Fórum
entrega contribuição sobre política de TV Digital ao Ministério das
Comunicações
Comentários
e proposições do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação
(FNDC) identificaram oito pontos e outras cinco observações
complementares que não foram consideradas ou abordadas de forma
abrangente nos três documentos postos em debate público pelo Minicom no
final de junho. Cumprindo as resoluções de seu último Congresso, a
Fenaj teve participação ativa na formulação do documento e nas
articulações programadas para divulgar nacionalmente a proposta construída
no Fórum
Nesta
quinta-feira, dia 17/7, foi entregue oficialmente ao Ministério das
Comunicações documento com os comentários e proposições do Fórum
Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) sobre a introdução
da tecnologia digital na comunicação social eletrônica brasileira ( para
acessar a íntegra, clique aqui). Foram três
semanas de trabalho para consolidar a contribuição de mais de 40 páginas,
que analisa e propõe alternativas às diretrizes postas em debate público
pelo Ministério das Comunicações no último dia 25/6. Para a Executiva
do Fórum, "a introdução da tecnologia digital na comunicação
social eletrônica - dada a importância crucial que esta tem na configuração
das relações sociais, exercendo decisivas determinações sobre a
economia, a política e a cultura - é a mais importante questão desta área
com que o país se defronta nos últimos 50 anos". (leia na tabela
abaixo as principais propostas)
No
ano passado, o 30º Congresso Nacional dos Jornalistas, sediado em Manaus
(AM), referendou a posição de ter como uma das prioridades da categoria
a disputa no processo de definição da digitalização da comunicação
social eletrônica. O enfoque proposto pela direção da Fenaj não só
foi bem aceito como assumido como uma das bandeiras do FNDC duas semanas
depois, dentro da dinâmica da IX Plenária do Fórum, realizada no Rio de
Janeiro. Hoje, a Fenaj está presente não só na Coordenação Executiva
do FNDC, com seu secretário-geral, Celso Schröder. Desde a instalação
do Conselho de Comunicação Social do Congresso Nacional, o jornalista
Daniel Herz, vice-diretor de Relações Institucionais da Fenaj, coordena
a Comissão de Tecnologia Digital formada pelo Conselho a pedido da Mesa
do Senado Federal para divulgar um parecer sobre o tema.
O
esforço da Fenaj para garantir a maior participação possível da
sociedade brasileira e dos jornalistas no processo em curso não deve
terminar com a divulgação do documento entregue ontem. Uma das
reivindicações do Fórum pretende garantir a participação de um de
seus representantes no Grupo Executivo de Trabalho (GET) do Projeto de TV
Digital que está sendo criado pelo governo federal. Na esfera do CCS,
Herz também está disputando a vaga aberta para o Conselho no GET.
Presença
antiga
A
Fenaj acompanha de perto este processo pelo menos desde 1999, quando
iniciou seu primeiros estudos. Como registra o documento do Fórum, na
Audiência Pública realizada pela Anatel em 29 de maio de 2001 para
debater a "utilização da tecnologia digital na transmissão
terrestre de televisão" representantes da diretoria foram os únicos
integrantes da sociedade civil organizada a se manifestarem
"defendendo a necessidade de se priorizar as definições do modelo
em relação à escolha da tecnologia, também sustentando que o modelo
deveria ser concebido a partir das afirmação das necessidades sociais,
tal como hoje propõe o Ministério das Comunicações".
PROBLEMA IDENTIFICADO
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PROPOSTAS DO FNDC
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1
Subestimação da cultura como elemento de potência
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A TV DIGITAL precisa
ser abordada como uma instrumentação tecnológica que, além
de relações de mercado, consistirá extraordinárias
potencialidades culturais que devem ser tratadas com a mesma
atenção atribuída aos aspectos tecnológicos e industriais do
projeto. A orientação dos meios de produção de cultura para
o desenvolvimento do país precisa ser reconhecida como fator de
potência do país, na medida em que fortalece a maior riqueza
da nação, que é seu povo. Além do componente humanizador e
de afirmação da autonomia estratégica e da soberania
nacional, esta abordagem deve considerar que a produção
cultural – expressa na arte, na informação e no
entretenimento – crescente importância econômica, gerando
mercados que, em escala mundial, alcançam a casa das centenas
de bilhões de dólares.
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2
Omissão em relação à produção de conteúdo
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TODA A INFRA-ESTRUTURA
e a instrumentação tecnológica e técnica necessária à
digitalização da comunicação eletrônica tem a finalidade
precípua de constituir base para o trânsito de conteúdo, seja
sob a forma de produtos audiovisuais, como de outros serviços
adicionais, inclusive os interativos. A criação de condições
para que produção brasileira de audiovisual e de outros conteúdos
digitais ocupe os espaços que estão sendo criados é tão
importante quanto o desenvolvimento da infra-estrutura que será
instalada, sob pena de simplesmente ampliarmos a importação da
produção audiovisual que já domina o mercado nacional. Esta
oportunidade deve ser aproveitada, também, para capacitar o país
a ser protagonista na disputa do mercado audiovisual
internacional e, especialmente, para aproveitar a demanda por
conteúdo audiovisual digital (novos formatos, linguagem,
interatividade) e também de outras modalidades, que estão
constituindo um mercado, ainda em aberto, que o Brasil deve se
propor a ocupar.
