OS PRIMEIROS REPÓRTERES

Os primeiros repórteres eram jornalistas sem jornal.  Os romanos do tempo de César, que residiam nas províncias, mantinham a seu serviço um ou vários correspondentes, em geral escravos inteligentes ou libertos, que os colocavam cientes dos acontecimentos públicos.  Não se limitam a dar notícias sobre debates judiciários ou combates de gladiadores; autorizados a assistir às sessões do Senado, transmitiam aos generais e pro-cônsules os discursos e votos dos senadores.  O próprio Cícero empregava muitos desses repórteres, que recolhiam as informações com o fim de divulgá-las imediatamente ao público, enquanto os autores de diários e memórias registram os eventos para as consultas da posteridade.  Os primeiros repórteres não pretendiam fazer história; sua atividade era periódica, interessada em assuntos variados, e com uma finalidade social imediata.

No livro de Alberto Romero, “O Assunto é Jornal”, encontramos o seguinte comentário:

“Se houvesse imprensa no tempo de Pôncio Pilatos, talvez o procurador da Judéia não tivesse perguntado a Jesus o que é a Verdade.  Porque antes disso algum repórter, naturalmente, já teria entrevistado o Filho do Homem  e escrito uma manchete assim:  Jesus: EU SOU O CAMINHO, A VERDADE E A VIDA.”

César, nos seus “Comentarii de Bello Gallico”, registrou que os acontecimentos de vulto alastravam-se pela Gália porque os gauleses os gritavam uns aos outros, através dos campos e das vilas; o que se passava em Genabo, de madrugada, era conhecido à tarde nos Arvernos, a 160 milhas de distância.

Jornal falado na Grécia e em Roma

Muito antes de Cristo já havia jornal falado na Grécia e em Roma.  O povo se reunia em assembléias políticas na Ágora de Atenas.  Sócrates ensinava na praça pública a sua filosofia, não tendo deixado nada escrito. Esopo, que demonstrou ser a língua a melhor e ao mesmo tempo a pior coisa do mundo, nada escreveu.  Está no mesmo caso Pitágoras, iniciador de tantas escolas filosóficas.

Os historiadores contam que, em Esparta e outras cidades gregas, as leis chegavam ao conhecimento do povo através da música e da poesia.  Em quase todos os campos da atividade espiritual, conferiram os gregos maior importância ao som da voz do que ao silêncio da letra.  E quando empregavam a linguagem escrita, era sempre na forma de diálogo, como se vê em Platão.  Na Roma dos Césares, o jornal falado saía da boca dos escravos ou libertos para as províncias afastadas.  Mesmo sem o telégrafo e o jornal, as notícias importantes e os sucessos de certas batalhas conseguiam divulgação muito antes que fossem anunciados oficialmente.

Boissier explica: “É que as notícias viajam por caminhos que nem sempre podem ser descobertos, circulam misteriosamente de um a outro, e a palavra, que tem asas, segundo a expressão do velho Homero, leva-as através de imensas distâncias, sem que se possa dizer precisamente donde vêm e por onde passam.” Visando dar uma explicação a isso, os antigos acreditavam na existência de uma divindade com cem olhos, cem bocas e cem orelhas – a Deusa Fama, da mitologia greco-romana.

No império de Alexandre Magno

No vasto império de Alexandre Magno, as informações das mais longínquas plagas chegavam ao conhecimento do Imperador através de funcionários especiais, chamados “os olhos e os ouvidos do rei”, os espiões da época.

O pregoeiro

Levando os acontecimentos ao domínio público, periodicamente, a comunicação assume uma finalidade social.  Em  épocas passadas, o intercâmbio indispensável de idéias e interesses empregava um veículo uniforme e monótono – o pregoeiro.  No capítulo dezesseis do Livro das Saturnais, diz Macróbio que o pregoeiro tinha a função de anunciar as festividades do culto, para evitar que os cidadãos esquecessem de cumprir os preceitos determinados pelo ritual de Numa Pompílio.  Esse foi o papel inicial do pregoeiro, posteriormente ampliado.

