Esperança e tempos difíceis
9/9/2003 09:31:08
Theresa Catharina de Góes Campos
, articulista, jornalista, escritora e professora universitária

Ainda profundamente chocados e relembrando a morte de dois colegas, que tomaram veneno, em datas separadas, e assim se afastaram em definitivo de nosso convívio, sentimo-nos no dever de fazer algumas reflexões. Não podemos ignorar as condições sócio-econômicas da maioria de nossos companheiros, iguais a nós como pessoa humana, com necessidades e motivações individuais/familiares comuns a todo ser humano.

Daí não concordarmos em calar diante da expressão de desespero que todo suicídio representa. Não aceitamos que apenas as condições emocionais do indivíduo expliquem atos angustiados, como a desistência de viver, manifestada por alguém . Acreditamos que os suicídios, provocados pelos baixos salários e por perspectivas de uma vida de qualidade menor, podem e precisam ser evitados, em nível de empresa e em nível de comunidade.

Estatísticas preocupantes indicam que, no mundo inteiro, morre-se cada vez mais de suicídio, e que a idade dos suicidas a cada ano é menor, com registro de ações desesperadas de crianças e adolescentes. Os números ainda seriam mais elevados, se os casos suspeitos pudessem ser comprovados, o que nem sempre é possível. Outro aspecto a ser enfatizado está no perigo, em termos de grupo, que o suicídio representa, devido a seu efeito de certo modo contagioso, provocando outros atos semelhantes, face à sua influência negativa nas emoções e reações das pessoas.

Impõe-se a tomada de medidas preventivas, nos locais de trabalho, considerando-se, também, as circunstâncias sócio-econômicas e familiares dos empregados, em especial dos analfabetos, aqueles com salários mais baixos, enfim, os mais desamparados em um país como o nosso, que ocupa o 60% lugar em distribuição de renda...

Nesse contexto, que apesar das leis vigentes se afigura praticamente uma aberração não- democrátida de distribuição injusta de bens, muitas vezes o suicídio pode surgir como uma falsa alternativa. Cabe a todos nós, sendo membros da mesma família universal, exercermos uma solidariedade ativa, atuante, para que o direito à sobrevivência seja garantido.

Sermos responsáveis pela nossa vida e a de nossos irmãos, um preceito cristão fundamental, exige que tenhamos olhos e ouvidos para ver e ouvir, e palavras de esperança que possam indicar, aos que se desesperam diariamente por lhes faltar o essencial (alimentação, moradia,saúde, educação, emprego), que nem tudo está perdido.

Sejamos sensíveis às dores alheias, sejamos atentos às reivindicações justas, para que salvemos a vida e, como a vida, a esperança, que torna a vida digna de ser vivida... porque o amanhã promete dias melhores e o amanhã começa hoje!

Theresa Catharina de Góes Campos é articulista do 180graus.com

Voltar