MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS


Memórias póstumas de Brás Cubas

Filme para adultos, "Memórias póstumas de Brás Cubas"(Brasil, 2000 -102 min.) tem roteiro, direção e montagem de André Klotzel, sendo uma adaptação do romance clássico, homônimo, de Machado de Assis, considerado uma das obras principais desse escritor brasileiro do século XIX. No elenco se destacam: Reginaldo Faria, Petrônio Gontijo, Viétia Rocha e, como atriz convidada, Sônia Braga. 

Comédia dramática existencialista, de forma, linguagem e conteúdo surrealistas, oníricos, com fundamentos realista-naturalistas.

Erotismo e sensualidade (cenas de nudez imaginada), além de humor pessimista e romantismo, também caracterizam o filme, que começa com a morte e o enterro do protagonista, em 1869, solteiro e rico, aos 64 anos de idade. 

"Morro há mais de cem anos, no Rio de Janeiro". A mulher que reconhece como o amor de sua vida está presente em seus últimos momentos e no cemitério. 

Filmado no Brasil e em Portugal, "Memórias póstumas de Brás Cubas" faz uma boa reconstituição de época, com produção, fotografia,direção de arte, cenografia, figurinos, adereços, maquiagem e trilha sonora de qualidade (sobretudo na apresentação dos créditos finais).Belas pinturas do Rio Antigo, iconografia, antiguidades e quadros famosos compõem o visual que retrata costumes e paisagens. 

Nascido em 1805, as lembranças de Brás Cubas incluem a presença de escravos de todas as idades. 

Ao sonhar, ouve a Natureza lhe dizer: "Para o tempo, não importa o minuto que passa, mas o minuto que vem." 

Acontecimentos na época da proclamação da Independência do Brasil têm como sonora moldura o nosso belo Hino da Independência. 

"Em seis dias, Deus fez o mundo; em seis dias, eu refiz o meu." A existência de Brás Cubas passou por um período de tristeza profunda, com a morte de sua mãe.Viajou, envolveu-se com mulheres interesseiras. Aconselhado por seu pai a casar-se com Virgília,que seria "um anjo sem asas",perdeu a oportunidade. Conheceu a jovem Eugênia, de quinze anos, porém indaga a si mesmo sobre a "Vênus manca". 

"Por que coxa, se bonita? Por que bonita, se coxa?" E repete várias vezes: "Ela era bonita, mas coxa." Ainda que reconheça ter chegado a pensar em casar com ela. 

O pai de Brás Cubas reclama da mediocridade do filho: "Não gastei dinheiro, empenhos, para não te ver brilhar." Seu relacionamento de amante com Virgília, casada, com encontros furtivos e sobressaltos, resulta em gravidez e aborto natural do filho que esperavam. 

"Tinha chegado aos quarenta anos e não era nada". Partindo Virgília com o marido, para o Maranhão, Brás Cubas se reconhece "vazio e vadio". Obcecado para ter filhos, quis casar com "Inhá Loló", porém a febre amarela mata a moça, aos dezenove anos. 

A amizade com Quincas Borba ajuda bastante o protagonista, depois da separação de Virgília.Incentiva-o, inclusive, a fazer caridade, prestando auxílio aos pobres e necessitados. "Aos sessenta anos, revi Virgília, mas eu estava mudado. E ela já não tinha o mesmo viço." 

O desencanto de Brás Cubas está refletido em sua afirmação: "Não tive filhos.Não transmiti a ninguém um legado de miséria." 

(Recomendo ver a comédia dramática para todas as idades - uma obra encantadora! - de André Klotzel, premiada no Festival de Gramado, em 1988, pelo júri oficial e pelo voto popular: "Marvada Carne", com Fernanda Torres. Filme realista sobre nossos problemas sócio-econômicos, com roteiro de estilo alegre, gracioso e às vezes caricatural, que destaca a importância de nosso folclore na vida dos habitantes de vilas e cidades do interior.) 

Theresa Catharina de Góes Campos é jornalista, escritora e professora universitária

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