Theresa Catharina de Góes Campos

  O TIGRE E O DRAGÃO (2 comentários)

O Tigre e o Dragão

O Tigre e o Dragão (Crouching Tiger, Hidden Dragon, EUA, 2000, 120min.). Direção de Ang Lee. Com Chow Yun-Fat, Michelle Yeoh, Chang Chen e Zhang Zi Yi.

Ver e rever uma obra-prima como " O Tigre e o Dragão" de Ang Lee é uma experiência emocionante. Vencedor de três Oscar: Melhor Filme Estrangeiro, Fotografia e Trilha Sonora.

Pouco antes, já tinha sido premiado com o Globo de Ouro de "Melhor Filme Estrangeiro", de acordo com a votação dos jornalistas estrangeiros, nos EUA.

Nos principais papéis, os atores: Chow Yun-Fat, Michelle Yeoh, Zhang Ziyi e Chang Chen.

O filme tem espiritualidade, ação, histórias de amor, lendas da cultura oriental e violência. Inspira-se em romance épico de cinco volumes, escrito por Wang Du Lu, fazendo uma reconstituição da China, lírica e fiel, no início do século XIX. A obra foi publicada em quatro volumes, no início do século XX, época em que as mudanças sociais, determinadas com severidade e rapidez, fizeram com que o povo chinês almejasse a volta dos valores do taoísmo. Surgiu, então, um interesse crescente por um gênero literário popular, o wuxia - narrativa de aventuras com heróis e heroínas das artes marciais, reafirmando a simplicidade dos tempos antigos.

A coreografia das lutas marciais (kung fu), a beleza da fotografia, da direção de arte e a execução da trilha sonora pela Orquestra Sinfônica de Shangai são destaques. Como também, a produção, direção, interpretação, os figurinos, a maquiagem e os adereços.

Comoveram-me, as palavras inesquecíveis de "O Tigre e o Dragão": "O que tocamos não tem permanência". (...) "Um coração determinado faz os desejos se realizarem". (...) "Prefiro ser um fantasma, vagando a seu lado, a entrar no céu sem você. Por causa de seu amor, eu nunca serei um espírito solitário".

Theresa Catharina de Góes Campos é jornalista, escritora e professora universitária


Laudemir Guedes Fragoso
Diretor de Conteúdo do LOL
http://lol.pro.br
Conhecer o diferente é uma experiência prazerosa e enriquecedora. O que pode nos assustar é que esse novo, para ser entendido, cobra de nós um esforço para que nos libertemos de idéias pré-concebidas há muito fixas em nossa cabeça. Quando conseguimos, o salto é estupendo. Esse aspecto pode ser aplicado não só à história, mas ao efeito que causa sobre nós o filme O Tigre e o Dragão.

A obra do diretor Ang Lee é dotada de uma fotografia que foge ao comum: cada cena é praticamente um quadro digno das melhores galerias de arte. Seu ritmo é completamente outro: a ação de verdade, com lutas dotadas da mesma coreografia de Matrix, leva 15 minutos para acontecer. Mas o mais inusitado – e que escandaliza ou incomoda alguns – são os vôos realizados pelas personagens.

Na realidade, não se trata de vôo. Expressando todo o caldo cultural oriental, o que ocorre é a anulação do efeito do peso, tornando os lutadores mais leves, possibilitando-lhes saltos por demais ousados. Estamos falando de um dos trunfos do modo de vida asiático: o desapego.
É uma lição difícil de ser seguida, não só na nossa sociedade, extremamente possessiva material e sentimentalmente, mas, a avaliar pelo filme, na civilização oriental. Há uma tendência no homem a liberar explosivamente todos os seus impulsos, instintos. Mas isso seria involuir e não encontrar o equilíbrio e a felicidade. Dizem que a civilização começou no momento em que o ser humano passou a se controlar, a, digamos, castrar-se. Resultado: vivemos sob o conflito da pressão interna de instintos que se chocam com a pressão externa da busca de desapego e de equilíbrio. É o que fica eficientemente representado no gesto de cumprimento wudan (arte marcial presente no filme): punho fechado em forma de ataque (força) segurado por uma mão espalmada (equilíbrio). É uma variante do título original do filme: “Crouching Tiger (tigre em posição de bote) and the Hidden Dragon (e o dragão oculto).

Todo esse esforço é percebido em vários momentos da história, como na relação amorosa de Li Mu Bai e Shu Lin, que não se concretiza, nem mesmo se verbaliza, em nome de todo um código rígido de ética. Ou mesmo na história de vida de Jen, que idolatra o estilo dos guerreiro wudan, mas que é forçada a cumprir um casamento de altos interesses políticos. Ou o próprio Li Mu Bai, que abre mão de sua poderosa, simbólica e poderosa espada, a Destino Verde, para pôr fim a uma existência inquieta de luta e agressividade, quase chegando a desistir de sua grande missão: vingar a morte de seu mestre, assassinado por Jade Fox, que estava sequiosa por se apoderar dos segredos da arte wudan. Tanto Jade quanto Jen, aliás, expressam o desespero da condição feminina em meio a regras tão sufocantes.

Enfim, O Tigre e o Dragão é não apenas uma mistura dos gêneros policial, amoroso e marcial. É um olhar sobre nossa triste e difícil condição, desejosos que somos por evolução, felicidade e equilíbrio, mas esmagados por pressões sociais e instintivas.

Laudemir Guedes Fragoso
Diretor de Conteúdo do LOL
http://lol.pro.br

 

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