A TECNOLOGIA MODERNA A SERVIÇO DA COMUNICAÇÃO Theresa Catharina de Góes Campos* O telégrafo e Morse Morse e o telégrafo elétrico modificaram a face do mundo, influindo consideravelmente em seu futuro. O maior incentivo que o inventor recebeu veio do professor Joseph Henry. Em 1835, este inventara o relé eletromagnético. A eletricidade caseira, que nos possibilita o conforto da refrigeração, luz, aquecimento, rádio, ferro de engomar, televisão; os sinais luminosos do tráfego, as campainhas, o telefone - tudo isso nasceu da invenção do Professor Henry. Toda construção que se constitui num dente de engrenagem das comunicações modernas é um labirinto de eletroímãs. Enormes eletroímãs ativam os cíclotrons e os bétratons, essenciais à cisão de átomos. Associemo-nos, portanto, a Samuel Morse, na gratidão a Joseph Henry, pois foi ele quem sugeriu ao primeiro inserir o relé no seu sistema, com a finalidade de vencer as dificuldades da distância. Deu-lhe ainda todas as informações que possuía sobre o telégrafo, convencendo-o de que não havia dificuldades insuperáveis. Compreendendo o profundo significado da evolução das comunicações, afirmava Samuel Morse: "O que quer que facilite o intercurso entre diferentes porções da família humana terá por efeito, sob a orientação de sadios princípios morais, favorecer os melhores interesses dos homens." O inventor, contudo, não conseguia crédito que lhe permitisse a realização do seu projeto, na maioria das vezes acolhido como ridículo e insensato. No Congresso norte-americano, recebiam-no com gargalhadas, achando-o impraticável, desnecessário. Afinal, em março de 1843, vencidas as resistências, o projeto foi aprovado. Washington e Baltimore viram-se escolhidas para os pontos terminais da linha telegráfica. O primeiro teste, coroado de êxito, realizou-se a 24 de maio de 1844. As grandes invenções no final do Século XIX O último quartel do século XIX, aliás, presenciaria o aceleramento da evolução histórica das comunicações, com o resultado das pesquisas e trabalhos de muitos inventores, entre os quais destacamos: Edison - o fonógrafo, em 1877, a luz elétrica em 1879; Eastman - o filme fotográfico e o suporte de rolo, no ano de 1884; e Marconi - a radiotelegrafia, em 1896. A Linotipo e Mergenthaler Ottmar Mergenthaler, o inventor da linotipo, casou-se com 27 anos de idade, em Baltimore, Estados Unidos, para onde emigrara da Alemanha. Sua esposa Emma, além de atraente, era ativa e inteligente, possuindo uma fantástica compreensão da personalidade do marido. Podia pressentir seu estado de espírito, em suas mutações, e suas mais íntimas preocupações. Havia mesmo ocasiões em que ele tinha a impressão de que a mulher conseguira "ler" seus pensamentos. Gregária por natureza, Emma encorajou-o a tomar parte ativa em organizações cívicas locais. Mostrou-lhe que, como sócio de uma firma de fabricantes de máquinas e instrumentos, era um homem de negócios em ascensão, com um lugar e responsabilidades na comunidade em que viviam. Assim, ele cedo descobriu que toda uma nova existência começara, uma vida de realização emocional que jamais experimentara. Na esposa, encontrou uma autêntica companheira, com quem podia partilhar suas esperanças e seus sonhos, alguém que estivera a buscar, inconscientemente, por toda a vida. Ottmar contou a Emma o projeto em que estivera trabalhando, sem êxito: uma máquina para revolucionar a impressão. Ela ouviu com atenção, embora não compreendesse os detalhes mecânicos. Em seguida, sugeriu, com ousadia, que ele devia prosseguir os estudos do projeto e construir a máquina. Quando Ottmar explicou que isso requeria uma grande quantia e sacrifícios pessoais, Emma não ficou desanimada. "Se precisam tanto dessa máquina, como você diz, então consiga o dinheiro de alguma forma. Todos os sucessos repousam em fracassos do passado. Espero que você a construa, senão, terá sempre arrependimento. O próprio fato de falar nela demonstra que você ainda a tem em mente." Como resultado da insistência de Emma, Ottmar voltou à prancheta de desenho e começou a preparar um novo conjunto de planos para a máquina de faixas. Nas horas mais difíceis, a esposa o encorajava. Reconhecia a possibilidade de fracasso, todavia, acentuava: "Se você tiver sucesso, terá feito o que ninguém foi capaz de fazer antes." Ottmar replicava: "Sim, mas não devo pensar só em mim. Você agora é minha esposa. Devo pensar em você. Você não tem idéia dos riscos. Muitas vezes não haverá dinheiro, e tudo parecerá sem esperança. Haverá discussões com os patrocinadores e ficarei aborrecido e amargurado." A