TECNOLOGIAS A SERVIÇO DA COMUNICAÇÃO

 

(do livro “O progresso das Comunicações diminui a solidão humana? Uma   interpretação histórica das comunicações gráficas e audiovisuais, desde a Pré-História até o Intelsat” – de Theresa Catharina de Góes Campos. Editora Lidador, 1970)

 

A telecomunicação

Na história das telecomunicações, o problema do aumento da largura de faixa dos meios de transmissão vem sendo considerado como de máxima importância, de forma a possibilitar a utilização simultânea, cada vez maior, de grande número de canais telefônicos e canais de televisão.  Esse problema adquire maior significado se refletirmos sobre as ligações à grande distância, principalmente intercontinentais, onde os meios hoje existentes, os cabos submarinos e os circuitos-rádio, são insuficientes para atender às demandas, atuais e para o futuro, no campo das telecomunicações.  Em circuitos via rádio, a capacidade de transmissão aumenta quando se aumenta a freqüência; assim, os circuitos de micro-ondas permitem a utilização simultânea de um maior número de canais telefônicos ou de televisão.

 

Os satélites e sua utilidade

Desde 1960, o desenvolvimento tecnológico dos satélites foi acelerado.  Iniciou-se com o lançamento dos satélites refletores passivos “Echo I” e “Echo II”.  Surgiram, em seguida, os repetidores ativos de média altitude – “Telstar” e “Relay” – e, finalmente, o repetidor ativo síncrono de grande altitude, o “Syncom”. Todos esses projetos tiveram caráter experimental, sob a coordenação dos Estados Unidos e a participação de outras nações interessadas.  Em 1965, começou a operação comercial internacional de satélites com o “Pássaro Madrugador” (“Early Bird”), oferecendo oportunidade de transmissão de telegrafia, telefonia e televisão entre os Estados Unidos e a Europa.

O “Pássaro Madrugador” foi o primeiro satélite lançado pelo Consórcio Mundial de Comunicações por Satélites – INTELSAT -, com a colaboração de 53 países, inclusive o Brasil, que também é acionista do Consórcio.  O INTELSAT tem como objetivo estabelecer um sistema mundial de telecomunicações por satélites.  A firma COMSAT administra o empreendimento, além de executar as decisões.

O sistema mundial está sendo implantado de forma progressiva, utilizando quatro satélites síncronos de grande capacidade – mil e duzentos canais – e dois de capacidade média – quatrocentos e oitenta canais, assegurando com isso a cobertura mundial para as telecomunicações internacionais.

Em princípio, podemos afirmar que a utilização dos satélites nas telecomunicações encontra grande rentabilidade na operação comercial internacional de telegrafia e telefonia.  Estudos comparativos técnico-econômicos demonstram que esse meio de transmissão é bastante flexível, sob o ponto de vista operacional e, também, mais econômico que os cabos submarinos.  Uma rede mundial de comunicações, com vinte mil canais, interligando cem países, por meio de satélites, custaria 277 milhões de dólares – e quatro bilhões de dólares se fossem empregados cabos submarinos.

Atualmente, além de telegrafia e telefonia, os satélites do INTELSAT já vêm sendo empregados, em algumas ocasiões, para a transmissão internacional de televisão entre os Estados Unidos e Europa e Estados Unidos e Japão; na Europa, o “Molnya II” (não pertence ao INTELSAT) está retransmitindo programas de televisão entre Moscou e Paris, e vice-versa, como resultado de um acordo celebrado entre os dois países.  Observa-se que a demanda internacional de televisão é relativamente pequena, existindo, apenas, quando surgem acontecimentos especiais, e desde que haja interesse na transmissão de programas ao vivo.  A existência do “vídeo-tape” e a facilidade de transporte aéreo rápido, reduzem o interesse comercial na transmissão de televisão por satélites.

Além da rede mundial de telecomunicações do INTELSAT, outros campos de aplicação de satélites vêm sendo estudados; estão entre eles: o emprego para a radiodifusão de uso doméstico, para fins aeronáuticos, meteorológicos e para fins militares. Entretanto, sob o ponto de vista técnico, existem problemas ainda não resolvidos e com solução de difícil previsão; por exemplo:  a inexistência de foguetes de lançamento que possam levar os satélites, de pelo menos dois mil quilos de carga útil, a uma altitude de trinta e seis mil quilômetros.

