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O Hotel de Um Milhão de Dólares
Original, perturbador, realista e poético, "O
hotel de um milhão de dólares" (The Million
Dollar Hotel - EUA, 2000 - 125 min. -scope), de
Wim Wenders (diretor de "Asas do Desejo", "
Paris, Texas" e "Tão longe, tão perto") foi
produzido, dirigido e escrito com técnica,
sentimento, romantismo e convicção. A
plasticidade do filme, cujo roteiro é assinado
pelo ídolo pop Bono Vox, do famoso grupo musical
U2, revela-se desde a seqüência inicial, lírica
e dramática, expressando os primeiros contornos
da metáfora sobre as metrópoles contemporâneas.
"Depois é que eu percebi. A vida é perfeita. A
vida é ótima.Cheia de magia e beleza,
oportunidade e televisão. E surpresas. Muitas
surpresas."
Mas não compreendemos isso, quando estamos
vivos...
Com Jeremy Davies, Mel Gibson, Mila Jovovich,
Julian Sands, Gloria Stuart, Jimmy Smits e
Amanda Plummer, o cenário em que tudo vai
acontecendo assemelhar-se-ia a um manicômio.
Retratando as vivências dramáticas de seus
personagens, a história deles, como enfatiza o
investigador especial do FBI, Skinner
(interpretado por Mel Gibson), "é vida real". O
policial seria o "mais louco" de todos.
"Eles não acharão nada antes de mim. Estou no
jogo da informação."
Os personagens desajustados, excluídos, são
descritos com estilo naturalista¸mas essa
linguagem também se alterna com elementos
poéticos. Tipos exóticos, diferentes, esquisitos
e viciados. Grotescos, agarram-se à sua
individualidade, à sua marginalidade. E se
acostumam, ajustam-se e repetem, insólitos, a
violência dos tempos e do ambiente em que vivem.
Solitários, passam a ser questionados por
detetive abusado e descontrolado.
O clima de suspense está pleno de enigmas
existenciais.A questão do ego aflora, na análise
de caráter dos personagens.O pai do morto não
aceitaria
o suicídio porque seria uma condenação de sua
negligência paterna.
Alega: "Suicídio é ruim para um judeu".
Skinner não se envergonha de seus métodos
agressivos de investigação policial.
Tom Tom, antes de conhecer e amar Eloise, não
sabia que tinha ego...
Para Skinner e quase todos os outros
personagens, Tom Tom (Jeremy Davies) comporta-se
como um idiota, um retardado que repete frases
como "O lar de um homem é o seu castelo."
Contudo, o rapaz exige que Eloise seja tratada
com respeito. Ele a defende de acusações e
procura protegê-la.. Ela, que aparece quase
sempre com livros, chega a afirmar: "Sou
ficção".
"Eu queria tocar o coração de Eloise. E toquei."
Tom Tom adverte-a sobre o fumo, como causador de
câncer. Eloise, compreendendo o amor que está
recebendo, assume uma atitude consciente,
lembrando que poderia ir até uma clínica, onde
se apresentaria para ser examinada, preocupada
em não lhe transmitir doenças.
"- Você não pode amar quem não se valoriza. Ela
não é nada. É ninguém.
- Sim, eu posso amar. Eu amo Eloise. Ela não é
ninguém."
Linguagem chula, vulgar, em algumas cenas. Há
violência, mas sem apelação.
Estilo do filme mistura crueza e delicadeza, na
linguagem narrativa e nos diálogos.
"Todos os homens são sonhadores".
Destaques: direção, interpretação; fotografia (
tomadas externas, planos,
iluminação, estética metafórica de impacto
visual); trilha sonora envolvente; roteiro de
reflexão crítica ( inclusive sobre a família, a
televisão, a repressão policial, o governo e o
poder econômico que ignoram e até fazem cidadãos
excluídos, marginalizados); temas e símbolos;
personagens:seus monólogos e diálogos.
"O amor não pode ser descrito como uma árvore ou
o mar ou qualquer outro mistério. O amor é o
olhar com que vemos. É a luz da tinta".
Filme com a capacidade de nos tocar
profundamente o coração.
Trágico e suave, agressivo e delicado, idealista
e concreto.
"O coração é a Bela Adormecida. O beijo do amor
é que pode despertá-lo.
Todos nós estamos adormecidos... esperando ser
despertados."
Somente compreenderíamos a perfeição da vida
após a morte.
Sendo a "vida" perfeita, quando se fala "vida ",
na visão do cristianismo, queremos, na verdade,
dizer "Deus".
E quando se diz "coração" a ser tocado,
despertado, isso significa, de fato, tocar
profundamente as almas, redimindo-as. Para
salvá-las, fazendo com que superem a angústia, o
desespero, resgatando-as do sofrimento que não
podem mais suportar.
Theresa Catharina de Góes Campos (Obs. Assisti a
esse belíssimo filme no cinema, mas pode ser
encontrado em vídeo Europa Filmes.) |
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