Ainda
profundamente chocados e relembrando a morte de dois colegas, que
tomaram veneno, em datas separadas, e assim se afastaram em
definitivo de nosso convívio, sentimo-nos no dever de fazer algumas
reflexões. Não podemos ignorar as condições sócio-econômicas
da maioria de nossos companheiros, iguais a nós como pessoa humana,
com necessidades e motivações individuais/familiares comuns a todo
ser humano.
Daí não concordarmos em calar diante da expressão de desespero
que todo suicídio representa. Não aceitamos que apenas as condições
emocionais do indivíduo expliquem atos angustiados, como a desistência
de viver, manifestada por alguém . Acreditamos que os suicídios,
provocados pelos baixos salários e por perspectivas de uma vida de
qualidade menor, podem e precisam ser evitados, em nível de empresa
e em nível de comunidade.
Estatísticas preocupantes indicam que, no mundo inteiro, morre-se
cada vez mais de suicídio, e que a idade dos suicidas a cada ano é
menor, com registro de ações desesperadas de crianças e
adolescentes. Os números ainda seriam mais elevados, se os casos
suspeitos pudessem ser comprovados, o que nem sempre é possível.
Outro aspecto a ser enfatizado está no perigo, em termos de grupo,
que o suicídio representa, devido a seu efeito de certo modo
contagioso, provocando outros atos semelhantes, face à sua influência
negativa nas emoções e reações das pessoas.
Impõe-se a tomada de medidas preventivas, nos locais de trabalho,
considerando-se, também, as circunstâncias sócio-econômicas e
familiares dos empregados, em especial dos analfabetos, aqueles com
salários mais baixos, enfim, os mais desamparados em um país como
o nosso, que ocupa o 60% lugar em distribuição de renda...
Nesse contexto, que apesar das leis vigentes se afigura praticamente
uma aberração não- democrátida de distribuição injusta de
bens, muitas vezes o suicídio pode surgir como uma falsa
alternativa. Cabe a todos nós, sendo membros da mesma família
universal, exercermos uma solidariedade ativa, atuante, para que o
direito à sobrevivência seja garantido.
Sermos responsáveis pela nossa vida e a de nossos irmãos, um
preceito cristão fundamental, exige que tenhamos olhos e ouvidos
para ver e ouvir, e palavras de esperança que possam indicar, aos
que se desesperam diariamente por lhes faltar o essencial (alimentação,
moradia,saúde, educação, emprego), que nem tudo está perdido.
Sejamos sensíveis às dores alheias, sejamos atentos às reivindicações
justas, para que salvemos a vida e, como a vida, a esperança, que
torna a vida digna de ser vivida... porque o amanhã promete dias
melhores e o amanhã começa hoje!
Theresa Catharina de Góes Campos é articulista do 180graus.com
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