Gravuras sonoras

O escultor e pintor Günter Maas exibiu numa galeria de arte moderna, em Colônia, as suas “gravuras sonoras”, utilizando os requisitos da técnica para tornar audíveis os sonhos pintados nas telas, e chegando a resultados que dependem muito das pessoas.  Isso porque o aparelhamento técnico pode ser empregado de forma individual, semelhante à individualidade com que o artista utiliza o seu pincel.  Günter Maas já organizou uma demonstração pública desse processo.  A parte mecânica é demasiado complexa para ser explicada em poucas palavras.  Mas, em resumo, podemos dizer o seguinte:

Os diferentes temas de um quadro – círculos, triângulos, quadrados,e espirais coloridas – são transmitidos a um fixador de imagens por meio de um dispositivo apropriado.  Esse fixador é um reprodutor sonoro que trabalha segundo os princípios fotoelétricos.  As estruturas, seus contornos, a escala dos matizes, são transformados em sons eletrônicos. As variações sonoras dependem da alacridade das cores óticas.  Contornos e detalhes, cores berrantes ou opacas determinam a escala musical. A cor vermelha tem um efeito de proximidade; o azul, de distância.  O inventor elaborou uma escala cromática e analisou suas possibilidade de mistura.  As telas são apalpadas pelo dispositivo; enquanto a vista aprecia a tela, o ouvido capta os sons transmitidos pelas formas e cores; trata-se de uma aventura sincronizada.  Ouve-se e se vê uma curva harmônica, linhas sobrepujantes, o rompimento de uma eclipse.  O som duro, produzido pelo preto, é suavizado pelos matizes azuis; o vermelho lança-se  de cima para baixo, um cinza leve ameniza.

Günter Maas diz que a sua filha de 12 anos reconhece imediatamente a música de suas telas.  Se a jovem reconhece a música das “gravuras sonoras” criadas por seu pai, ocorreu uma forma de comunicação, da pintura por meio da música.  Tudo aquilo a que as pessoas podem atribuir significações pode ser e é usado em comunicação.

A REVOLUÇÃO DA CIBERNÉTICA

No estudo da divulgação das idéias entre os diversos povos, bem como das mais recentes conquistas científicas, precisamos destacar a participação das máquinas de traduzir e a dos mecanismos postos a serviço da atualização de tais conhecimentos.  Existem cérebros eletrônicos e computadores automáticos, capazes de solucionar, num espaço de tempo muito reduzido, intrincadas operações que anteriormente exigiriam o esforço de toda uma equipe de especialistas.  O evoluir da técnica produziu a comunicação entre ciências antes separadas, possibilitando a criação de novas, como resultado da interpenetração e conseqüente fusão.  Assim, da Química e Biologia, surgiu a Bioquímica, para citar apenas um exemplo.  A associação íntima entre seres vivos e máquinas possibilitou a descoberta do coração artificial.  As limitações do meio ambiente poderão ser vencidas com os BIOCIPS, que resultam daquela associação.  Os aparelhos inteligentes tornaram-se os companheiros do homem nas grandes aventuras de nossa era.

A Cibernética é exatamente o estudo do controle e da comunicação nos animais e nas máquinas, conceito introduzido pelo matemático Norbert Wiener, em seu livro “Cybernetics”, editado em 1948.  São objeto de estudos cibernéticos assuntos aparentemente os mais diversos, tais como: o mecanismo do sistema nervoso dos animais, a programação das modernas máquinas de computação eletrônica, os sistemas automáticos de controle de produção, a auto-regulagem das máquinas, a teoria da informação, o processamento de dados, etc.  O computador, uma vez que o cientista lhe ensine lógica, passa a aplicá-la implacavelmente.  Foi, aliás, fabricando máquinas, que o homem compreendeu melhor que a lógica constitui uma associação de dados por meio de “laços lógicos”.  A Cibernética demonstra o seu grande alcance pela massa de colaborações modernas que recebe – processos lógicos, problemas de linguagem e comunicação, estudos médicos (principalmente de Fisiologia), conhecimentos de Engenharia, de máquinas, de Eletrônica, métodos de Física e de Estatística, além de muitos outros.

 

Contudo, o primeiro passo para compreendermos a Cibernética, a ciência que estuda as relações entre a máquina e o homem (relações entre o comportamento de um e outro),  deverá ser uma noção exata da máquina.  Enquanto a bicicleta é ferramenta, a motocicleta é máquina. Você sabe dizer se a lâmpada de azeite é máquina ou ferramenta?  É máquina.  Por que martelo, pinça e machado são ferramentas?  Porque dependem da energia humana, pelo que constituem um prolongamento de um membro do corpo humano. Tanto a máquina como a ferramenta funcionam com energia.  A ferramenta é um prolongamento material que o homem dá a seus órgãos, para aumentar a eficiência e o rendimento de sua ação.  Quanto à máquina, constitui um sistema fabricado pelo homem para executar uma certa ação, quando lhe é fornecida energia adequada.  De acordo com a Mecânica clássica, há três tipos de máquina: a que substitui o trabalho humano (neste caso, o homem apenas orienta a máquina) – exemplo: máquinas de artesanato; a que orienta a sua própria ação (motor de automóvel); a que determina a sua ação, a sua oportunidade ou não (um reservatório d’água com bóia).