O “ceryse” entre os gregos, e o “praeco”, entre os romanos, tinham os mesmos encargos, embora com pequenas diferenças.  Nos jogos olímpicos, o “ceryse” anunciava os nomes de arauto; nas ruas da cidade, nas praças públicas, era ele quem convocava as assembléias; e, nos locais de venda, anunciava os preços e as condições das mercadorias.  O “praeco” dos romanos tinha um caráter mais exclusivo, de funcionário subalterno da Justiça, conclamando o demandante, anunciando os nomes das partes em litígio e as sentenças proferidas.  Estava presente, ainda, na vida política: ao abrir os comícios, convocava as centúrias com os seus pregões; quando se efetuava uma eleição, proclamava os eleitos.

O pregoeiro  ainda intervinha nos enterros, dizendo de quem eram e onde se realizavam, para conhecimento das pessoas que desejassem ou devessem assisti-los.  Em alguns autores, encontramos a afirmação de que o pregoeiro divulgava os objetos perdidos ou achados, tal como a coluna de alguns jornais atuais e os “serviços de utilidade pública” de algumas emissoras radiofônicas.  Como as ocorrências, os atos e as cerimônias de que falamos eram periódicos, isso exigia dos pregoeiros,  como repórteres da primeira fase do jornalismo oral, que estivessem a postos, a breves intervalos, para entrar em atividade.  Muitos escritores levam anos e anos preparando a edição de determinada obra.  Os pregoeiros, entretanto, tinham que informar, deviam comunicar imediatamente, para que a sua comunicação cumprisse o seu objetivo, atual e imediato.

Antecedentes da imprensa clandestina

Podemos citar como antecedentes da imprensa clandestina as inscrições  contendo críticas aos imperadores romanos.  Explica Boissier, em sua obra – “A Oposição no Tempo dos Césares”, que “essa oposição tomava formas muito variadas, segundo as circunstâncias e os tempos:  subia à superfície ou mergulhava na sombra.  Porém, corajosa ou tímida, visível ou oculta, não morria nunca: nessa flexibilidade e persistência residia sua força.  “Nas muralhas do fórum romano, apareceu a inscrição:  “Tibério hoje bebe sangue como ontem bebia vinho.”   

Quando muitos planejavam a queda de César, conspirando dia e noite, a aurora encontrava, algumas vezes, os muros da Roma Antiga cobertos de frases de ódio contra o Imperado.  Tratava-se de uma forma de difundir idéias e opiniões, embora anônima.  Os inimigos de César não queriam estar sozinhos na luta.

As cartas

As cartas também podem ser citadas como manifestações periódicas, pois contêm atributos jornalísticos.  Ocupam-se de fatos correntes, atuais; de assuntos variados; incluem interpretações desses fatos, numa posição de vanguarda no que se refere ao jornalismo interpretativo contemporâneo; sendo enviadas regularmente, têm a importante característica de “periodicidade”.  Numa época em que os meios de transporte e comunicação entre os homens eram difíceis e morosos, as cartas trocavam novidades.

Na fase da informação através das crônicas, publicações manuscritas, cartas, a preocupação de quem escrevia era a de captar e divulgar, com sabor de novidade, fatos que, tendo ocorrido semanas ou meses antes, passavam desconhecidos pela coletividade.

Epístolas de São Paulo

Ninguém poderá negar o conteúdo jornalístico das Epístolas de São Paulo, cuja leitura nos informa sobre um dos períodos mais decisivos da história da humanidade.  Através das cartas do antigo perseguidor dos cristãos, dirigidas aos Gálatas, aos Coríntios, aos Tessalonicenses e outros, ficamos a par das normas da vida cristã, dos perigos a que se expunham os que abraçavam a nova fé, dos conceitos e da influência da Boa Nova.

