegre (RS), entre 25 e 30 de janeiro de 2001, quando contou com a participação de 20 mil pessoas oriundas de cerca de 100 países. A segunda edição do evento, novamente realizada na capital gaúcha, no período de 31 de janeiro a 5 de fevereiro deste ano, teve a participação de 131 países, congregando 53 mil pessoas. Foram 27 grandes conferências, 800 oficinas, além de dezenas de seminários, testemunhos e outras atividades.

O Fórum não é um evento antiglobalização, como alguns quiseram caracterizá-lo, mas quer demonstrar sua insatisfação com o modelo econômico imposto pelos países ricos, cujos resultados estão patentes na crescente exclusão social, que leva à miséria bilhões de seres humanos. De fato, os números são estarrecedores. A ONU, em relatório sobre desenvolvimento de 2001, aponta a existência de 1,2 bilhão de pessoas vivendo com menos de um dólar/dia e 2,8 bilhões sobrevivendo com menos de dois dólares/dia; 2,4 bilhões não têm acesso às condições básicas de higiene, quase 1 bilhão não têm acesso à água tratada e 11 milhões de crianças anualmente morrem de doenças tratáveis, antes de chegar aos 5 anos. É mesmo uma tragédia!

Convicto de que "um outro mundo é possível" e que não é ético que o pensamento único que se quer impingir continue promovendo e ampliando situações alarmantes e inaceitáveis de desigualdades, onde poucos morrem de indigestão porque comem demais e bilhões sucumbem pela fome e a miséria, o Fórum Social Mundial propõe: reformulação das instituições internacionais (modificação radical ou abolição de organismos como a OMC e o FMI, a serem encampados pela ONU; criação de fundos monetários regionais e uma corte internacional de insolvência para proteger países falidos de credores, em vez de sobrecarregá-los com mais obrigações). Sobre fluxos financeiros,
imposição da taxa Tobin, que tarifaria transações financeiras transnacionais e reverteria os fundos arrecadados para o combate à pobreza. Muitas outras proposições foram tiradas do evento.

O sociólogo português Boaventura de Sousa Santos disse à Folha de S. Paulo que o objetivo do primeiro Fórum foi mostrar alternativas à globalização neoliberal, às agendas dos Estados e organizações internacionais. O do segundo, mais complexo, seria obter articulação intersetorial e inter-regional. Ou seja, completou o sociólogo, começar a reverter a tradicional fragmentação das esquerdas e buscar uma atuação global mais coerente.

Profundamente lamentável o comportamento da mídia que, de modo geral, praticamente ignorou o evento. Ponto para as revistas Sem Fronteiras, CartaCapital e Caros Amigos, das quais extraímos boa parte das informações aqui contidas.

15/2/2002

Lúcio Flávio V. Lima

lucio.maisa@ig.com.br