Palestra Gama Malcher, o paraense que o Brasil esqueceu por 100 anos

Palestra grátis é o primeiro passo para recuperar a importância do autor de “Bug Jargal”, a ópera que será apresentada neste sábado no Theatro da Paz (PA)

A partir de amanhã, (15 de agosto, sexta-feira), o Pará e todo o Brasil começam a recuperar a importância histórica e cultural de José Cândido de Gama Malcher, um compositor, professor e empresário belenense nascido há 150 anos, admirado e respeitado por Villa Lobos, que ficou famoso no final do século 19 e permaneceu completamente esquecido pelos brasileiros em geral durante todo o século 20.

Em palestra gratuita no Salão Nobre do Theatro da Paz, em Belém (PA), o professor Vicente Salles e o maestro Márcio Páscoa, dois profundos conhecedores do assunto, vão discorrer sobre a vida e obra de Gama Malcher. Mais que isso: na ocasião será lançada oficialmente a edição digital da partitura de “Bug Jargal”, a principal ópera de Malcher, que foi recuperada e a partir de agora estará disponível para as orquestras brasileiras e de todo o mundo. Essa edição digital é patrocinada pelo Governo do Pará através da Secretaria Executiva da Cultura – Secult.

“Todos os músicos, compositores, estudantes e demais pessoas interessadas na cultura paraense não podem deixar de assistir à palestra de hoje, nem de ver a apresentação em concerto da ópera, que será mostrada amanhã, dentro do Festival de Ópera do Theatro da Paz 2003”, ressalta o secretário Paulo Chaves, responsável pela decisão de recuperar a imagem de Gama Malcher para a cultura brasileira.

Um dos palestrantes da noite, o professor e pesquisador Vicente Salles, paraense que reside em Brasília há muitos anos, escreveu um livro sobre Malcher, que será editado pela Secult em parceria com a Universidade Federal do Pará. A obra será lançada no próximo dia 2 de novembro, data em que o compositor estaria completando 150 anos. “Espero que o livro se torne uma contribuição importante para o resgate de Malcher”, ressalta Salles.

Márcio Páscoa, o outro palestrante, foi o responsável pela nova edição da partitura de “Bug Jargal”, que ele recuperou patrocinado pela Secult. Páscoa se dedica há dez anos às óperas compostas durante o Ciclo da Borracha, tema de seu doutorado em Coimbra. “Bug Jargal é apenas um anexo da minha tese, mas a importância de seu resgate para a comunidade artística é inestimável”, diz ele.

“Bug Jargal” estreou no Theatro da Paz em 1890, depois foi apresentada em São Paulo e no Rio de Janeiro, sempre com enorme sucesso. Sua última apresentação aconteceu em 1891. “É uma pena, pois se trata de um trabalho muito qualificado, realizado por um autor que viveu entre nós e que compôs para nós ouvirmos sem subestimar o público pois é uma obra muito bem elaborada, apesar de ser a primeira do compositor que conseguiu abranger folgadamente as mentalidades proeminentes do século XIX”, comenta Páscoa.

Malcher nasceu 1853. Além de compositor e professor, foi também engenheiro formado pela Universidade da Pennsylvania e se aperfeiçoou em música no conservatório de Milão. Organizou companhias de ópera em Belém e foi o grande responsável pelas apresentações das óperas “O Guarani” e “Salvator Rosa”, de Carlos Gomes, no Theatro da Paz. Foi ele também quem influenciou as autoridades locais a levar Carlos Gomes para dirigir o Conservatório de Belém. Criou também na capital paraense uma orquestra sinfônica e lá foi apreciado professor. Autor das óperas “Bug Jargal” e “Iara” (1895), também escreveu peças para piano solo, obras orquestrais, canções e música de câmara. Sua obra está hoje totalmente esquecida, embora tenha sido bem conhecido no início do século 19 e primeiros anos do século 20 – tanto que Villa-Lobos o escolheu como patrono da cadeira número 21 da Associação Brasileira de Música, em 1946. Faleceu em Belém em 1921.

Serviço:

15 de agosto

Palestra. “Bug Jargal e a obra de Gama Malcher”, em homenagem aos 150 anos do músico paraense, proferida pelo professor Vicente Salles e pelo maestro e pesquisador Márcia Páscoa.

Local:Belém. Foyer do Theatro da Paz (Rua da Paz, s/n, Centro - Tel: 0xx91 212-8147 ou 212-7915)

Entrada Franca

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