Minority Report - A Nova Lei

 Adaptado de um dos contos do elogiado escritor inglês de ficção científica Philip K. Dick,"Minority Report - A Nova Lei "(Minority Report -EUA,2002 - scope-145 min.- dolby- technicolor), de Steven Spielberg, é protagonizado por Tom Cruise, acompanhado no elenco por Colin Farrell e Max von Sydow (este, um dos intérpretes principais dos filmes de Ingmar Bergman).

"Às vezes, para encontrar a luz, você precisa enfrentar a escuridão."

 

O clima do filme indica, desde o início, as suas origens, reveladas pelo cinema nos seminais "Blade Runner - o Caçador de Andróides" e "O Vingador do Futuro", que divulgaram as concepções futuristas de Philip K.Dick (1928-1982), uma visão de "progresso tecnológico" provocador de implicações perturbadoras na área humanística, espiritualista.

"O futuro é bem mais interessante que o passado."

Segundo afirmou Spielberg em várias entrevistas, "Minority Report" faz referência à política de segurança do governo Bush, sobretudo quanto ao trabalho de "mapeamento do paradeiro de terroristas".

Em 2054, uma organização de segurança estatal, a Pré-Crime, seria capaz de identificar pessoas antes que elas cometessem os crimes, isto é, seriam presas, para proteção prévia da sociedade, o que impediria suas ações criminosas.

Três sensitivos com poderes premonitórios permitem que os avanços tecnológicos traduzam as suas visões, exibindo e gravando os seus temores,participando, assim, de projeto experimental que desperta controvérsias políticas.

"Quer dizer que eu prendi gente inocente?"

No gênero ficção científica policial para adultos, com muita ação, violência,efeitos especiais e clima onipresente de suspense, "Minority Report - A Nova Lei" inicia-se com cenas já assustadoras, que eu até classificaria, bem subjetivamente, de "feias" e de mau gosto porque bastante agressivas.O roteiro tem momentos repetitivos; às vezes, parece pretensioso.Entretanto, o tema principal merece, de fato, nossa atenção: essa possibilidade do futuro ser previsto, levando as autoridades a punirem os culpados quando ainda são inocentes (pois não cometeram os crimes). Os envolvidos no programa "Pré-Crime" não duvidam de sua eficácia...eis o perigo, enfim, a sua maior falha seria exatamente tal sensação de certeza à toda prova...

"Os pais olham os filhos como queriam que eles fossem, e não, como são."

Os erros dos sistemas - que atingem inocentes - podem ser dolorosamente visualizados somente quando nós os sentimos na própria pele. Para julgar a eficiência desse programa de segurança seria preciso um inocente ...perseguido a priori como culpado.

Entre os temas de " Minority Report",destaco, ainda, a importância da memória humana.

"Remexer no passado pode complicar sua vida." (...)

"Agora, sua dor está fazendo mal a nós dois."  (...)

" - Não fuja!

- Todos fogem."

Barulhento, com muitas lutas e perseguições, o filme expõe tragédias pessoais e familiares dos personagens. São acontecimentos que conhecemos por meio de noticiários ou vivência própria, entre nossos amigos, familiares ou conhecidos. Todos nós experimentamos perdas - todas dolorosas - e gostaríamos de tê-las evitado. São traumas que carregamos ou escondemos. Ou sofrimentos visíveis para os de nossa convivência. Na maioria das vezes, demoramos a superá-los...para continuar a viver. Não se esquece, mas aprendemos a vencer o desespero.

"Estou cansada do futuro."

Com autorização, atemorizantes "aranhas" invasoras de privacidade dos cidadãos perseguem os acusados de crimes futuros, invadindo lares e aterrorizando crianças e adultos.

Cercados de máquinas, equipamentos e dispositivos, Witwer (Colin Farrell) e Anderton (Tom Cruise)têm seu momento de confidências:

"Eu sei o que é perder uma pessoa querida. Meu pai morreu numa igreja em Dublin. Mas nada se compara à dor de perder um filho, como aconteceu com você."

Posteriormente, Witwer pergunta a Lara, o motivo de seu divórcio. A causa da separação teria sido o fato de Anderton usar drogas?

"- Não.Foi porque, toda vez que eu olhava para ele, eu via meu filho. Toda vez que eu me aproximava de meu marido, eu sentia o cheiro de meu filho."

A sensitiva Agatha tem mais talento que os gêmeos. Ela cuida deles. Os três precisam de paz e tranquilidade...exatamente as condições que não lhes dão.

Nas cenas do shopping center (momentos de grande tensão), o contraponto é obtido com a melodia (só instrumental) " Moon River".

A consciência da responsável Agatha está resumida no seu apelo angustiado:

"Você pode escolher. Você tem escolha."

Na residência de John Anderton, ela percebe o sentimento maior que ali se esconde, mas por ela é pressentido, quase de imediato:

"Há muito amor nesta casa."

Agatha conhece a "imortalidade" das pessoas queridas. E proclama: "O morto não morre."

Anderton expressa o seu desejo mais profundo: "Eu o queria tanto de volta", referindo-se ao filho Sean, desaparecido e assassinado.

Ele vai dizer ao diretor do " Pré-Crime", Lamar Burgess (interpretado por Max von Sidow):

"Agora que você sabe o seu futuro, você tem uma escolha, como eu tive. Qual vai ser a sua escolha, Lamar?"

Os destaques técnicos do filme (cuja trilha sonora inclui " Jesus, Alegria dos Homens", de Bach; além de emocionar na apresentação dos créditos finais): abundante em efeitos especiais, robôs, dublês e a fotografia enriquecida com as tomadas realizadas por  sistema de câmera girosférica.

Seu valor para a sociedade fundamenta-se nos questionamentos sobre a validade, ética e segurança de programas que desrespeitam a pessoa humana sob o pretexto de "protegerem" a comunidade. Importa-nos, sobretudo, encontrar uma resposta capaz de cicatrizar as feridas daqueles que sobrevivem à perda de entes queridos.

A família tem esse potencial de esperança. Porque o seu elemento básico está no amor, capaz de gerar um futuro que se acredita melhor, apesar das circunstâncias mais difíceis.

(Obs. Aconselho leituras comparativas: meu comentário sobre o filme "Blade Runner - o Caçador de Andróides";os livros "1984" e "A Revolução dos Bichos" (The Animal Farm), ambos de George Orwell; e as obras de Aldous Huxley, sobretudo "Admirável Mundo Novo".)

Theresa Catharina de Góes Campos