O Turismo e a desumanização do Ócio e do Lazer Agnes Marta Pimentel Altmann A 'ganância' de explorar qualquer atividade com potencial para extrair lucros, como a exploração do "ócio e do lazer", desnatura o turismo como mais um mero 'bem de consumo', assim como as demais necessidades da vida: saúde, educação, transporte, moradia, meio ambiente, etc. Representada no mais das vezes por enganosas propagandas publicitárias que incitam o desejo de viajar, 'pragmatizou-se' até mesmo o direito ao 'ócio e lazer' através de pacotes turísticos da "felicidade" massificada, segmentada e operada por agências de viagens, operadoras de 'pacotes', hotelarias, empresas aéreas, maleteiros, 'souvenirseiros', enfim toda uma 'frota mercante' de exloradores de 'turistas', banalizando o ócio e o lazer, esse 'direito' duramente conquistado, desejado e necessário até para, no plano internacional, distender as relações humanas, culturais, internacionais, etc., bem além do menoscabo não só do fator psiquíco - base do complexo fenômeno turístico, como também do fator jurídico, quanto à violação corriqueira das próprias regras contratuais, de que tanto dependem, para a própria sobrevivência, os que tais lucros auferem com a exploração do turista nessas 'viagens programadas'... que findam por se tornar em penosas 'romarias a hóteis', mormente exaustivas, inseguras, desconfortáveis, custosas, e do seja lá "o que Deus quiser", sempre com desculpas de última hora, supervenientes, seja de substituição de hóteis, da ausência de guias capacitados, e "quebra-galhos" para os quais só mesmo 'espírito aventureiro' agüenta tudo o mais não garantido ou que não constou do contrato, amparados, ademais, com abusivas cláusulas de exoneração de responsabilidade... além de roteiros pobres e deficientes, que somando na ponta do lápis e papel, revertem sobretudo em lucro para os que ditam unilateralmente as tais regras desses famigerados pacotes turísticos... Muitas vezes sem a menor garantia de 'idoneidade mercadológica', com pouca ou nenhuma garantia enquanto bem de consumo, pago antes mesmo de se obter a mercadoria e ademais, normalmente, subordinadas às 'intempéries climáticas', por conta e risco do turista que as subscreve, sem direito a nenhuma compensação econômica ou devolução do dinheiro pago, de modo imediato!... ... Se o viajante não tiver mesmo aquela 'vocação inata' de "turista", i.e. o 'me engana que eu gosto e estou pagando para ver', de ser tratado mundialmente como um 'bon vivant', que não tem o que fazer, ou onde gastar, 'afortunado' só por estar viajando de um 'lado para o outro', tomando chá de aeroporto com horas intermináveis de atrasos, exíguas acomodações a bordo, "lanches sintéticos" classe turista, hotéis três estrelas camuflados de "5 estrelas", classificados como 'classe turista', por seu luxo aparente... 'Turista' esse visitante tão indesejado quanto espoliado e que ainda assim simplesmente faz vista grossa aos maus tratos sem se importar muito com seus 'direitos humanos', desde a hora de colher vistos, risco de até perder o próprio passaporte: o empregado foge com tudo... Mas turista é "turista", diferenciado de todas as demais classes de viajantes, o mais menosprezado... embora seja fonte de renda de muita gente dentro ou fora do País domiciliar, e que não obstante, se sujeita a dormir em hotéis "categoria turista", uns verdadeiros 'antros'pó-cêntricos, sujos, desconfortáveis, com seus colchões 'moles', sem opção nenhuma dos ortopédicos, nem TV a cabo, somente se pagar adicionais absurdos, ou pelo menos 20 minutos de internet grátis por noite, para compensar a falta de travesseiros limpíssimos, tanto que muitos turistas andam 'feito snoopy' com lençol e travesseiro na 'mão', ainda que tenha de pagar 'excesso de bagagem'... cônscios de que uma vergonhosa maioria dos tais 'bons hotéis' simplesmente não oferecem sequer travesseiros mas 'molambos enfronhados', além do mais sem café da manhã, a não ser a preços que valem um mês inteiro de refeição no país mais caro do mundo, (em geral os subdesenvolvidos)... a fazer valer o 'ditado': "quem quer conforto fica em casa", já que a depender de ficar em hotéis que mesmo caros não têm qualidade nem condições mínimas de higiene a justificar os preços que faturam - sobretudo em alta temporada -, quando uns pagam caro demais contudo vão parar mesmo nos "similares"... Por certo muitos desses 'cotadíssimos' hotéis desfrutam de permissão e propaganda baseadas em falsa aparência como se fossem bons estabelecimentos disponíveis para 'turista' no mercado hoteleiro... Preciso mesmo ser 'turista' para se submeter a essas aventuras, e ainda com o mais bem humorado 'deixa pra lá', pagando taxas, pedágios que só dele são cobradas para nunca mais serem devolvidas!... Abuso de poder econômico essa exploração gratuita do turismo nacional e mundial, respaldado em panfletarismo, sem nenhuma garantia de autenticidade quanto à seriedade da prestação dos serviços e do respeito por parte dos que lucram ou se beneficiam de alguma forma com as expectativas psicológicas como as que levam o turista a se lançar em jornadas até perigosas, feito "Quixote" que anda sem rumo, sem saber por onde nesse mundinho afora... hoje cada vez mais inseguro, poluído, globalizado, padronizado, 'pop', tatuado, pornografado em toda parte pelos muros, pelos mares, pelos ares... e muitas vezes chegando à conclusão: bem melhor é 'ficar em casa', de preferência lá na sua praia predileta... Quanto a isso, felizmente, no Brasil, há muitas para todos os gostos paisagísticos, econômicos, faixas etárias, sociais, etc.Dos hotéis... Pode-se citar os nomes? ? 'Cuidado!'... como 'turista' não se tem direito de 'reclamar' nada, tão somente de 'achar tudo muito lindo'... até para não perder o 'direito de viajar', sem ser ironizado por tudo e por todos, onde chegar, com toda 'sorte' de depreciação e 'hostilidades gratuitas', já que hoje é fácil e não se cobra punição nenhuma o depreciar pessoas rapidamente, veiculando pela internet... Mas citar a empresa tal, x, k, ou y precisa-se ter cautela!... Seu Neruda é hotel? - Estando em Santiago do Chile repare nesse nome... Pena... vulgarizam tudo: até mesmo nomes de pessoas e ainda mais quando tão caros à literatura latino-americana... Agnes Marta Pimentel Altmann Mestrado em Relações Internacionais |