A
maneira como tratamos os outros demonstra, na verdade, o que somos:
o que sabemos, quais os nossos princípios e nossas linhas de
conduta. Assim, no relacionamento com o próximo, podemos refletir a
nossa eficiência, como se estivéssemos, constantemente, a promover
a nossa imagem. O lamentável, porém, é o fato de muitos se
preocuparem em ser gentis, atenciosos e prestativos quando lidam com
pessoas importantes, ricas ou famosas. Falar cortesmente a um secretário-geral
ou ministro constitui agir corretamente. Mas a prova de nossa competência
está no modo como agimos em relação aos mais fracos e
abandonados, pois a nossa bondade e as boas maneiras que praticarmos
indicarão o nosso respeito à dignidade que existe em todo ser
humano, ainda que não ocupe qualquer posição de destaque.
A obrigação ético-moral da cortesia implica uma atitude diária,
exercitada mesmo com sacrifício de nossa parte, inclusive para que
não permitamos, ao próximo, dirigir a nossa conduta e até mudar
nossos ideais.
É preciso resistir, em qualquer circunstância, aos apelos fáceis
do embrutecimento diário, que destrói os sentimentos de
solidariedade, corrói nossa persistência, amortece nossa determinação
de vencer como pessoa humana.
É preciso, mesmo chorando, de sofrimento, revolta e angústia, não
abandonar os fundamentos de um bom relacionamento com a comunidade
universal. Nos momentos de decepção, ficamos mais expostos e até
um pouco cegos quanto à dignidade do próximo. Mas urge persistir
na prática quotidiana das boas maneiras, ainda que isso nos pareça
uma humilhação desnecessária...Devemos estar conscientes para não
perdermos o tesouro de nossa liberdade pessoal para agir de acordo
com a nossa consciência, desde que tenhamos sabido, ao longo do
tempo, conservá-la bem formada, e não, simplesmente moldada ao
sabor das circunstâncias ou dificuldades que estivermos
enfrentando.
Cumprimentar as pessoas, dizer obrigado, por favor, peço desculpas
constituem manifestações de eficiência como ser humano e como
profissional. Se os outros não percebem, o problema é causado por
sua ignorância, falta de prática e de visão, contudo, a incompetência
deles não poderá jamais desculpar nossa ineficiência ou nosso
descaso por nosso aperfeiçoamento individual.
Durante muitos anos de minha vida eu costumava dizer que a maior
qualidade de alguém está no seu caráter...Hoje, falo bem melhor:
compreendi que a bondade representa a expressão de um caráter bem
formado, que respeita até mesmo a dignidade invisível, o potencial
de um indivíduo, sob os mais variados disfarces.
Tratar bem o nosso próximo constitui meta que sempre podemos alcançar,
pois só depende de nós, da nossa disposição, da nossa vontade férrea,
da nossa determinação de crescer, ainda que os outros procurem,
direta ou indiretamente, conduzir a nossa vida por caminhos e opções
que não escolhemos.
Temos de nos agarrar a nossos sonhos e defendê-los. Com muito
empenho, e paciência, devemos preservar nossos ideais, ou não
valerá a pena lutarmos e sofrermos tanto, se tudo isso não tiver
uma razão que possamos proclamar aos quatro ventos... Não se trata
de sermos quixotescos: é uma questão de autenticidade, pois
nenhuma justificativa servirá, para explicar nossa falha na área
que fica sob o nosso controle - a esfera pessoal.
Valorizamos nossa imagem pelo modo como reconhecemos outros indivíduos,
seus espaços, seus direitos, suas liberdades. Cresço...na medida
em que contribuo para o crescimento de meus irmãos, lutando também
por suas oportunidades, desfazendo as injustiças ou denunciando-as,
ofertando-lhes as minhas boas maneiras, para que sejam incentivados
a agir da mesma forma.
Se nos propusermos essa conduta de civilidade, não teremos a
garantia de obter efeitos positivos ou conseguir o que almejamos.
Todavia, estaremos deixando a marca de nossa conduta ética, onde
quer que trabalhemos ou vivamos, o que representa a nossa contribuição
e torna bem visível o nível de excelência que decidimos buscar,
em termos pessoais e profissionais.
Nossa cortesia demonstrará nossa competência, apregoará a
seriedade de nossas ações, o ideal de nossa vida.
Theresa Catharina de Góes Campos é articulista do 180graus.com
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