Câncer nem sempre é fatal

Correio Braziliense

Brasília, segunda-feira,

11 de março de 2002

Saúde

Câncer

Nem sempre é fatal

Quando mais cedo for descoberto um tumor maligno, maior a possibilidade de cura. Mas, com medo do diagnóstico do médico, a maioria das pessoas só procura tratamento na fase avançada da doença

Daniela Guima

Da equipe do Correio

O histórico familiar faz Guiomar se preocupar com a saúde. Ela teve um tumor maligno no seio e o seu irmão morreu com câncer no pulmão Em matéria de câncer, hoje há duas ferramentas chaves: prevenção e detecção precoce do tumor. Esses aliados estão diretamente ligados à maior probabilidade da cura da doença. É por esse motivo que as campanhas preventivas ocupam cada vez mais espaço na mídia. O preconceito e o pavor têm sido os principais adversários dos médicos. Para o oncologista André Deeke Sasse, do Hospital das Clínicas da Universidade de Campinas (Unicamp), muitos pacientes têm medo do diagnóstico e deixam de procurar ajuda quando o problema ainda está no início.

Apesar desses problemas, os especialistas afirmam que a situação está melhor Casos como os das atrizes Ana Maria Braga e Patrícia Pillar - que assumiram estar com câncer no intestino grosso e na mama, respectivamente - facilitam a desmitificação do câncer. ''As pessoas passam a se sentir mais aceitas, afinal aquele que é famoso também tem a doença e está mostrando para todo mundo'', diz Estela Mosquera.

Outros fatores têm contribuído para o aumento dos casos de cura. As técnicas de radiologia melhoraram e os homens acima de 40 anos têm aceitado melhor a idéia de fazer o exame de toque retal, associado ao exame de sangue (que avalia o PSA, Antígeno Específico de Próstata). Dessa forma, eles podem escapar de um dos problemas que mais têm causado mortes entre os homens - o câncer de próstata.

Hábitos de vida, como alimentação equilibrada e exercícios físicos, também contribuem para afastar o fantasma do câncer. Atos como evitar bebidas alcoólicas e cigarros também podem determinar se uma pessoa vai ou não desenvolver um câncer ao longo da vida. Evitar o sol das 10h às 16h e usar filtro solar praticamente assegura que a pessoa não irá desenvolver um tumor na pele. A observação das mucosas na boca e língua, por meio do auto-exame, também pode prevenir o surgimento do câncer nessas regiões. As mulheres precisam ter atenção especial com os exames de colo de útero e mama. O auto-exame nos seios pode evitar que as mulheres engrossem a estatística de oito mil mortes por ano em decorrência do tumor nas mamas. Depois dos 40 anos, a mamografia também passa a ser exame anual obrigatório.

NA MESMA FAMÍLIA

Apenas 5% das mortes por câncer estão ligadas à herança genética. Ainda assim, é comum encontrar pacientes de câncer com diversos casos de familiares que também desenvolveram a doença. É o caso da professora aposentada Guiomar Assunção Gomes, 57 anos, que teve outros cinco parentes com câncer em diferentes partes do corpo. Em abril de 1999, ela descobriu um caroço embaixo do braço esquerdo por meio do auto-exame. A mamografia confirmou câncer maligno na mama e metástase na axila.

Quatro dias depois Guiomar foi operada - teve de fazer mastectomia (retirada) radical do seio esquerdo e esvaziamento da axila. Guiomar ainda passou por longos seis meses de tratamento - foram oito sessões de quimio e 25 de radioterapia. O alívio foi enorme quando soube que não houve metástase para nenhuma outra parte do corpo. Ela faz exames periódicos, de seis em seis meses, e toma medicação para prevenir que o outro seio desenvolva um tumor. Na mesma época em que teve o problema, o irmão de 68 anos morreu com câncer de pulmão. O histórico familiar para a doença faz Guiomar se preocupar ainda mais com a saúde. ''Não posso bobear. Cuido da minha alimentação e pratico esporte todos os dias'', ensina.

Ajuda médica

Tratamentos atuais

Cirurgia: retira a região atingida pelo tumor. Pode ter finalidade curativa ou paliativa

Radioterapia: destrói células tumorais pelo uso de feixes de radiações ionizantes

Quimioterapia: técnica que usa compostos químicos, chamados de quimioterápicos, que interferem nas funções e na proliferação das células doentes

Hormonioterapia: Manipula o sistema endócrino para o tratamento de tumores malignos sensíveis a hormônios

Novas terapias

Imunoterapia: estimula o sistema imunológico para combater a doença. Ou seja, o próprio sistema de defesa do paciente vira-se contra a célula maligna. Tem a finalidade de intensificar a resistência ao crescimento do tumor

Anticorpos monoclonais: ajudam o sistema imunológico a reconhecer as células cancerosas como estranhas para que sejam atacadas. Sua vantagem é que atinge o tumor sem danificar as células sadias. Já vêm sendo usados com sucesso no tratamento do câncer de mama

Vacinas: nesse caso são separados antígenos específicos da célula tumoral que, a seguir, são reinjetados no paciente para que o sistema imunológico seja ativado contra aquele corpo estranho

Produção de linfócitos por engenharia genética: as células de defesa são produzidas em grande escala, em laboratório

Alvos moleculares da terapia do câncer: trata o câncer em nível molecular por meio de reparos no DNA alterado, responsável pelo surgimento das células malignas. Seria possível, por exemplo, ''desligar'' o processo de crescimento celular ou, ainda, aumentar a sensibilidade das células tumorais à quimioterapia ou radioterapia

Antiangiogênese: terapia que ''mata de fome'' o tumor ao destruir os vasos sangüíneos que o alimentam com nutrientes e oxigênio

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