Epístola de São Paulo aos Coríntios – capítulo 16, versículos 5 a 15:

“Eu porém irei ver-vos, depois que tiver passado pela Macedônia:  porque tenho de passar pela Macedônia.  E talvez ficarei convosco, e passarei também o inverno; para que vós me acompanheis aonde eu houver de ir.  Porque não vos quero agora ver de passagem, antes espero demorar-me algum tempo convosco, se o Senhor o permitir.  E ficarei em Éfeso até a festa de Pentecostes.  Porque se me abriu uma porta grande, e espaçosa: e os adversários são muitos.  E se vier Timóteo, vêde que esteja sem temor entre vós: porque trabalha na obra do Senhor, assim como eu também.  Portanto nenhum o tenha em pouco: antes o acompanhai em paz, para que venha ter comigo: porque o espero com os irmãos.  E vos faço saber do irmão Apolo, que lhe roguei muito que passasse a vós outros com os irmãos: e na verdade não foi sua vontade o ir agora ter convosco: mas irá quando tiver oportunidade.  Vigiai, estai firmes, na fé, portai-vos varonilmente, e fortalecei-vos.  Todas as vossas obras sejam feitas em caridade. Rogo-vos, porém, irmãos, pois já conheceis a casa de Estéfanas, e de Fortunato, e de Acaico; porque são as primícias da Acaia, e se consagraram ao serviço dos santos.”

Como não havia telefone, nem telegrama, no tempo em que São Paulo vivia, ele tinha que dar todos esses avisos, e fazer todas essas observações e advertências através de suas epístolas.

Notícias manuscritas

Dentro do conceito cronológico da Idade Média, que vai do século V ao século XI, vejamos as diversas formas de comunicação, entre as quais: o teatro, com dramas litúrgicos, milagres, mistérios; as feiras; os vitrais das igrejas; a comunicação oral através dos jograis, menestréis e trovadores.  A única manifestação gráfica em forma jornalística teria sido “A Gazeta de Pequim” (King-Pao), que surgiu no ano 911, ou 908 da era cristã.  A princípio, adotava uma espécie de estereotipia na sua composição.  Depois, passou a usar “tabletes de cera” e, em seguida, tipos de madeira.  Era redigida por membros da Academia, pagos pelo governo imperial.  Ainda não foi comprovada, entretanto, a afirmação de que chegou a publicar três edições diárias, em cores diferentes: a da manhã, em papel amarelo; a do meio-dia, em papel branco; e a da tarde, em papel vermelho.  A cor branca assinalava a edição oficial, que informava os decretos e outros atos do Governo, trazia resenhas das audiências e dos conselhos e outros assuntos relacionados com a administração.

O King-Pao, todavia, foi uma exceção.  Deixemo-lo de lado e consideremos agora o incremento da comunicação manuscrita, com as gazetas e as cartas.  Considerado um dos espíritos mais esclarecidos do Quinhentismo, e superior a Madame de Sévigné, Peiresc chegou a escrever quarenta cartas por dia.  Mesmo que devamos encarar tal cifra como exagerada, isso representa muito, em termos de troca e transmissão de informações.

Desde o século XIII apareceu na Inglaterra uma verdadeira indústria da “notícia manuscrita”.  Dois séculos mais tarde, encontramos essa forma de jornalismo praticada intensamente na Itália e na Alemanha. Os nobres pagavam bem as notícias manuscritas, especialmente em Veneza, onde as chamavam de “AVVISI”.  Na Alemanha, denominavam-se “ZEITUNGEN”.  Essas folhas manuscritas eram redigidas por pessoas que disso faziam sua profissão, e se esforçavam para que o seu trabalho resultasse em proveito dos poderosos da época, dos ricos comerciantes ou banqueiros.  Podemos comparar os “AVVISI” aos atuais boletins das empresas comerciais.

As cidades italianas gozavam de excelente situação, nesse período.  Em 1338, o rei da Inglaterra tomou um empréstimo a dois banqueiros florentinos, que perderam, na transação, mais de um milhão de florins de ouro -  e nem por isso os banqueiros da cidade ficaram arruinados.  Florença, no século XV, era o maior centro comercial e artístico da Europa.  Quanto a Gênova, foi a principal potência marítima dos séculos XIII e XIV.  Mais um exemplo, portanto: quanto maior a evolução de uma sociedade, maior deverá ser a  comunicação entre os homens.  A descoberta da imprensa irá proporcionar maior desenvolvimento, na Europa Ocidental, ao nascente comércio de informação. O serviço postal, antecedido pelos pombos e os mensageiros a cavalo, ajudou o desenvolvimento da comunicação, assegurando-lhe:  periodicidade, circulação e atualidade.

