"Nelson
Freire é um dos mais brilhantes pianistas de todos os tempos." (Time
Magazine)
Segundo
o Estado de S. Paulo, " Ele é um artista inspirado, que coloca sua
fabulosa técnica a serviço de uma sensibilidade peculiar e requintada" .
Unanimidade
internacional como pianista, o artista é homenageado com este documentário -
"Nelson Freire" (Brasil, 2003 - 102 min.- cor- 35mm -dolby digital),
que o diretor João Moreira Salles, de 41 anos (também co-editor e
co-roteirista), afirma, acertadamente, tratar-se de uma obra a ser apreciada
"com os olhos e os ouvidos".
Na
época do lançamento do filme, algumas sessões, em São Paulo, foram
comentadas pelo pianista e compositor Benjamim Taubkin.
O
folheto de divulgação do documentário de João Moreira Salles destaca o fato
de Nelson Freire ser admirado incondicionalmente por seus pares, explicando:
"
Grava pouco e por isso sua extraordinária arte é menos conhecida do que
merece. Assim como outros grandes músicos, Nelson apostou toda a sua carreira
na espontaneidade de recitais e concertos.
(...)sempre
experimenta o piano com um dedilhado rapidíssimo. Enquanto espera o momento de
entrar no palco, anda em silêncio de um lado para o outro, concentrado. Quando
volta ao camarim depois de tocar, precisa tomar água. Terminado o concerto,
cumpre o ritual dos cumprimentos.
NELSON
FREIRE mostra também um pouco da longa amizade com Martha Argerich. Na casa da
pianista em Bruxelas há um documento raro: Nelson e Martha, longe dos palcos,
recolhidos numa intimidade descontraída. Qualquer música que façam é
maravilhosa, e no entanto parece que brincam de tocar.
(...)
Nelson tocando o Segundo Concerto de Brahms no Municipal do Rio, tocando o mesmo
concerto no Sul da França com a Filarmônica de São Petersburgo, tocando
Rachmaninoff a quatro mãos e a dois pianos com Martha Argerich, tocando a
Fantasia de Schumann em duas ocasiões diferentes, tocando Bach, Chopin,
Villa-Lobos e Gluck."
O
diretor João Moreira Salles, que se confessou atraído pelo recato, a retidão
moral, a dedicação ao ofício de seu personagem, enfatiza que Nelson
Freire não se expressa por pontos finais, mas " fala por reticências,
pausas, olhares e silêncios."
Assistir
a um dos seus concertos seria uma
"
pequena aula de estética: não há nada que seja desnecessário, não tem uma
careta, um gesto excessivo de mão, um golpe a mais, um esforço
desmesurado."
O
roteiro registra os antecedentes de sua carreira, a vida em família e os
eventos que marcaram a sua biografia, desde a infância à maturidade. Nasceu em
Boa Esperança, Minas Gerais, em 1944. Foi menino-prodígio, no interior de seu
estado, apesar dos sérios problemas de saúde que muito preocuparam seus pais,
quando Nelson era um bebê frágil, cuja existência parecia não ter futuro.
João
Moreira Salles não hesita em afirmar que " o amor é a bússola do Nelson.
Se não há uma relação afetiva, ele não se comunica com o mundo. O desafio
intelectual não o interessa; ele só vai tocar uma determinada partitura porque
a música o arrebata."
Aos
quatro anos de idade, tocou a Sonata de Mozart em A maior. Aos cinco anos,
apresentou-se em público pela primeira vez. Em 1957, com apenas 13 anos,
participou do Concurso Internacional de Piano, no Rio de Janeiro, interpretando
o Concerto do Imperador, de Beethoven, numa performance que lhe valeu a obtenção
de uma bolsa de estudos com a qual pode continuar seus estudos em Viena, com
Bruno Seidlhofer.
Sete
anos mais tarde, Nelson Freire ganhou a Medalha Dinu Lipatti e o primeiro prêmio
no Concurso Internacional Vienna da Motta, em Lisboa.
Apresentou-se
como solista de orquestras famosas, como as de Berlim, Londres, Israel, Viena,
Amsterdam e Rotterdam.
Sua
primeira vez nos EUA foi em 1970, quando tocou o Concerto n. 4 de Rachmaninoff,
com a Filarmônica de Nova York, cidade onde regularmente Nelson Freire se
apresenta, assim como em Chicago, Cleveland, Los Angeles e Denver.
"Pianista
dos pianistas", unanimidade internacional, Nelson Freire também dá
recitais e concertos a dois, principalmente com Martha Argerich, com quem gravou
o Carnaval dos Animais, de Saint-Saens. E, ainda, com Gidon Kremer e Mish
Maisky.
Martha
era uma jovem de dezenove anos, quando conheceu Nelson, com 11 anos. Ele
confirma que, desde então, nunca mais se separaram...
"Um
dos maiores pianistas do nosso tempo." ( Jornal do Brasil)
Filmado
no Brasil ( Rio de Janeiro e São Paulo ), na França, Bélgica e Rússia, o
documentário de João Moreira Salles acompanha a rotina de Nelson Freire em
suas apresentações, "desde o primeiro contato com o piano em que vai
tocar até a recepção dos admiradores, no camarim. Uma música
extraordinariamente bela pontua o filme: Nelson toca Brahms, Schumann,
Tchaikovsky, Chopin, Bach, Gluck, Villa-Lobos, e interpreta Rachmaninoff a
quatro mãos com Martha Argerich."
Há
momentos de intimidade e descontração, confidências de emoções e preferências.
Recordações e homenagens, como a que Nelson Freire presta, com admiração,
"à maior pianista do mundo, a brasileira Guiomar Novaes", por quem se
declara apaixonado " desde pequenino".
