O QUE É ISSO, COMPANHEIRO -Francisco Tadeu Gardesani Luz

 

O QUE É ISSO, COMPANHEIRO

Francisco Tadeu Gardesani Luz

Sou um servidor público federal concursado e resolvi escrever este texto hoje, dia 28 de novembro de 2003, por uma razão muito simples - está terminada a votação em primeiro turno, no Senado Federal, da reforma da previdência - e como considero esta reforma o principal parâmetro para medir o índice de coerência entre o discurso político e a prática administrativa do senhor presidente da república e do partido político do qual faz parte, me considero livre, de agora em diante, para manifestar minha opinião de cidadão e de eleitor.

São passados quase onze meses do início do governo Lula - prazo mais que suficiente para que possamos identificar a que veio e o que pretende sua excelência e seu grupo de apoiadores.

Agora é chegada a hora de nós, cidadãos - quer tenhamos sido eleitores ou não, e eu o fui - nos manifestarmos. Escreverei com um cronograma que pretendo seja inicialmente semanal. E este é apenas o primeiro texto.

01

TAXAS DE JUROS PARA EMPRÉSTIMOS COM CONSIGNAÇÃO EM FOLHA - DOIS PESOS E DUAS MEDIDAS

Como integrante da direção de um sindicato do funcionalismo público federal procuro acompanhar várias questões que, direta ou indiretamente, possam afetar os servidores. Dedico especial atenção à questão dos juros praticados pelas instituições financeiras. Não se trata aqui de um posicionamento sobre o que decide o COPOM, mas apenas e tão somente uma questão prática e objetiva que pode expor, de forma clara e direta, como nossos "companheiros" são coerentes quando administram.

Há algum tempo as duas maiores centrais sindicais do país anunciaram um acordo com instituições bancárias para a concessão de empréstimos com consignação em folha de pagamento, com juros mais baixos que os praticados pelo mercado. Embora eu considere absurdas as taxas que são praticadas nesses acordos - afinal às instituições financeiras são dadas tantas garantias de recebimento dos recursos emprestados, que o chamado "spread" deveria ser o de qualquer país civilizado. Tudo o mais são ganância, exploração, verdadeira extorsão praticada com o aval governamental.

Mas vamos à demonstração da coerência dos nossos governantes:

Nos acordos praticados pela CUT e pela FORÇA SINDICAL as taxas estão fixadas nos seguintes patamares:

01. para prazos de pagamento em até seis meses, 1,75 % am;

02. para prazos de pagamento entre 7 e 12 meses, 2,0 % am;

03. para prazos de pagamento entre 13 e 24 meses, 2,3% am;

04. para prazos de pagamento entre 25 e 36 meses, 2,6% am.

Do acordo com a CUT participam trinta instituições financeiras. Com a Força Sindical não consegui saber quantas instituições financeiras fizeram acordo. Estas informações foram pesquisadas apenas nos "sites" das duas centrais.

Vejamos agora as taxas praticadas pela Caixa Econômica Federal e pelo Banco do Brasil para empréstimos com consignação em folha, para servidores públicos:

Banco do Brasil:

01. para qualquer prazo de pagamento, até 36 meses - 2,9% am

Caixa Econômica Federal:

01. para prazo de pagamento em até 12 meses - 2,36% am;

02. para prazo de pagamento entre 13 e 24 meses - 2,60% am;

03. para prazo de pagamento entre 25 e 36 meses - 3% am.

Os números apresentados falam por si próprios. Não precisam de qualquer interpretação.

Deixo apenas um questionamento - porque isso acontece? Quem ganha com isso? Qual a razão lógica, técnica, política, ou qualquer outra que o seja que justifique esse diferencial?

Será que os servidores públicos federais - que ficaram sete anos sem qualquer reajuste salarial, receberam no último ano do Governo do Senhor Fernando Henrique um aumento vergonhoso, e no primeiro ano do Governo Lula, 1% (um por cento) de aumento - devem ser ainda mais espoliados por estas duas instituições financeiras?

Qual garantia maior uma instituição financeira pode ter do que receber do próprio tesouro aquilo que seu financiado lhe deve?

Até quando teremos que conviver com tamanhos disparates, que afetam justamente aqueles que, desprovidos de outros meios, necessitam recorrer a bancos para tentar garantir a suas famílias até a escola e o atendimento de saúde que governos incompetentes conseguem, a cada ano, tornar piores?

Chega de tanta injustiça com o servidor público deste país, senhor presidente. Se a sua meta é nivelar o povo deste país, transformando todos em miseráveis, saiba que ao menos eu lutarei, com todas as forças que possuo, durante todos os instantes da minha vida, para que o senhor não consiga atingir este objetivo.

Quero um país melhor, mais justo, com melhor distribuição de riqueza, e não de pobreza, senhor presidente.

Não foi para vê-lo subserviente a "forças ocultas" que lhe dei meu voto. Afinal, o que está acontecendo ao senhor? Afinal, o que é isso, companheiro?

Voltar