Na Itália, as “gazetas” sucediam-se.  A origem do termo deve-se ao fato das folhas manuscritas serem vendidas ao preço de uma “gazeta”, moeda da época.  Mas o primeiro sinal do jornalismo germânico se encontra igualmente na profusão de manuscritos, espalhados no século XV: cartas de caráter íntimo que, no entanto, ficaram de tal modo populares que o seu número aumentou.  Essas notícias escritas à mão chamavam-se, como já dissemos anteriormente, “ZEITUNGEN”.  Apareceriam em datas incertas, somente quando acontecimentos de vulto motivavam a sua saída.  González-Blanco explica o sentido da palavra “ZEITUNG” como sendo “aquilo que acontece no tempo”, quer dizer, um acontecimento atual, a notícia desse acontecimento, a mensagem, a informação, terminando por ser aplicada ao relato de assuntos públicos, às comunicações sobre as vicissitudes políticas.

Embora tivessem um número limitado de leitores, as folhas manuscritas exerceram o papel de veículos de informação e orientação, dirigidos a grupos comunitários.

Alguns de seus redatores, porque disseram o que não deveriam divulgar, desagradando o público a que se destinavam, receberam punições.  Niccoló Franco e Annibale Capello foram executados como “caluniadores”, após terem sido réus dos tribunais da Inquisição.

No reinado de Elisabeth I, destacaram-se como noticiaristas: Pery, Locke e Chamberlain.

Na França, de 1409 a 1499, o “Journal d’un Bourgeois de Paris” (Jornal de um Burguês de Paris) noticiava escândalos, narrava anedotas, registrava a chuva e o bom tempo. Como os jornais atuais, o rádio e a TV, sempre transmitia as informações meteorológicas.

Os repórteres e redatores das folhas manuscritas receberam diversos nomes: “menanti”, “novellanti”, “repportisti”, “gazettanti”.         

Trovadores e jograis

Durante a Idade Média, a informação transmitia-se de boca em boca, na poesia e no canto dos trovadores e jograis.  Até o século XI, as notícias difundiam-se pelas cantilenas – estrofes breves, meio líricas, meio narrativas – que teriam seu conteúdo aproveitado na composição de gestas e canções.  Peregrinando por vilas e castelos, os jograis, ao lado do lirismo das baladas e pastorelas, dos “lais” e cantigas de amor e de amigo, entoadas ao som de violas, sanfonas, saltérios, alaúdes, cantavam e recitavam “gestas”, contos  satíricos, inspirados em discórdias e agitações, verdadeiras gazetas rimadas.

Viajavam de castelo em castelo, transmitindo as notícias através de conversas, canções e poemas.  Ouvidos pelos reis, bem como pelas pessoas que trabalhavam ou viviam nos feudos, os trovadores difundiram bonitas lendas, músicas românticas, histórias épicas... e também as críticas ao absolutismo dos monarcas.  Homens alegres, tinham a audácia de ser livres.  Cantavam as virtudes do cavalheiro e sua amada; compunham versos sobre a honra e a coragem.

Impressionante o fato de homens ignorantes como eles terem exercido um papel político na Inglaterra do século XIII.  Suas canções foram crescendo em audácia.  Os jograis, incentivados pelas autoridades, como ocorrera no tempo de Henrique IV, que mandou compor um romance para celebrar a entrada do Condestável Miguel Lucas em Granada, passaram depois a tomar partido, intervindo nas questões de interesse da coletividade e ameaçando a ordem estabelecida, que por vezes se arriscavam a atacar diretamente.  Essa liberdade do jogralismo já poderia ser chamada de “liberdade de imprensa”.  Entretanto, Carlos VI não mais a suportou; em 1395, proibiu que as canções fizessem menção ao Papa, ao Rei e aos Senhores de França, sob pena dos trovadores serem presos dois meses a pão e água.

Os trovadores ou menestréis recitavam as canções romanescas “da moda”. Refletiam as idéias  e os costumes do tempo, imbuídos de espírito religioso, sentimento de honra, de cavalheirismo.  Conservaram lendas, passagens mitológicas.  Tornaram possível o movimento do Romantismo.  De certo modo, fizeram “reportagens” sobre os acontecimentos da época.  Nas canções dos trovadores, em seus poemas, retratava-se ainda o conceito medieval da mulher: cercada de proteção, respeito, admiração e amor.  Ao mesmo tempo, uma qualidade sempre decantada pelo jogralismo foi a fidelidade, tanto masculina quanto feminina.