Outra
paixão declarada: a professora Nise Obino. " Ela não está mais aqui, mas
não se passa um dia em que eu não fale com ela."
O
concertista é tomado de intensa emoção, inúmeras vezes, quando chora,
manifestando seus mais íntimos sentimentos. Mas presenciamos, igualmente,
muitos risos, além do registro de um certo nervosismo, nos dias de concertos.
"É
possível encontrar três ou quatro pianistas tão excepcionais quanto Nelson
Freire, mas ninguém encontrará um melhor." (Le Monde)
O
roteiro mostra fotos de arquivo pessoal e documentos familiares, como a carta de
seu pai, explicitamente a ser utilizada na biografia do filho famoso, contando
as razões da mudança para o Rio de Janeiro. Uma decisão dolorosa, mas tomada
para o bem de Nelson Freire, para que pudesse aperfeiçoar o seu talento
natural. O pai entregou o destino dele "nas mãos de Deus".
Sobre
o documentário, escreveu Irineu Franco Perpetuo:
"Nelson
Freire" é uma declaração de amor de João Moreira Salles pelo mais
badalado pianista brasileiro da atualidade, e talvez seja preciso compartilhar
um pouco desse afeto para conseguir gostar do filme.
Em
vez de um documentário linear, explicando didaticamente quem é Nelson Freire e
por que ele ocupa posição de destaque no cenário internacional do piano, o
cineasta optou por um mosaico de 31 episódios, sem ordem cronológica,
desvendando algo da reservada rotina e do cotidiano de um dos mais tímidos
cidadãos deste planeta. Embora a nossa idéia dele seja bastante diferente,
ouvindo-o tocar , por exemplo, a " Polonaise Heróica", de Chopin.
Em
um ou outro momento do filme, talvez os leigos fiquem " boiando " em
meio a tanto som e tão pouca fúria; por outro lado, quem conhece Freire de
perto sabe o quão fiel foi o retrato poético dele pintado por Salles. Seus fãs
vão adorar, especialmente pelas aparições da mítica pianista argentina
Martha Argerich e pelos ensaios com a Filarmônica de São Petersburgo
(...)" , ocasião em que confessou ao Maestro estar nervoso, por ser a sua
primeira vez na Rússia, e para tocar, nesse país, Rachmaninoff!
Opinando
contra o pianista se colocar acima da música, Nelson Freire demonstrou-se contrário
ao sistema comercial de criação de estrelas, ao mesmo tempo em que disse ser
" louco por cinema", admirador dos filmes das décadas de 40 e 50 e fã
entusiasmado de Rita Hayworth, mostrando-se encantado, vendo-a dançar na tela,
com Fred Astaire.
E
ainda: "Tenho uma " inveja" de quem sabe tocar jazz,
improvisar...(...)tenho fascinação por Errol Garner - nunca vi ninguém tocar
com tanto prazer, com tanta alegria! Os pianistas clássicos tinham essa
alegria. A alegria de Rubinstein, Guiomar Novaes, Martha Guerich..."
Ele
nos apresenta à sua cadelinha, gracejando: " A Danuza quer tocar a quatro
mãos..." E nos brinda com "Alma Brasileira", de Villa-Lobos,
depois que mandou a cadelinha para "a platéia". Parecendo
"emocionadíssima" , Danuza fica ouvindo, atenta... O que não faz a mágica
dos artistas!
Antes
de um concerto beneficente, Nelson Freire está nervoso no ensaio porque,
segundo ele: "Este piano tem antipatia por mim. Ele não gosta de mim! Ah,
meu Deus! "e sai do palco, tentando se acalmar.
Ao
limpar as teclas de seu piano, comparando o seu "método de limpeza"
ao de Martha Guerich, termina se desculpando:" – Perfeito, só Deus!
"
O
"filme sobre um homem e sua música", na definição do diretor é
" um alimento para a alma".
"Nelson Freire" foi agraciado com o prêmio Margarida de Prata - 2003, concedido pela CNBB - Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, que também premiou "Paulinho da Viola - Meu Tempo é Hoje", de Izabel Jaguaribe e "Os Arturos", de Thereza Jessouroum.
Criada na década de 60, a premiação visa ressaltar, no cinema brasileiro, as obras que procuram apresentar os valores humanos éticos e espirituais, além de ampliar a consciência crítica e artística do público.
Tem
como destaques: a produção, direção, o roteiro, a fotografia ( de Toca
Seabra) e trilha sonora; a apresentação dos créditos iniciais, quando
acompanhamos o sucesso de Nelson Freire em São Petersburgo, repetidamente
chamado à cena para aplausos do público, de pé; a sua interpretação da
Tocata de Camargo Guarnieri, nos créditos finais (o pianista nos explica que
foi atendendo a pedidos...).
Estávamos
tão felizes! Intimamente repetindo as palavras dos que lhe diziam, ao final de
um concerto:
"Foi
muito lindo!" "Obrigado, muito obrigado!"
Compartilhávamos
o entusiasmo dos fãs que conseguiram o seu autógrafo, concedido pelo artista
com tanta simpatia e cordialidade! Que pena! O filme terminou...
Theresa
Catharina de Góes Campos
Brasília, 19 de setembro de 2003
Olá,
Theresa. Muito obrigada por ter me enviado seu excelente comentário sobre o filme "Nelson
Freire". Imprimi e coloquei na entrada do cinema, no painel com o cartaz do
filme. Um abração da Telma.
(Telma Aguilar é Gerente do Cine Dois Candangos, da Universidade de Brasília.)
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