Rygaard - Uma história oral

 

Publicado no Diário de Pernambuco – 24/07/2003, p.A-3:

RYGAARD - UMA HISTÓRIA ORAL

Tereza Halliday

Jornalista e analista de discurso

A notícia da morte do ator Edilson Magno Rygaard acendeu uma luz no meu baú de lembranças, ao ler seu sobrenome em manchetes do Diário (16 e 17/7/2003). Não o conhecia, mas tenho dados genealógicos inéditos sobre a origem dos Rygaard em Pernambuco.

Transcrevo de memória o que Philomena Rygaard de Santana (1883-1978) me contou - eu adolescente, ela de cabelos brancos presos em cocó onde fios dourados ainda se faziam notar, assim como seus olhos profundamente azuis:

"Meu pai se chamava Peter Sorensen Rygaard - Pedro Soreno. Veio da Dinamarca com um irmão, que se fixou no Sul. Casou com minha mãe, Joana Arcanja, e teve quatro filhos: Laura Cristina, Maria Magdalena, Carlos e eu. Era perito na arte da pastelaria e confeitaria. Fornecia os quitutes para as festas do governador. Laura o ajudava na confecção dos bolos na padaria dele, lá em Olinda.

“Meu irmão era conhecido como Carlito Alemão, por causa do tipo dele, bem louro. Os sobrinhos o chamavam Tio Carrinho. Um dia, eu estava sentada lado a lado com meu noivo, no sofá, os ombros nem se encostavam. Meu irmão reclamou logo: “Não sabe namorar menos agarrada não?

"O casamento de meus pais foi na Sé de Olinda. A festa durou vários dias. Papai mesmo fez o bolo de noiva. Ele morreu assassinado na rua do Imperador, no carnaval de 1887 [?], por alguém que lhe pediu fogo para acender um cigarro. Está enterrado no Convento de São Francisco em Olinda”.

Conheci de vista duas filhas de Carlito Alemão: debruçadas em alta janela de uma casa simples, na rua das Pernambucanas, bem alvinhas, marcantes olhos azuis olhando a vida passar. Sinto falta daquela cena quando hoje caminho na mesma calçada. Também lembro dos filhos de Philomena (Filó), de nomes raros: Colágria, Macinha, Crônidas e Cleódice.

A Lista Telefônica registra poucos Rygaard,  elo direto com o antepassado dinamarquês, “por parte de pai”.  Há muitos outros, não listados, sem olhos azuis nem sobrenome visível, engolido que foi pela linhagem materna. Como os descendentes da jovem Maria Magdalena Rygaard da Câmara, filha de Peter e minha bisavó, vítima da peste bubônica no início do século XX.

Não perca a História Oral de sua família. Vá conversar com os parentes mais velhos, antes que seja tarde. Pergunte, ouça, anote. Tudo o que não disserem estará perdido.

Na Introdução do livro A Retórica das Multinacionais, (Ed. Summus), criei uma alegoria tendo como personagem modesta Padaria Rygaard que se transformava na famosa multinacional Rygaard International. Um tributo da imaginação ao inditoso ancestral dinamarquês que chegou ao Recife no século XIX, buscando melhorar de vida.  Seus descendentes o fizeram, a cada geração, pela educação e pelo esforço. Fama, apenas a do comediante Edilson, que trouxe alegria a tantas platéias.

Quantos sonhos, dores e mistérios nesses nomes emigrados para as terras da promissão! terezahalliday@yahoo.com

Tereza Lúcia Halliday, Ph.D

Criação, Análise e Assessoria de Textos

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"Palavra quando acesa, não queima em vão".

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