Projeto Político inconfidente - Agnes Marta Pimentel Altmann

Projeto Político inconfidente

Agnes Marta Pimentel Altmann

A base e o arquétipo para a sobrevivência socioeconômica e até cultural de um país equilibrado é ter um projeto político definido.

Um país reflete o seu projeto político, por meio do qual conduz o seu progresso e desenvolvimento como um todo.

Para Celso Brant, o atraso do Brasil deve-se ao fato de, em 500 anos de história, não ter tido nunca um projeto político, e como o País não tem consciência do seu destino, a nação está em crise permanente de identidade, e não sabe para onde vai... E eis que, em corroboração ad argumentando, com ventos propícios ou não, vive à deriva de si mesmo o País que deixa de se projetar como multiplicador de suas riquezas para extraí-las em proveito de seus próprios filhos.

Sem dúvida, não se realiza nada na vida sem ter o esboço inicial do que se pretende desenvolver. Mormente uma nação não pode sobreviver sem um projeto político, até porque, como afirma o citado autor, o país sem um projeto político é o que se denomina de colônia, e colônia não existe para resolver os seus próprios problemas, mas para ajudar a enriquecer o país colonizador. Com isso, “por falta de um projeto político próprio, o Brasil nunca deixou de ser colônia”...

Contudo, se, em uma visão de autocrítica apartada do fenômeno da globalização - de colônia de Portugal, depois da Inglaterra e hoje, colônia dos Estados Unidos e, acrescente-se, de outros tantos conglomerados econômicos multinacionais -, o País continua como simples remetente de seus próprios recursos, seja em divisas ou matérias- primas, cem vezes mais do que outrora mandava em ouro, madeiras etc. para Portugal -, é por falta mesmo de um projeto político autêntico. Daí, embora cause perplexidade, por continuar como um país que não soube ainda se programar com um projeto político originário de seu próprio idealismo de libertação histórica inicial, voltado para suas necessidades básicas, pelo menos, levando em conta o seu potencial, a capacidade de poder explorá-lo de forma independente, ainda que sem prescindir do apoio externo benéfico e sempre bem-vindo, é de se dizer mesmo que, esta é “a pior forma de colônia, que não tem, sequer, consciência de sua situação de colônia, com dificuldade até hoje, de explicar a si mesma o “porquê” de não ter superado a condição de colônia, seja de país, organismo filantrópico ou investidor estrangeiro, em que pese afirmativas de que atualmente o colonialismo norte-americano é mormente pior que o de Portugal de antigamente. Certamente, como primeira tentativa de um projeto político para o Brasil, a Inconfindência Mineira buscou a soberania plena do Brasil, porque esta é a auto-sustentação de todo projeto político, para tornar um país uma grande nação independente. Porém, necessariamente não há de se pretender que, conforme se referiu o autor, a “libertação” de um país-colônia, exatamente por isso, tende a assumir uma importância maior que a liberdade do seu povo, vez que, pelo próprio argumento do autor, o colonialismo é para um país o que a escravidão representa para o indivíduo.

Se inexiste liberdade para um povo escravo no plano externo, já que “ escravo é aquele que não é dono de si mesmo, que não pode programar o seu destino, que não tem o direito de escolher o seu caminho”, é ser colônia duas vezes o país que não comanda a si próprio para obter libertação, e ainda inibe a liberdade do seu povo a um custo e sacrifícios maiores.

Outrossim, se desde 1787 os brasileiros que detinham o poder local conscientes do que representaria, para o futuro, o seu relacionamento com os Estados Unidos - quando José Joaquim da Maia recorreu a Thomas Jefferson, então ministro plenipotenciário norte-americano em Paris, em busca da ajuda dos Estados Unidos para a luta de libertação do Brasil - e logo, não se deram conta de que, ainda que mais “próximos” os EUA não estavam obrigados a apoiarem projeto político, em que tenha pesado o interesse maior deles, à época, da preservação de suas relações com Portugal. Caberia, em tal circunstâncias, sobretudo aos brasileiros que assumiram o poder, consolidarem, desde a primeira Inconfidente libertação do colonialismo - ainda que por necessidade de apoio político externo -, não procurar simploriamente substituir o colonizador, como se colônia ainda fosse, de outro país qualquer.

A exemplo mesmo dos Estados Unidos, se de fato se libertaram graças ao auxílio estrangeiro - por certo até de país que não mantinha laços arraigados com seus colonizadores, a Inglaterra -, tudo indica que, de quem, mesmo de bom grado, lhes prestou a necessitada e solicitada ajuda, não permaneceram escravos para sempre pela libertação nem tampouco negaram a liberdade do seu povo para obtê-la!...

Agnes Marta Pimentel Altmann

Bel. Direito & Mestrado Relações Internacionais

Fonte: Jornalada

Data: 27/1/2004

www.jornalada.com

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