Herói
Reynaldo Ferreira
Fui ver "Herói" (Ying Xiong - Hong Kong,China, 2002 -cor, scope - dolby digital
- 96 min. ) de Zhang Yimou, na sala 13, do Cinemark Pier 21, dotada de som e
projeção apropriados para a
qualidade do filme,como você, Theresa Catharina, recomendou-me. E que belo
filme!....
Mais uma obra-prima do grande realizador de "Lanternas Vermelhas", um dos dez
melhores filmes da década de oitenta. Ele é, sem dúvida, o melhor pesquisador do
uso da cor no cinema. Essa preocupação, de extrair valor simbólico da cor,
nasceu com Michelangelo Antonioni, em "Deserto Rosso"(1964), mas só encontrou em
Zhang Yimou um continuador à altura, que agora, com "Herói", penso eu, supera o
preconizador.
Se em "Lanternas Vermelhas" o estudo se restringia a extrair magníficos efeitos
simbólicos do vermelho para expressar questões da narrativa e da psicologia da
personagem, interpretada por sua ex-mulher, atriz memorável, em "Herói", ele
amplia o emprego de cores - ainda o vermelho, o pastel, o rosa, o azul e o verde
- para também diversificar planos e verdades, que consubstanciam o argumento. É
nisso que ele se aproxima do clássico "Rashomon"( 1950), de Akira Kurosawa, que
explorava, em preto e branco, o sentido relativo da verdade.
Para quem escreve,como eu, enfrentando a censura de mercado, que existe em nosso
país, a seqüência em que as forças do rei Qin atacam a escola de caligrafia é
memorável. O mestre calígrafo incentiva seus alunos a continuar a escrever
porque, como diz, nem a avalanche de setas que lhes chega, de todas as direções,
será capaz de apagar o que escrevem.
O elenco (Jet Li e Tony Leung Chiu Wai, Donnie Yen e Maggie Cheung, entre
outros) é de primeiríssima ordem. Mas o ator que interpreta o papel de Espada
Quebrada,Tony Leung,além de excelente composição, sustenta a linha narrativa de
forma precisa e inequívoca. Conhecendo agora "Herói", realização de 2002, eu
seria capaz de dizer que o filme deve ter exercido influência em Oliver Stone
para definir a estética da última batalha, que ocorre na Índia, de "Alexandre",
que tem muito a ver, com a magistral seqüência da luta entre as duas mulheres
que disputam o amor de Espada Quebrada, Neve e Lua. E diria mais: que a própria
linha de interpretação de Espada Quebrada teria exercido influência na
composição que Stone exigiu do ator irlandês, Colin Farrell, para interpretar
Alexandre.
Enfim, "Herói" é desse filmes que a gente deve ver e rever quantas vezes forem
possíveis.
Brasília, 31 de março de 2005.
www.2001video.com.br
Herói
*
(Hero, CHI/HKG, 2002, Cor, 99')
Buena Vista - Cinema Asiático - 14 anos
De: Zhang Yimou
Com: Jet Li, Tony Leung, Maggie Cheung, Zhang Ziyi,
Donnie Yen
Guerreiro sem
nome narra para o imperador Qin como conseguiu derrotar
seus três inimigos mais perigosos.
Comentário: Produção chinesa mais cara
até seu lançamento, Herói conquistou o mercado
dos EUA em parte pela campanha promovida por Quentin
Tarantino, que insistiu junto aos chefões da Miramax
para que o lançassem nos cinemas. O filme suplantou a
bilheteria de estréia de O Tigre e o Dragão, se
transformando em uma das mais lucrativas produções
internacionais apresentadas nos EUA e Canadá. As
semelhanças com a superprodução de Ang Lee não são
acidentais, começando pela trilha sonora do compositor
chinês Tan Dun -- que, se em O Tigre o Dragão
contou com o solo do famoso violoncelista japonês Yo-Yo
Ma, em Herói teve a participação do violinista
norte-americano Itzhak Perlman. Os méritos do filme são
muitos, mas o que mais impressiona são os belíssimos
efeitos visuais em simbiótica composição estilística com
os figurinos, aliados à ágil coreografia das lutas.
Menção também para o trabalho do diretor de fotografia
francês Christopher Doyle, o mesmo de Amor à Flor da
Pele, de Wong Kar-Wai. Fica até fácil esquecer as
liberdades tomadas por Zhang Yimou, que atenuou a imagem
de um dos personagens mais violentos da história, o
imperador Qin, responsável pela unificação da China, e
cuja vida serviu de tema também para Chen Kaige em O
Imperador e o Assassino, que também vale a pena
conferir.
Extras: Definição de Herói * Dentro da
ação: Uma conversa com Quentin Tarantino e Jet Li *
Storyboards
* Indicado ao Oscar® e ao Globo de
Ouro de melhor filme estrangeiro
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Zhang
Yimou
Zhang Yimou nasceu em 14 de novembro de
1951, em Xi'an (República Popular da China). Como outros
de sua geração, trabalhou em fazendas e indústrias
durante a Revolução Cultural (1966-1976), o que lhe
permitiu conhecer outra faceta do país. As fotografias
tiradas nesse período garantiram-lhe a admissão, em
1978, na Academia de Cinema de Pequim, na qual se formou
quatro anos depois. Sua turma ficou conhecida como a
Quinta Geração de cineastas chineses a se formar nessa
academia, e da qual faziam parte também Chen Kaige e
Tian-Ming Wu. Este último trabalhou como chefe dos
Estúdios Xi'na e produziu O Sorgo Vermelho
(1987), primeiro longa dirigido por Yimou -- que, antes
de estrear na função, foi responsável pela direção de
fotografia de One and Eight (1983), de Zhang
Zunzshao, primeiro filme da Quinta Geração, Yellow
Earth (1984), de Chen Kaige, e Old Well
(1986), de Tian-Ming Wu. O sucesso de O Sorgo
Vermelho transcendeu as fronteiras do país. As
críticas favoráveis e o retorno comercial garantiram-lhe
a realização de seus projetos seguintes, conhecidos como
parte de trilogia estrelada por Gong Li: Amor e
Sedução (1990) e Lanternas Vermelhas
(1991) -- que, apesar de terem conquistado o mercado
internacional, tiveram sua exibição proibida naquele
país. A liberação só aconteceu quando dirigiu A
História de Qiu Ju (1992), aprovado pelo Partido
Comunista chinês. Ao longo de quase dois decênios,
abordou temas diversos, tendo sempre a mulher como ponto
central de sua obra, e usando cores como elemento
narrativo. |
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