Alquimia matrimonial

Agnes Marta Pimentel Altmann

O amor é o que dá sentido à vida. Por isso muitos reconhecem que não se pode viver sem amor, já que ele é o fim por excelência. Para bem obter essa dádiva, genuinamente espiritual, é imprescindível apostar primeiro nos valores interiores. A vida é muito longa – e às vezes demasiado curta -, e para essa viagem a dois é fundamental a escolha do melhor equipamento humano, visto que, como toda empresa, antes ou depois sempre passa por crises, sua etapa de balanço e revisão. Entretanto, se os conteúdos mais íntimos dos enamorados são inconsistentes, certamente, cedo ou tarde, a relação se deteriorará.

De todas as causas dos relacionamentos amorosos, sem dúvida, a beleza (formosura física) é o incentivo a que poucos resistem, contudo, diga-se logo, não é o amor mesmo. Quando se valoriza em excesso o puramente externo em detrimento do caráter, da forma de ser, a capacidade de entrega, os valores humanos, as virtudes ou a firmeza de crenças sólidas e comprometidas, os resultados negativos logo aparecem, desestabilizando a relação.

Com efeito, todo relacionamento amoroso precisa de uma filosofia comum ao casal; uma forma similar de entender a existência, tanto nas crenças como nas atitudes básicas, uma compreensão parecida da realidade. Sem se ter critérios relativamente iguais as diferenças de interpretação, os pontos de vista diametralmente opostos provocarão desentendimentos, culminando na impossibilidade de se viver a realidade diária sob o mesmo teto, quando o drama da convivência atinge seu clímax.

A menos que se conte com a resignação para levar a cabo a relação ao custo que for, a despeito das disparidades em que os pontos de encontro que cada um leva em seu interior não convergem, e só a prática da tolerância minimizará os contrastes do pluralismo e da diversidade, se ambos estiverem dispostos a pagar o preço. Em muitos casos, a certa altura de muitos relacionamentos, que no início eram tão apaixonados fisicamente, a tolerância é necessária até mesmo no sentido mais amplo das relações humanas, conforme se apregoa politicamente para tornar o mundo menos conflituoso. E nesse sentido, segundo o citado autor, pela tolerância é de se pressupor que “toda convivência é perfectível”!

O cristianismo situa o amor entre Homem & Mulher no singular, com profundidade e a grandeza que deve ter, em um plano muito elevado, por considerar que se trata de uma das maiores empresas da vida. Nesse sentido é que uma religiosidade profunda, coerente e comprometida é o baluarte do matrimônio, pois acima de tudo o “amor é uma escolha espiritual e uma fusão de almas”, (Ibn Hazm).

Entretanto, como a maioria dificilmente pensa na relação como algo a construir, pois que nem sempre mesmo estão em tudo de acordo, nos mínimos detalhes, há que se evitar empresas de alto risco, mesmo levando em conta a premissa de que o “Homem é um ser amoroso”... Visto que o Amor não é arbitrário mas seletivo, eis que o fato de se ter a liberdade de escolher, sem se ver por ninguém constrangido a fazer a opção por “esse” ou por “aquela”, eleger é selecionar e renunciar automaticamente às “outras possibilidades” no intento de sistematizar a vida em comum acordo.

Outrossim, sem a escolha voluntária do compromisso fiel, inteligente e responsável, ademais sem o resgate do verdadeiro sentido antropológico da sexualidade – não se pode pensar em relação matrimonial autêntica, data vênia...

Ref.Bibliográfica: Enrique Rojas, El amor inteligente, Planeta, Bs.As, 1977.

 

São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização por dano material ou moral decorrente de sua violanção. CF, art. 5o.,X.

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