Theresa Catharina de Góes Campos

  E SUA MÃE TAMBÉM

Como o próprio diretor ( e co-roteirista) do filme explica, no material de divulgação, "E sua mãe também" (Y tu mamá también - México - 2001 - 106 min. - Alfonso Cuarón) é uma obra que conta a história "dentro de um contexto erótico."

"(...) decidimos que faríamos um filme de sexo que não escondesse nada. Estávamos apenas querendo ser honestos com os personagens e querendo ver situações que envolvem sexo do jeito como elas realmente são."

No elenco, eis os intérpretes principais: Diego Luna, Gael García Bernal e Maribel Verdú.

No 58o. Festival de Veneza, o filme recebeu dois prêmios: melhor roteiro e melhores intérpretes jovens.

Trata-se de "entretenimento" para adultos que recebem um enredo dramático numa perspectiva de comédia, na qual a linguagem crua, naturalista, explícita, sem que se sintam ofendidos ou chocados, inclusive nas cenas e nos diálogos explícitos, quando os termos chulos se sucedem.
Os rapazes de 17 anos, Julio e Tenoch, encaram sua vida de forma inconseqüente, controlados por seus hormônios, os amigos. Luísa, uma bela espanhola de 28 anos, encontra os moços em uma tarde festiva com seus familiares. Eles sentem-se tomados por um desejo enorme de se tornarem adultos, conforme imaginam que viriam a ter essa maturidade. Decidem convidar a profissional, casada, para acompanhá-los numa viagem de carro até uma praia mexicana, paradisíaca, chamada Boca Del Cielo (Boca do Céu). Os adolescentes não explicam a Luísa que eles não saberiam como chegar a esse lugar, mesmo se a praia realmente existisse. Luísa não os leva a sério e o trio se despede, sem quaisquer compromissos.

O caminho dos três, entretanto, irá se encontrar, depois que Luísa se confronta com o egoísmo e as traições do marido. Ela decide mudar sua rotina, procurando os garotos para realizarem a tal viagem, que será marcada por sexo e rebeldia. Na estrada, "a inocência, a sexualidade e a amizade colidem e a fase adulta está ali esperando para juntar os pedaços."

O roteiro dos irmãos Alfonso e Carlos Cuarón para este "road-movie" consegue desmoralizar o que seria o mito do "machão" latino-americano, revelando, ainda, alguns aspectos bem conhecidos da realidade latino-americana, no que se refere a políticos e ativistas.

Ao destacar o visual da produção, sobretudo pelas qualidades técnicas da fotografia de Emmanuel Lubezki ( colaborador do diretor Alfonso Cuarón em "A Princesinha"e "Grandes Esperanças" - belos filmes, na forma e no conteúdo, muito diferentes de "E sua mãe também", como os irmãos roteiristas reconheceram...), é preciso observar, no entanto, que houve o descuido - bastante incômodo - do aparecimento de microfone em algumas cenas...

O título se explica pela vivência de infidelidade masculina também experimentada pela mãe de um dos rapazes.

Voltando às explicações de Alfonso e Carlos Cuarón, registro que ambos consideram a história de "E sua mãe também" como íntima e pessoal; e falam, igualmente, de "uma profunda tristeza por um momento específico de nossas vidas e a forma como ele foi vivido e perdido".

Acredito que essa tristeza profunda continuará a se repetir, na existência/convivência dos seres humanos, enquanto as relações sexuais continuarem a ser consideradas de forma inconseqüente e desrespeitosa, leviana e superficialmente, enfim, enquanto as relações estiverem separadas do sentimento do amor, marcadas pelas ausência de uma responsabilidade afetiva essencial porque amadurecida.

Theresa Catharina de Góes Campos
 

Jornalismo com ética e solidariedade.