Premiado com o Margarida de Prata 2003, outorgado pela CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil , o documentário “ Paulinho da Viola – Meu tempo é hoje” (Brasil, 2002 – cor – 35 mm –Dolby - 83 min.), de Izabel Jaguaribe, tem argumento e entrevistas de Zuenir Ventura, escritor e jornalista ( de 1963 a 1965, ele foi meu professor de Jornalismo – Técnicas de Redação, na Universidade do Brasil, hoje, Universidade Federal do RJ).
"O filme mostra a trajetória do cantor, suas influências, seus mestre e amigos. Em paralelo revela sua rotina discreta e muito peculiar. Há encontros musicais, com Marina Lima, Elton Medeiros, Zeca Pagodinho, Marisa Monte, a Velha Guarda da Portela e outros.”
Paulinho da Viola, na intimidade, revela as suas atividades de marceneiro amador, que lhe proporciona relaxamento, numa espécie de terapia “ para as tensões do próprio ofício de músico. Se eu não fosse músico, seria marceneiro.”
Sem hesitação, cita as “duas músicas emblemáticas: Carinhoso ( de 1917), de Pixinguinha e Asa Branca, de Luiz Gonzaga.”
São destaques no documentário: direção, roteiro, fotografia, montagem, trilha sonora e as locações diversas. Um painel da música brasileira.
“O instrumento (de) que eu mais gosto é o violão – tem mais recursos, mas eu também gosto do cavaquinho.”
A família de Paulinho da Viola – presente no filme, dando vários depoimentos, como na rotina de sua vida, sente-se à vontade para recordar momentos especiais. Seus pais, a esposa e os filhos conhecem o músico nos detalhes de sua personalidade, na regularidade de suas atitudes e atividades.
Confirmando a dificuldade dos pais em “vigiar” com eficiência os filhos menores, Paulinho diz:
“A gente olha a criança...olha e a criança desaparece, não está mais lá!“
Quando está hospedado em hotéis, ele quer fazer a manutenção do apartamento – revelam a esposa e os filhos de Paulinho da Viola. Ele liga para a recepção, fala que tudo está perfeito, mas precisa de um alicate... Não quer que mandem ninguém ...ele mesmo quer resolver o problema.
“o que importa é o que foi perdido, é ter guardado o seu sorriso.”
Filme simpático, agradável de se ver, aliás, tão simpático como Paulinho da Viola. Ele toca e canta com tanto sentimento, com o coração e muita personalidade. Um encanto simples, um charme discreto, autêntico. Seja tocando sozinho ou em grupo, transmite um gosto genuíno pela música. Valoriza a amizade, o convívio familiar, social e profissional. A alegria está presente nas refeições, nas partidas de sinuca, no seu lento trabalho de “restauração” de carros antigos.
“Ah, que conflito: roubaram o cabrito de seu Benedito “ (numa festa em Xerém, Rio de Janeiro).
“...provei do famoso feijão da Vicentina/ só quem é do pagode é que sabe que a coisa é divina...” (“ No Pagode do Vavá “ – Paulinho da Viola)
A cena dos três tocando juntos: o pai de Paulinho, ele e o filho...os três fazendo música de forma tão harmoniosa, unindo as três gerações, como eles mesmos afirmam.
“Foi um rio que passou na minha vida e meu coração se deixou levar!” ( de Paulinho da Viola, em homenagem à Portela)
Na celebração de seu aniversário, em família, Paulinho dança com a esposa, Lila Rabello, mostrando intensa alegria. As filhas do músico também dançam com ele. Ali, não faltam risos nem melodias nem ritmos.
“...muito além do mero registro biográfico, capturando um pouco da essência da tradição musical popular enraizada no Rio de Janeiro.
Duas faces de Paulinho da Viola orientam o filme. A primeira, bem mais conhecida, é a figura pública, o compositor e intérprete nascido no bairro do Botafogo, em 1942.
Filho do músico César Faria ( violonista do conjunto Época de Ouro), ele conviveu desde muito cedo com músicos como Pixinguinha e Jacob do Bandolim. Decidiu se profissionalizar nos anos 60 e popularizou-se nos anos 70.
Integrantes da Velha Guarda da Portela ( que exerceu sobre ele influência marcante) participam do filme, bem como artistas de outras gerações e quadrantes............” (Sérgio Rizzo)
E como é lindo se ouvir Marina Lima e Paulinho da Viola interpretando “ Carinhoso”.
Que beleza, a composição “ Rua que sonhei”, de Paulinho da Viola, na voz de Amélia Rabello!
“E muita gente, se vestindo de alegria, faz de conta que a tristeza já passou...”
Na tela, o roteiro inclui personagens de todas as faixas etárias, embora se possa dizer que há um predomínio da Terceira Idade. Na platéia, vê-se a admiração de todas as idades, com o predomínio dos jovens. E o silêncio...bebendo a música, afagando nosso coração. Emocionados, sensibilizados, esperamos que o filme não termine tão cedo.
Meu tempo é hoje? Na verdade, Paulinho da Viola insere seu passado no presente...e o presente é o futuro! Ele está cercado das três dimensões do tempo – muito mais que hoje! O ontem e o amanhã entrelaçados ao hoje.
“Noel Rosa tinha razão – o samba não é da favela, nem da cidade – vem do coração.”
Para nossa tristeza, o filme vai terminar...com Paulinho da Viola em poses diversas, sempre sorridente. Pouco antes, afirmou:
“Meu tempo é hoje. Eu não vivo no passado. O passado vive em mim.”
(Segundo o crítico Sérgio Rizzo, uma postura pessoal, também princípio básico da obra de Paulinho da Viola.)
Com aquelas palavras, confirmando o título do filme, encerra-se o documentário sobre o músico talentoso, uma pessoa realizada como ser humano, fazendo da vida uma oportunidade única para compor e cantar com sensibilidade criativa.
A platéia aplaude! Que entusiasmo! Mas como poderia ser diferente?
Theresa Catharina de Góes Campos
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