DECLARAÇÕES DE "IN" e "OUT"

Tereza Halliday

Jornalista e analista de discurso

Querido João Alberto:

Fomos colegas de redação no tempo em que você assinava a coluna Jovem Guarda e eu a página Mundo, Vasto Mundo, no Suplemento Azul do DP. Hoje, como sua fiel leitora, comento sua nota na edição de 15/6/2003, p.D3: "Out - As horríveis placas do coqueiral plantado em plena Avenida Boa Viagem - um visual de Terceiro Mundo". Elas não são modelos de estética e já foram criticadas por obstruírem a vista do mar. Não conheço o idealizador e mantenedor do Parque dos Coqueiros, mas vi que atendeu às reclamações, baixando a altura das placas.

 Com sua sensibilidade, olhe  além das placas, João.  Atente nos coqueiros doados para aquela área.  São um dos visuais mais positivos e dignos de conservação em nossa depauperada paisagem - uma das raras ações construtivas de iniciativa privada individual, em prol de um espaço público carente de preservação ambiental.  Se o preço a pagar por este bom exemplo de cidadania for uma série de placas expressando a afetividade e o ardor ecológico dos doadores dos coqueiros, é  preço  aceitável.

Na mesmíssima praia, você encontra coisas verdadeiramente horríveis para declarar "Out", com a força do seu prestígio de líder de opinião. Eis algumas:

- As lajes arrancadas da amurada do calçadão, por falta de educação para preservar os bens públicos como patrimônio de cada um.

- A sujeira entranhada, ratos, baratas e o fedor no calçadão, por onde caminham milhares de contribuintes. Aquele chão só conhece vassoura.  Jamais toma banho de água, sabão e escova, daí seu cheiro e visual de Quarto Mundo.

- Os esgotos vomitando água contaminada  na Conselheiro Aguiar e transversais, faça chuva ou sol - eterno jogo de empurra entre Prefeitura, Compesa e donos dos imóveis em frente à porcaria.

- As calçadas que expulsam pedestres: esburacadas,  atravancadas, desniveladas por rampas de garagem.  Os proprietários-responsáveis  são gente de bom gosto para várias coisas, mas descuram de seu dever de mantê-las limpas, planas, desobstruídas, do jeito que admiram em Madri, Paris, Lisboa e Londres. Poderiam investir na calçada em troca de desconto no IPTU. E devem ser fiscalizados.

Use sua influência de colunista querido e respeitado para uma campanha declarando "IN"  o zelo pelas calçadas, assim como o apadrinhamento de coisas da cidade,  sem rogar subsídios oficiais, nem verbas de incentivo:  adotar  banco ou canteiro  de praça, árvore, placa de rua  (como é deficiente a sinalização de nossas ruas!),  in memoriam de um morto querido ou por espírito de cooperação com os vivos e a vida.  Sua voz, meu caro João Alberto, terá repercussão, tanto junto aos listados no famoso anuário Sociedade Pernambucana,  como  em gente menos notável que também curte a sua coluna - todos com impulsos latentes de bons cidadãos, capazes de ajudar o Recife  a ter um visual de Primeiro Mundo. Um carinhoso abraço. terezahalliday@hotmail.com

 

Se você não vive no Recife, aqui vai uma contextualização para este artigo, de cunho muito local:
 
João Alberto é um dos dois mais destacados colunistas sociais da província, assinando uma página diária que leva seu próprio nome. Nela, uma seção intitulada  "In/Out", declara "in"coisas que estejam na moda ou atos e hábitos dignos de elogio. E declara out, coisas bregas, fora de moda, ou que o jornalista considera critiváveis e repudiáveis.
 
Recebi vários e-mails sobre esta minha matéria, todos de endosso, inclusive da Associação dos Moradores de Boa Viagem.
 
Um abraço.

Tereza Lúcia Halliday, Ph.D
Criação, Análise e Assessoria de Textos
www.terezahalliday.com
    

Rua Setúbal, 1700/901 - 51130  - Recife, Pe

 Fone/Fax: (81) 3341-5286

"Palavra quando acesa, não queima em vão".

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