DIA INTERNACIONAL DA MULHER

Correio Braziliense

Brasília, sábado,

09 de março de 2002

DIA INTERNACIONAL DA MULHER

Ontem foi o Dia Internacional da Mulher, comemorado pela Organização das Nações Unidas desde 1975. Elas receberam flores e homenagens, poemas foram relembrados, músicas dedicadas, conquistas reconhecidas. E as mulheres, o que comemoraram? Talvez aquilo que aprenderam a duras penas - que igualdade de oportunidades, autonomia e respeito não são dons sociais. Foram, e continuam sendo, objeto de luta, conquista e construção.

Em 8 de março de 1857, teria ocorrido a primeira manifestação pública de mulheres trabalhadoras, em Nova Iorque. Elas protestavam contra as condições de trabalho desumanas nas fábricas de tecido, com jornada de trabalho de 12 a 16 horas e baixos salários. O estopim da manifestação teria sido a morte de mais de uma centena de trabalhadoras no incêndio de uma fábrica - elas foram surpreendidas pelo fogo e não puderam fugir, pois o patrão as mantinha a portas trancadas para não atrasar a produção. No início do século XX cresceram os movimentos de mulheres operárias por um trabalho digno e pela participação nas decisões comunitárias. Elas queriam votar, queriam cidadania, queriam igualdade, queriam autonomia. Consta que em maio de 1908 foi comemorado o primeiro dia da mulher, nos Estados Unidos. Na Europa, referências a um dia da mulher datam de 1911, na Alemanha e na Suécia. Em 1913, na Rússia czarista, foi realizada a primeira jornada internacional pelo voto feminino.

Em suas origens, portanto, o Dia Internacional da Mulher não homenageia a musa, a mãe, a amante ou a esposa. É a data da mulher que luta por sua participação política e social, por igualdade de direitos e oportunidades no mercado de trabalho e na vida pública. Data que simboliza a passagem da mulher do ambiente doméstico - privado - para a vida comunitária - pública.

Hoje as mulheres estão aí, freqüentando e constituindo o que podemos chamar de espaço público, em oposição ao espaço privado do ambiente familiar no qual ficaram confinadas gerações e gerações de mulheres - lembram do significado atribuído até pouco tempo à expressão mulher pública? Elas trabalham, realizam ações comunitárias, reivindicam, protestam, elegem seus representantes, são eleitas. Aproveitam as lições e as conquistas de suas antecessoras para assegurar e ampliar o espaço da mulher na sociedade como um todo. As estatísticas divulgadas esta semana nos meios de comunicação apontam progressos - participação crescente nos postos de trabalho, nas universidades, em cargos de decisão nas empresas, em cargos públicos nas administrações e nos tribunais e de representação popular nas câmaras municipal, estadual e federal e no senado. As mulheres vêm ocupando paulatina e firmemente o espaço público - comemoremos!

São ainda as estatísticas que capturam a atenção para números provenientes do espaço privado, e provocam perplexidade, indignação e vergonha: no período de um dia - inclusive ontem, o Dia Internacional da Mulher - mais de 5 mil mulheres são espancadas no Brasil! Por maridos, amantes, namorados, pais, irmãos e filhos.

Por que as mulheres são espancadas? Será porque não revidam? Os motivos que levam homens a bater em mulheres são de todo tipo e não vem ao caso. O que sustenta a situação de violência é uma questão de força - física, financeira, social. Vence o mais forte. No espaço público este poder é controlado e tornado relativo pelas leis da sociedade que protegem o direito dos cidadãos, homens e mulheres. No espaço privado das relações conjugais e familiares muitas vezes o homem faz valer uma lei de cunho próprio - à qual não está submetido - com raízes no machismo que permeia o social. Que saída para a mulher? Um apelo dirigido para fora - a violência doméstica só pode ser barrada na esfera pública, onde o agressor será julgado e punido. Este o modo de revidar aos ataques físicos e psicológicos.

Das mais de 5 mil mulheres agredidas ontem, quantas terão dado queixa? Quantas tiveram acesso a delegacias especializadas no atendimento à mulher? Quantas manterão a queixa para que o agressor seja processado?

Quando homens subjugam outros homens, a saída pode ser pela força ou por meio de acordos promovidos com base na força de aliados poderosos. A saída da mulher historicamente tem sido o grito e a resistência. Portanto é preciso abrir as janelas e gritar, denunciar, exigir proteção.

Mulheres ainda são espancadas no Brasil. Porque ainda não revidam.

Zalex Romera Süffert

zasuffert@bol.com.br

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