Ética na prática
Theresa Catharina de Góes Campos
, articulista, jornalista, escritora e professora universitária

Viver e trabalhar com ética significa saber conviver, respeitando a dignidade do próximo, tanto quanto a sua própria dignidade de caráter. Na teoria, fala-se e se escreve bastante sobre o tema, nos dias atuais, sobretudo porque não é difícil constatarmos que está na ausência da prática da ética, no dia-a-dia, apesar de todas as dificuldades e até, muitas vezes, sofrimentos, a origem das injustiças, desigualdades e problemas sócioeconômicos.

O indivíduo que se coloca, na comunidade, como pessoa humana, reconhece a demanda interior de abraçar os hábitos de caráter que determinarão sua coragem em pensar e agir com ética.

Conhecendo a si mesmo e os princípios éticos que se determinou a abraçar, em sua vida privada e pública, também se acostuma a exigir da comunidade em que está inserido a transparência ética das decisões, as atitudes marcadas pela retidão de pensamento, os processos de crescimento orientados eticamente.

Embora os fundamentos da ética nasçam de escolhas individuais, sempre conscientes de que a vida exige de nós a fidelidade diária a esses princípios, devemos entender que a convivência constitui um sistema de interação, tanto mais exigente da ética quanto carente de situações em que os nossos direitos jamais estão isolados das necessidades e dos direitos do próximo. Nosso espaço interior - íntimo, afetivo, intelectual - não deve ser considerado como isolado com relação aos espaços e limites dos outros, próximos ou distantes.

Pensar nos menos poderosos, nos ausentes, nos excluídos, no bem comum... são disposições internas que nascem da prática da ética, e não, das manifestações teóricas alardeadas em seu nome.

Segundo Carmen Barreira, " a identidade individual e social cria-se a partir de uma interação sistêmica, base de toda educação. Sem ética não é possível falar-se em educação, cujo objetivo fundamental é incitar o afloramento das capacidades do indivíduo, criar balizas para que elas se consolidem e, quando maduras, propiciar o espaço necessário para que enriqueçam e transformem a sociedade na qual esse indivíduo está ou escolheu estar inserido."

Se podemos e devemos exigir, de toda pessoa, atitudes éticas, dos poderosos e das autoridades espera-se a ética como fundamento de sua posição e atuação. Justiça, caridade e generosidade são virtudes éticas, os frutos da ética, a fundamentação filosófica...( e política, no sentido da origem grega da palavra: a arte de promover o bem comum) para aqueles que mandam, decidem, fazem acontecer...e para os que a eles estão subordinados também. A justificativa para tal exigência intrínseca está nos benefícios para a sociedade, formada por seres racionais, iguais em seus direitos fundamentais. A visão utilitarista seria ver, como objetivo da ética, chegar-se ao resultado ideal/idealista de obter " o máximo de felicidade para o maior número de pessoas".

Regras e valores éticos devem estar presentes sem interrupção em nossa vida. Somente assim é possível evitarmos o caos, escondido ou aparente. Em nenhum momento a ética se torna, sob quaisquer pretextos, dispensável, quer seja no lar, na igreja, no trabalho, nas atividades intelectuais, no convívio social, na prática sindicalista. 

Theresa Cathariana de Góes Campos