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3
A injustificável concentração na digitalização
da TV aberta
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A DIGITALIZAÇÃO da
comunicação eletrônica deve ser abordada no seu conjunto,
pois tanto a TV aberta, quanto o rádio e as diversas
modalidades de TV por assinatura (TV a cabo, MMDS e DTH)
incorporarão esta evolução tecnológica quase simultaneamente
e gerarão impacto uns sobre os outros. Como todos estes serviços
podem compartilhar diversas aplicações tecnológicas e soluções
comuns e contar com uma mesma infra-estrutura de produção
industrial, que necessita dramaticamente ganhar escala, é
imprescindível que o equacionamento tecnológico, econômico e
político que se está atribuindo à TV aberta se desenvolva
também em relação aos outros serviços, com a formulação de
um modelo global para a digitalização da comunicação social
eletrônica, otimizando esforços e recursos e evitando os
impactos negativos que o tratamento isolado fatalmente ocasionará.
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4
Omissão em relação à importância do software
no processo de digitalização
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A INDÚSTRIA e a produção
nacional de software deve ser tratada com a
mesma atenção que se atribuiu à indústria eletrônica, pois
está presente no interior dos chips e semicondutores, nas
ferramentas que produzirão o conteúdo (audiovisual ou outros)
da TV digital, nos equipamentos de transmissão das emissoras e
nos equipamentos receptores-decodificadores dos usuários. O
desenvolvimento das centenas de aplicativos de software, middleware
e firmware necessários ao desenvolvimento da TV digital
e dos demais serviços de comunicação eletrônica
digitalizados tem tanta importância estratégica e econômica
como a produção industrial dos equipamentos.
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5
Timidez nas definições sobre os novos cenários
de competição
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É NECESSÁRIO ir
muito além da simples e irrisória promessa de não "negar
a entrada de novos competidores" no mercado. O Brasil não
pode renunciar a uma das principais inovações decorrentes da
digitalização, que é a multiplicação da disponibilidade de
canais e freqüências, que pode viabilizar o ingresso de novos
competidores e atores – inclusive em bases não comerciais –
na comunicação social eletrônica. O mercado brasileiro tem
limites e o número de operadores de TV aberta também não será
ilimitado. Por isso a nova realidade da TV aberta deve ser
pensada a partir de uma equação a ser estabelecida para
assegurar tanto um mercado competitivo e viável, como o
atendimento das demandas sociais, atuais e as que serão
enunciadas quando houver percepção da potencialidade gerada
pela digitalização.
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6
Expectativas exageradas em relação à
interatividade pretendida na TV aberta
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SEM PREJUÍZO do
desenvolvimento de estudos para otimizar o papel que a TV
digital pode cumprir na promoção da exclusão digital, é
preciso considerar a possibilidade de mobilizar com este mesmo
objetivo o rádio digitalizado e, imediatamente, serviços como
o de TV a cabo – cujas redes atualmente cobrem 11,2 milhões
de domicílios (quase 40 milhões de brasileiros) e, a médio
prazo, podem cobrir cerca de 80% dos domicílios com receptores
de TV. Também os serviços de telefonia fixa e celular podem
proporcionar alternativas. Todas as possibilidades indicadas
podem proporcionar soluções tecnológicas mais simples e
proporcionar resultados mais rapidamente e de forma mais econômica
do que a futura TV digital.
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7
Omissão em relação a alternativas
emergentes, como a tecnologia chinesa
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O BRASIL não pode
desconsiderar alternativas como a do sistema chinês de TV
Digital, em fase final de desenvolvimento, que adota soluções
tecnológicas de perfil sócio-econômico muito mais próximas
do que as dos países que originaram as três tecnologias hoje
dominantes. Deve ser avaliada, com urgência, a possibilidade de
cooperação para o desenvolvimento de alternativas tecnológicas
comuns entre Brasil e China, considerando não apenas seu
mercado potencial de quase 350 milhões de televisores, como por
ter este país, hoje, o único Estado do mundo detentor de
capacidade de transferência de tecnologia na área de
semicondutores.
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8
Forma adotada para abrir o debate sobre a
digitalização da mídia
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OS ERROS cometidos na
abertura do debate sobre a digitalização podem ser
considerados acidentais, não contradizendo as manifestas intenções
do Ministério das Comunicações de democratizar o processo,
mas mostram que ainda não há suficiente clareza em relação
à dimensão histórica da tarefa. A condução da digitalização
da mídia eletrônica por políticas públicas inverte o
processo que levou os sistemas de mídia a se estruturarem
sempre mais "de fato" do que de direito, o que coloca
em cheque relações de poder constituídas no país nas últimas
décadas. Além disso, a inédita mobilização das forças econômicas
de diversos setores, da inteligência e da sociedade civil em
geral para o alcance dos objetivos propostos exige um esforço
extraordinário. Por isso, o Ministério tem que perceber que não
há como conduzir este processo apenas administrativamente. Sem
uma ampla participação da sociedade, não haverá sucesso, o
que implica em se formalizar cuidadosamente condições para que
viabilizem esta participação, indo de consultas públicas até
os meios extraordinários que se façam necessários, o que é
imprescindível para que se gere a base de consenso e os
compromissos de todos os agentes envolvidos.
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