Por outro lado, dentro da Cibernética, encontramos um ramo dedicado à Teoria do Sinal e da Informação – estudo da transmissão de mensagens nos sistemas de telecomunicação. Confunde-se os conceitos de energia de comando (a informação) e energia de execução (sinal). Observamos que, no telefone, rádio e televisão, as ondas (sinal), transportam a informação (energia de comando).  E o termômetro, é informação ou sinal, ou ambos?  Apenas informação.  Sendo uma máquina, utiliza, como energia, o calor, do qual resulta a informação.

Os aspectos técnicos do jornalismo e as projeções eletrônicas que servem para vislumbrar um futuro de intenso progresso científico foram debatidos, em Washington, pelos delegados da Vigésima Assembléia anual da Sociedade Interamericana de Imprensa, na sessão plenária de 30 de outubro de 1969.  Seis técnicos, representando diversas empresas eletrônicas, falaram sobre o desenvolvimento das comunicações previsto para os próximos 15 ou 20 anos, como um resultado direto do empregos da ciência eletrônica na publicação de jornais e revistas.  Um dos expositores afirmou: “Os progressos que se verificarão, daqui a 10 anos, nas redações dos jornais, poderão ser comparados à mudança que ocorreu quando a era da pena e do lápis terminou, com a invenção da máquina de escrever”.

O processamento eletrônico inicia-se com a apresentação dos dados, de uma forma sensível, a uma unidade de entrada. São diversos, os tipos de unidades de entrada: leitora de cartões, leitora de fita de papel, leitora ótica (para fichas manuscritas), telefonia (com discagem), disco magnético, fita magnética, tambor magnético, painel, “display” (utiliza uma tela de TV) e “data cell” (fita de acesso direto, semelhante a um disco – a fita é cortada em pedaços).  Na  memória do computador, colocam-se as programações (instruções que devem receber instruções).  Cada computador é projetado para determinados objetivos.  O computador com dimensionamento para um estabelecimento bancário terá que receber novos programas, antes de passar  a servir a uma firma de construção.  De qualquer modo, o computador não independe do homem, como erradamente se pensa.  Não raciocina.  Se o homem lhe der informações erradas, ele informará errado.  Também não se mostra infalível.  Como máquina, precisa de instrução para tudo ( mais ou menos assim, trocando em miúdos: “comece aqui”, “pare ali”, “desvie acolá”, “some”, “quando terminar, comece novamente”).  A unidade de controle fica pesquisando todas as outras unidades do computador, controla e executa cada instrução da memória, uma após outra.  Na unidade aritmética e lógica, o computador realiza operações logicamente.  A unidade de controle, depois de pesquisar a memória (que instrui, por exemplo, “subtraia”), lança a informação à unidade aritmética e lógica, transmitindo o resultado, logo em seguida, à memória.  Quando esta diz “última informação”, a unidade de controle instrui a unidade de entrada “última informação – pode parar de funcionar”.  As unidades de entrada são também unidades de saída, além da impressora e perfuradora e perfuradora ótica.  Chama-se programa ao registro de funções que resolveriam um determinado programa (“ler cartão”, “mover para impressora”, “imprimir”, “voltar ao início”).  Enquanto a linguagem de máquina é a codificação que a unidade de controle entende, denomina-se posição de memória às posições onde são armazenadas as informações.

Em uma entrevista publicada pelo “Science Journal”, da Grã-Bretanha, o professor Frank George, da Universidade de Londres, advertiu: “Tremo ao recordar a grande eficiência alcançada pela Gestapo na Alemanha nazista, sem contar com o procedimento mais primitivo do processamento automático de dados.  Com os computadores modernos, todo o processo de controlar e conseguir o que se deseja fica muito mais fácil.  Se os governos decidirem adotá-lo seriamente, o sistema de arquivos de dados obtidos por computação proporcionaria aos políticos um enorme controle sobre o comportamento de uma nação.”.   O cientista acrescentou temer que os países ocidentais estejam se encaminhando para uma nova forma de totalitarismo e que os bancos de dados possam vir a ser utilizados em um golpe de Estado totalitário.

Não sejamos tão pessimistas.  Encaremos o futuro com a esperança de que a Cibernética seja realmente um valioso auxílio para a realização integral da pessoa humana, alargando o seu campo de ação e fornecendo-lhe os meios de domínios e compreensão do universo.

Theresa Catharina de Góes Campos