POBREZA E MEIO AMBIENTE

Agnes Marta Pimentel Altmann

Sabidamente, a redução da pobreza e a proteção do meio ambiente constituem atualmente os dois maiores e mais urgentes desafios para os países em desenvolvimento.

Não obstante, apesar da crescente tomada de consciência dos governos destes países de que é necessário aliviar a pobreza e proteger o meio ambiente, visando o crescimento econômico, a dificuldade está exatamente em encontrar uma fórmula que solucione simultaneamente num pacote único de decisões políticas.

Economistas especializados em desenvolvimento argumentam que não é possível atacar os dois problemas ao mesmo tempo, porquanto ao se reduzir um tende-se a exacerbar o outro, tendo em vista a relação intrínseca porém contraditória entre pobreza e meio ambiente.

Como é possível debelar a pobreza sem exaurir o meio ambiente, e como se poderá evitar a destruição da natureza sem comprometer a sobrevivência dos pobres? - Eis o grande dilema enfrentado pelos governos nos países em desenvolvimento, sobretudo diante de uma outra agravante – a não menos estarrecedora e complicada problemática explosão demográfica que tanto contribui para a proliferação da pobreza e degradação ambiental.

Tão complexo, sem dúvida, encontrar meios de conciliar metas a curto prazo contra a pobreza com a preservação do meio ambiente a longo prazo, em prol das gerações futuras que dependerão da terra tanto quanto depende a presente geração, posto que nem os doadores internacionais nem os governos dos países em desenvolvimento, engatinhando ainda na pré-história da economia tão predatória quanto pauperizante, se mostrar capazes de elaborarem uma agenda comum de combate aos dois problemas, a fim de minorar os conflitos entre o que é benéfico para os pobres e o que é benéfico para a natureza.

Carecem os governos dos países subdesenvolvidos nas áreas de maior número de miseráveis – África, Ásia e América Latina, onde se concentram países habituados a economias inflacionárias -, de tomada de decisões políticas conscientizadoras que implementem urgentemente a “solução” dessa inestrincável relação entre pobreza mundial e conservação do meio ambiente. Enquanto tais governos negligenciam e subestimam a gravidade de tais problemas, deixando de assumirem compromissos para a promoção do “desenvolvimento sustentável” e eqüitativo em meios ambientes irrigados para a elaboração de alternativas de desenvolvimento nas florestas tropicais, etc., - milhões de miseráveis se debatem entre o nascimento e a morte, com alimentação insuficiente, moradias precárias e especulativas, falta de higiene e cuidados médicos em todos os sentidos, carência de bens materiais e de 
qualificações especializadas. Mesmo os programas de controle de crescimento demográfico não conseguem satisfatoriamente reduzir a explosão populacional nas áreas mais carentes.

Desse modo, nem se consegue combater efetivamente a miséria, em vista do vertiginoso aumento populacional que transforma a problemática da miséria numa verdadeira bola de neve, nem tampouco pouco se toma providências para evitar a exaustão do meio ambiente nas áreas onde a capacidade de sustento da terra é escassa e insuficiente na geração de excedentes por “insuficiência” de tecnologias agrícolas...

Dadas as atuais tendências da explosão demográfica nos países subdesenvolvidos, alguns não obstante detentores de bom potencial para a agricultura, como é o caso do Brasil, mas cujos governos alegam a permanente “falta de recursos” para intensificar os esforços na criação de novos empregos, fornecimento de infra-estrutura, investimentos, pesquisas agrícolas e apoio tecnológico necessários para adotar técnicas agrícolas modernas de alto rendimento às condições e circunstâncias regionais, o desafio de combate à miséria e proteção ambiental pelo menos e necessariamente deveria começar pela redução da explosão populacional nos meios ambientes ecologicamente frágeis – florestas tropicais, áreas secas e íngrimes e favelas das grandes áreas urbanas, mesmo sabendo que os impactos são limitados.

Essa alternativa parece ser a mais viável se se pretende alcançar resultados ainda que “mínimos” para a dupla problemática da miséria e da proteção ambiental, enquanto não se consegue produzir a “revolução” na produção agrícola nos países em desenvolvimento que gere empregos rurais e urbanos para todos, sem exaurir a natureza.

Em que pese quaisquer outras alegações para adiar a solução das problemáticas, o importante seria pelo menos desfazer incompreensões distorcidas da noção do mundo em que vivemos, ao se pensar que a Terra será sempre nossa “eterna mãe Natureza”, já por si mesma incapaz de prover subsistência... 

A constatação do fim da natureza não é uma ficção científica, basta que se leve em conta as atuais mudanças e ameaças ambientais globais.

Agnes Marta Pimentel Altmann

Bacharelado em Direito e Mestrado em Relações Internacionais

Obs.: Artigo publicado no Jornal de Brasília, em 20/02/95.