esses argumentos, Emma respondia, simplesmente: "Você não entende que eu, como sua esposa, quero correr tais riscos a seu lado?" ttmar e Emma Mergenthaler tiveram cinco filhos. Nem mesmo quando engravidava, Emma perdia a coragem de suportar a incerteza financeira e a modesta existência que eram obrigados a levar. Aos 32 anos de idade, Ottmar Mergenthaler deu ao mundo a linotipo. Para ele, não representava um assunto de dólares e centavos, apesar de todo o dinheiro que fora investido pelos financiadores. Ele investira quase dez anos no seu aperfeiçoamento, e era parte de sua vida. Levou um grande choque ao comprovar que os homens que lhe tinham fornecido fundos, para o seu projeto, ávidos de lucro, não lhe permitiam aperfeiçoar a sua invenção. Com lágrimas nos olhos, Ottmar chegou a implorar permissão para introduzir ao menos algumas das alterações mais importantes: - "A linotipo não é apenas uma máquina para mim", explicou. "É como um organismo a que se deve permitir crescer e melhorar `a medida que prossegue; é como carne e sangue para mim." Suas ponderações, entretanto, caíram em ouvidos surdos. Afinal, a ajuda de amigos fiéis concedeu a Ottmar Mergenthaler a oportunidade de aperfeiçoar o seu invento. Com a introdução da Linotipo Simples nasceu uma nova era na impressão. Em menos de um ano, estavam sendo instaladas Linotipos em oficinas de composição de jornais e impressoras por todo os Estados Unidos, Canadá e Inglaterra. Quase da noite para o dia, Ottmar verificou que se transformara em celebridade internacional. Jornais e periódicos divulgavam longas matérias sobre ele e sua luta para conseguir o aperfeiçoamento da Linotipo, enquanto inúmeros editoriais saudavam o seu empreendimento como o avanço mais significativo na palavra imprensa, desde os dias de Johann Gutenberg. Esgotado pelas exaustivas horas de intenso trabalho, o inventor viveu mais tempo graças aos cuidados de sua esposa. O ano de 1892 foi, para ele, um grande triunfo, a culminância de quatorze anos de esforço contínuo e dedicação a uma idéia. Com mais de mil máquinas Linotipo, sendo empregadas em todos os países de língua inglesa, e planos para a introdução de tipos em língua estrangeira para que a invenção pudesse ser utilizada em qualquer lugar do mundo, tudo significava alegria e recompensa aos longos anos de estudo. Entretanto, desde o ataque de pleurisia que sofreu, quase fatal, no outono de 1888, a saúde de Ottmar piorava cada vez mais. Em 1892, os médicos disseram-lhe que estava tuberculoso. Sua esposa soube enfrentar corajosamente a situação. Seus cuidados, repetimos, conseguiram conservar acesa por mais alguns anos a chama frágil da existência de seu marido. Mas, a 28 de outubro de 1899, Emma encontrou o esposo morto no quarto. Tinha 45 anos de idade. Ottmar Mergenthaler morreu cedo demais para testemunhar todo o impacto produzido pela máquina que ele aperfeiçoou, ou para receber as homenagens como um do gênios inventivos de sua era. Thomas Edson referiu-se à Linotipo como a "Oitava Maravilha do Mundo". Ela provou ser verdadeira tal afirmação. A composição rápida, de tipo a baixo custo, que se tornou possível através do invento de Mergenthaler, promoveu uma revolução no ramo de publicações e na educação. Anteriormente ao desenvolvimento da Linotipo, os jornais e revistas eram escassos, finos e caros. Os livros didáticos, bastante dispendiosos, passavam de geração a geração. Até o final de década de 1880, apenas 77 bibliotecas públicas, nos Estados Unidos, continham mais de 300 livros! Como resultado direto da Linotipo, os horizontes da indústria de publicações se expandiram muito além dos sonhos mais fantasiosos do próprio inventor. As bibliotecas se multiplicaram em número e tamanho, contribuindo para que a taxa de analfabetismo no país decrescesse em mais de dois terços. Ottmar Mergenthaler foi o artífice de uma revolução mundial - uma revolução que atingiu e continua a atingir todos os que lêem. Seu pai, que não aprovara a sua vocação, reconheceu isso, ao dizer: "Eu tinha querido que ele fosse um mestre-escola, como fomos eu e meus filhos mais velhos, pois via na educação do jovem uma valiosa profissão. Contudo, com jovem sabedoria, ele viu com muito mais clareza que seu destino seria muito mais auspicioso; ao realizar esse destino, fez mais pela educação da humanidade do que eu jamais poderia sonhar." * (do livro "O progresso das comunicações diminui a solidão humana? Uma interpretação histórica das comunicações gráficas e audiovisuais desde a Pré-História até o Intelsat" - Rio de Janeiro, Editora Lidador - 1970.) |