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O Espetáculo do Crescimento - Reynaldo Domingos Ferreira O ESPETÁCULO DO CRESCIMENTO Ei, E-companheiros, Quem conhece o filme está cansado de saber que o “espetáculo do crescimento”, anunciado pelo presidente da República, até que poderá vir acontecer ao final do seu mandato. Será a reedição ou “remake”, como ele próprio admite, do “milagre econômico”, grande lorota, dos anos da ditadura militar, cujas características se tornam cada vez mais evidentes nos dias atuais. A primeira delas, é o crescimento da indústria se utilizando da capacidade ociosa herdada de períodos recessivos, como, por exemplo, a de 1967 (76%), que cresceu para 93%, em 1971 e chegou à plena utilização entre 1972 e 1973. Apesar de, no momento, a recuperação da industria estar ocorrendo de forma tímida em apenas alguns setores, os empresários, segundo a ultima sondagem conjuntural da FGV, já se mostram otimistas, governistas, como a mídia, prevendo melhoria nas vendas, nos negócios, no emprego e tendência de substituição de importações, tal como ocorria durante os governos militares. Outra característica do “milagre econômico”, foi a de tirar recursos de setores essenciais, como saúde e educação para, de forma arbitrária, aplicá-los em investimentos de porte, capazes de impressionar a opinião pública, como a ponte Rio-Niterói, as Usinas de Angra dos Reis e outros. Também agora se tentou transferir recursos da saúde para investimentos em obras eleitoreiras e no programa “fome zero”, de efeito mais do que duvidoso. Seria apenas - caso não fosse barrado - mais um atentado contra a Constituição, como tantos outros perpetrados pelo governo em apenas dez meses de atuação. Os contornos da política econômica atual a definem , portanto, como de coloração mercantilista, como o foi, na época dos governos militares, que deprimiu o mercado interno, para obter resultados expressivos da balança comercial, justamente como está ocorrendo agora, principalmente no final de ano em que se força a elevação da taxa cambial para estimular ainda mais os exportadores. O governo está ciente de que vai precisar de resultado excepcional da balança comercial, como nunca antes registrado, para fechar as contas externas, já que o nível de investimento direto é dos piores verificados há muitos anos. E esse, sim, é o verdadeiro termômetro de risco de um pais. Não são as badaladas agências especuladoras, às quais a mídia, ao agrado do mercado, dá grande valoração. O “Espetáculo do Crescimento” também está-se valendo da idéia - orientadora do novo acordo com o FMI - de fazer o bolo crescer, mesmo que seja sem consistência, com muito fermento e pouca farinha, postergando pagamentos, para obter resultados expressivos na data limite do atual governo. Todas essas idéias, postas em prática pela política econômica, para quem conhece o filme, são da linha estilística de Delfim Netto, que se não aparece - porque não pode - em nenhuma seqüência, como o fazia mestre Hitchcock em suas películas, dá mostra de que, dos bastidores, orienta ministros, da Fazenda e do Planejamento, meros figurantes. Bastante sintomática disso é a matéria, que, neste final de semana, está publicando a revista “Isto é, Dinheiro”, quando entrevista Delfim Netto, a propósito de revelações suas sobre como atuou na época da ditadura e o indaga: É mais fácil fazer política econômica sem democracia? E o czar da economia de ontem e de hoje responde: O regime autoritário impediu a confusão geral. A democracia exigiria muito mais paciência. Naturalmente, como ele está precisando agora. E a revista ainda lembra que, nos tempos do “Milagre Econômico”, Delfim Netto criou o ICM, alterou o sistema de exportações, baixou regras sobre o mercado de capitais, mexeu no sistema financeiro e ditou regras para o funcionamento da industria. “Chamei os governadores - diz ele - e todos tiveram de entender que as regras eram aquelas”. Será que os governadores estão entendo que não podem mudar as regras da reforma tributaria? REYNALDO DOMINGOS FERREIRA |