Até os meados do século XII, estavam em voga as “canções de gesta” que contavam as façanhas de Carlos Magno, de Rolando, de El Cid e outros heróis.

Através das “fábulas”, em que os animais falavam e agiam como seres humanos, criticavam-se os costumes da época.

Outro tipo de produção medieval eram os “romances”, poemas alegóricos de feição moral ou educativa.  O melhor no gênero foi o Romance da Rosa, por ter sido um retrato honesto dos tempos.  Todas essas obras são de cunho francês, todavia, a Alemanha produziu igualmente seus poemas épicos, sendo os assuntos preferidos: a lenda do Santo Graal, as façanhas de Siegfried e Brunhild.

A História da Imprensa considera os trovadores como tendo sido os primeiros jornalistas.

Eles, porém, nada deixaram por escrito.  E escrever um livro, relatando notícias que lhe pareciam importantes e precisavam ser divulgadas, transformou Marco Pólo num viajante famoso.  

Marco Pólo

Marco Pólo, com a sua narrativa pitoresca e floreada, fez jornalismo de aventura, semelhante ao que hoje tanto agrada ao público ávido de emoções e situações perigosas.

Toda a Europa leu “As Viagens de Marco Pólo”.  O valor da obra reside no fato de que chamou a atenção dos leitores para as regiões desconhecidas e a cultura do Oriente.  As descrições do veneziano tiveram como primeiras conseqüências:  maior número de viagens para o Oriente e o estabelecimento de um intercâmbio entre Leste Oeste.

O “repórter” Marco Pólo viajou para o Oriente quando tinha quinze anos de idade, acompanhando seu pai e seu tio.  Ainda faziam parte da comitiva dois frades dominicanos.  A família Pólo partiu no ano de 1471, com destino a Pequim, tendo a travessia durado mais de três anos e meio.  Nessa longa viagem foram percorridas: a Ásia Menor, a Pérsia, o Afeganistão, o Planalto do Pamir, o Turquestão Oriental e o Deserto de Gobi.  Em 1457, os mercadores venezianos chegavam ao palácio imperial do Chang-Tu; em seguida, eram recebidos por Kublai-Khan.

Marco Pólo retornou a Veneza depois de permanecer na China longos anos; nesse país exerceu vários cargos e executou missões importantes, uma delas a de conduzir a Princesa Kogáti a seu noivo, na Pérsia.

Caindo prisioneiro dos genoveses, quando Veneza estava em guerra com Gênova, Marco Pólo ditou a história de suas aventuras a um dos companheiros de cárcere, o escritor Rusticiano de Pisa.  A obra fala das maravilhas chinesas: as tendas de couro para viajar, os palácios, o serviço de mensageiros e de bombeiros, as pontes, os barcos fluviais; há também, relatórios e observações topográficas.

No século X, no mundo muçulmano, os homens empregavam para a sua comunicação os pombos-correio. Marco Pólo afirmou que, no Império dos Mongóis, duzentos mil cavalos eram utilizados para a transmissão de informações.  O cavalo, como meio de transporte, iria favorecer a posterior multiplicação dos estafetas.

A descrença de muitos, com relação às narrativas do veneziano, originou o apelido de Marco Pólo – “II Millione”, porque achavam que ele falava constantemente em milhões, em milhões de habitantes, em milhões de sacos de ouro, de carretas de seda.  Não se pode deixar de reconhecer, porém, que o seu livro influenciou consideravelmente a mente dos aventureiros e navegadores dos fins da Idade Média.  O próprio Cristóvão Colombo leu “As Viagens de Marco Polo”, fazendo anotações em mais de setenta das suas páginas.  Surpresos e maravilhados, todos os leitores desejavam conhecer o país das riquezas inauditas.

Theresa Catharina de Góes Campos

(do livro “O progresso das comunicações diminui a solidão humana?  Uma interpretação histórica das comunicações gráficas e audiovisuais, desde a Pré-História até o Intelsat” – de Theresa Catharina de Góes Campos.  Editora Lidador, 1970).